O Planalto de Piratininga, conjunto de campos de altitude alagáveis onde foi fundada a cidade de São Paulo em 1554, tem um nome de origem curiosa – Piratininga, na língua dos índios tupis-guaranis, significa literalmente “lugar onde se encontra o peixe seco”. Há uma razão muito simples para esse nome: o Rio Tietê, principal curso d’água do Planalto, transbordava na época das chuvas e alagava uma vasta extensão de campos e várzeas; quando o Rio voltava ao nível normal imensos cardumes de peixes ficavam presos em poças de água que secavam lentamente – quando completamente secas abrigavam grandes estoques de peixe seco, que eram recolhidos pelos índios que se fartavam com a iguaria. Antes de ser São Paulo, Piratininga já era sinônimo de enchente.
Contrariando os avisos dos índios, da história e da geologia, aterramos as várzeas, retificamos o curso dos rios e construímos no Planalto de Piratininga a maior cidade do Brasil, que hoje conta com uma população de aproximadamente 11 milhões de habitantes. Reclamar de enchentes na cidade de São Paulo é, literalmente, chover no molhado. É claro que a história da cidade é mais complexa do que esta descrição – os campos alagáveis foram fundamentais na produção de alimentos, que desde os primeiros anos da colonização eram exportados para as outras Capitanias do Brasil, com destaque para o trigo, feijão e marmelada.
Viver em São Paulo, para muita gente, é enfrentar enchentes ano após ano. Também é fato que, desde longa data, a cidade está sempre a buscar mecanismos para o controle das gigantescas enchentes anuais. Uma das grandes soluções encontradas foi o bombeamento das águas das cheias na direção da Represa Billings.
A Represa Billings, importante manancial de águas da Região Metropolitana de São Paulo, foi construída na década de 1920 pela empresa canadense Light & Power com o objetivo de gerar energia elétrica na Usina Henry Borden em Cubatão. Para reforçar o fluxo de águas para a Represa Billings a Light realizou obras no Rio Pinheiros, principal afluente do Rio Tietê na região do Planalto de Piratininga, que permitiu a reversão do curso do Rio a partir de 1950 na direção da Represa, através de duas usinas elevatórias (vide a foto deste post). Esse procedimento assegurava o nível mínimo de água na Represa nas épocas de estiagem, garantindo a contínua geração de energia elétrica na usina Henry Borden. Por outro lado, nos meses de chuva, a retirada de água das bacias dos rios Tietê e Pinheiros minimizava os efeitos das enchentes na capital paulista. Essa verdadeira “solução mágica” funcionou por várias décadas e evitou que enchentes mais graves assolassem a cidade.
Essa solução apresentava um custo ambiental que, gradativamente, começou a cobrar o seu preço: toda a carga de poluentes (especialmente esgotos domésticos e industriais) lançados nas bacias hidrográficas dos Rios Tietê e Pinheiros eram transferidas pelo sistema de reversão para a bacia hidrográfica da Represa Billings, que a essa altura, além de servir como geradora de energia elétrica, também era a responsável pelo abastecimento de água na Região conhecida como ABC (iniciais dos municípios de Santo André, São Bernardo e São Caetano do Sul). Os protestos dos ambientalistas e moradores foram crescendo até que, com a promulgação da nova Constituição Paulista em 1992, foi suspenso o bombeamento do Rio Pinheiros em direção à represa Billings, exceto em casos de emergência quando há risco iminente de enchente.
Observem que uma solução engenharia para o controle das enchentes de grande refinamento técnico foi derrubada pela gestão inadequada das águas dos Rios Tietê e Pinheiros (há dezenas de outros rios menores nesta bacia hidrográfica), que transformadas em esgotos foram proibidas de serem lançadas na Represa Billings.
Esse exemplo nos mostra o quão importante é a gestão integrada dos recursos hídricos – a água das enchentes que tanto transtorno traz para o dia a dia de muita gente, pode ser armazenada em uma represa para atender o abastecimento futuro de uma cidade. Só não vale repetir o que se fez em São Paulo e contaminar essa preciosa água com esgotos da cidade.
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[…] que foi usado para justificar a construção desse complexo energético foi o auxílio no controle das cheias anuais do rio Tietê, responsáveis por enchentes e alagamentos catastróficos nas partes baixas de São Paulo. No […]
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[…] a má gestão desses recursos está na base de um dos maiores problemas da região – as fortes enchentes nos períodos das chuvas. Ao longo de várias décadas, sucessivos Governos locais canalizaram […]
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[…] a Região Metropolitana de São Paulo vem sendo assolada por fortíssimas tempestades de verão. Como é de praxe, devido à falta de uma infraestrutura adequada para a drenagem das águas pluviais, diversas […]
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