
O Pantanal Mato-grossense é uma das maiores planícies alagáveis do mundo – em anos de cheias excepcionais, a área alagada se aproxima dos 250 mil km², o que equivale a 3% do território brasileiro ou a uma área equivalente ao Estado de São Paulo.
Esse imenso “território das águas” se estende pelo Sudoeste do Estado de Mato Grosso e Oeste do Mato Grosso do Sul, englobando também áreas no Paraguai e na Bolívia – nesses países é conhecido como El Chaco. Pela sua importância ecológica, a região foi promovida a Patrimônio Natural Mundial e Reserva da Biosfera pela UNESCO – Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura.
Um estudo recente elaborado pelo Projeto MapBiomas, uma iniciativa do Observatório do Clima em parceria com universidades, empresas de tecnologia e ONGs – Organizações Não Governamentais, mostra que o Pantanal Mato-grossense apresentou uma grande recuperação de sua área alagada em 2022, um processo que foi potencializado pelas boas chuvas da atual temporada.
Segundo esse estudo, a área alagada do Pantanal sofreu um incremento de mais de 82 mil hectares em 2022. Esse ótimo resultado veio na sequência de um dos piores resultados da história do bioma – em 2021, o Pantanal Mato-grossense apresentou uma área total alagada de apenas 474 mil hectares, a menor dos últimos 37 anos.
Esses números são bem animadores, lembrando que em 2020, toda a região sofreu com uma fortíssima seca e foi assolada com grandes queimadas. Porém, infelizmente sempre existe um, porém: a área alagada do bioma superou a marca de 1,5 mil hectares em 1985, o que mostra que ainda falta muito para uma recuperação ambiental completa.
As paisagens das terras baixas do Pantanal Mato-grossense estão constantemente mudando, ora se apresentando cobertas por águas, ora secando quase que completamente. As características únicas desse bioma misturam plantas e animais dos grandes biomas brasileiros: Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica, que se adaptaram para o ciclo de vida dessa região.
O território do Pantanal tem altitudes médias da ordem de 100 metros, uma baixíssima declividade, uma alta pluviosidade e centenas de rios e lagos. Todo esse grande volume de águas corre muito lentamente em direção ao Sul, onde existe um verdadeiro afunilamento, conhecido como Fecho dos Morros do Sul.
A velocidade de escoamento no Pantanal é tão baixa que as águas de uma chuva, nas cabeceiras do rio Paraguai, poderão levar mais de quatro meses para atravessar toda a planície alagada. A dinâmica das cheias no Pantanal é bastante similar às enchentes que todos conhecemos nas grandes cidades brasileiras: excesso de águas de chuva e carência de sistemas de escoamento pluvial.
Nesse ambiente todo especial, a vida pulsa intensamente por todos os cantos. Já foram catalogadas mais de 650 espécies de aves, 80 espécies de mamíferos, 50 espécies de répteis e mais de 260 tipos diferentes de peixes.
De acordo com dados do INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o ano de 2021, foi bastante complicado para os grandes biomas brasileiros – foram identificados um total de 59.048 km² de áreas devastadas por incêndios nos seis biomas brasileiros.
Em uma ordem decrescente, o Cerrado foi o bioma mais afetado pelas queimadas – foram 34.478 km² destruídos. Na segunda posição vem a Amazônia, com 8.333 km² de queimadas; a Mata Atlântica com 7.746 km²; a Caatinga com 5.378 km²; o Pantanal Mato-Grossense com 2.095 km² e os Pampas com 1.018 km² de área devastada pelo fogo.
Sem que esqueçamos da gravidade do problema, é sempre bom lembrarmos que o território do Brasil ocupa uma área total de 8,5 milhões de km². Feitas as devidas contas, essa área “destruída pelo fogo” corresponde a 0,7% de nosso território.
Para a imprensa internacional, que afirma que o nosso país está destruindo e queimando a Amazônia, esses números foram apresentados como se fosse o fim do mundo. E há época, se falou muito que o Pantanal Mato-grossense estava caminhando para a destruição total. Os números apresentados por esse novo estudo comprovam que as coisas não são bem assim.
Se qualquer um dos leitores consultar um mapa topográfico da América do Sul vai perceber facilmente que uma grande área entre a Amazônia e a Pampa Argentina é formada por terrenos baixos, com altitudes máximas de pouco mais de 100 metros. Essa grande faixa de terras está espremida entre a Cordilheira dos Andes, a Oeste, e terrenos altos da faixa Leste do Brasil.
Durante o longo processo de formação geológica da América do Sul após a sua separação do Supercontinente de Gondwana há cerca de 160 milhões, esses terrenos baixos já ficaram semi submersos no oceano, já acomodaram um grande lago na Amazônia (que depois se transformaria na calha do rio Amazonas) e também um mar interior na região onde encontramos hoje o Pantanal Mato-grossense e os diversos Chacos da Bolívia, Paraguai e Argentina Esse último evento ocorreu logo após o soerguimento da Cordilheira dos Andes há cerca de 40 milhões de anos.
Ao longo dos últimos milênios, acompanhando as mudanças climáticas naturais, a extensão dos terrenos alagados vem aumentando e diminuindo, sistematicamente. Em décadas mais recentes, desmatamentos para a criação de áreas agrícolas e pastagens para a criação de animais também tem criado importantes impactos no Pantanal Mato-grossense.
Entretanto, qualquer que seja a análise feita, esse importante bioma está muito longe da eminente destruição como afirmam muitos “especialistas”. Aliás, de acordo com informações da EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias, o Pantanal Mato-grossense é o bioma brasileiro mais preservado, com mais de 84% de sua área original ainda intacta, um percentual muito próximo da área preservada da Amazônia brasileira.
Problemas ambientais existem aos montes em todo o Brasil, muitos deles bem mais graves e urgentes. Os números apresentados no Pantanal Mato-grossense são muito bons e precisamos lutar para os mantermos sempre assim.
Já em outros biomas, como é o caso da Mata Atlântica, a situação é bem mais complicada – mais de 80% da cobertura florestal original já desapareceu e a pressão ambiental continua enorme. Muito pior – a grande mídia internacional não costuma falar nada sobre isso.
É bom que olhemos com carinho para essa questão.
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