Ao longo de uma sequência de mais de vinte postagens, foram apresentados diversos exemplos de problemas antrópicos e naturais que estão destruindo e/ou comprometendo importantes corpos d’água em diferentes partes do mundo: falamos do Mar de Aral na Ásia Central, do Mar Morto no Oriente Médio, do Lago Chade e do Delta do Rio Okavango no continente Africano, dos Lagos Poopó e Titicaca na América do Sul e, finalmente, do Rio Colorado e dos tristes desdobramentos de uma fortíssima seca em toda a sua bacia hidrográfica, que vai do Estado americano do Wyoming ao Golfo da Califórnia no México. Como fontes destes problemas podemos citar as alterações nos ciclos das chuvas e o derretimento de glaciares nas cadeias montanhosas de todo o mundo provocados pelos efeitos do aquecimento global, a superexploração das fontes de água em sistemas de irrigação e abastecimento de cidades, obras de engenharia que provocaram mudanças na dinâmica das águas em bacias hidrográficas, desmatamentos em áreas de mananciais e de recarga de aquíferos para exploração de madeiras, formação de pastos e para a implantação e desenvolvimento de atividades agrícolas, ou ainda implantação de atividades de mineração, entre outras agressões menores.
É hora de falarmos dos problemas das fontes de água do território brasileiro que, dentro de um conjunto específico de problemas, também mostram sinais de esgotamento e de stress, ameaçando o abastecimento de milhões de pessoas. Para se demonstrar o que acontece aqui no lado de baixo do Equador, vamos apresentar uma sequência de postagens sobre uma das mais importantes bacias hidrográficas do Brasil – a do Rio São Francisco ou, simplesmente, Velho Chico para os íntimos. Muitos dos problemas mostrados nos diversos posts anteriores poderão ser reconhecidos ao longo dos 2.830 quilômetros do Velho Chico; já os problemas do Rio Colorado poderão quase que ser espelhados no Rio São Francisco tamanha a similaridade das duas bacias hidrográficas.
O Rio São Francisco nasce, oficialmente, no município de Medeiros na Serra da Canastra, em Minas Gerais. Outras fontes afirmam que a nascente do rio fica em São Roque de Minas – o ponto exato da nascente de um rio é, em grande parte dos casos, uma convenção geográfica e gera todo o tipo de discussões. Em regiões de serra, especialmente nos domínios do Cerrado, existem inúmeros vertedouros de água ou nascentes nas encostas, que vão se juntando e formando diversos rios importantes do Brasil. Aliás, das 12 grandes bacias hidrográficas brasileiras, 8 tem rios com nascentes nos domínios do Bioma Cerrado, chamado por muitos de “berço das águas” – trataremos disto em outro post.
Bem à moda mineira, o Rio São Francisco desce discretamente as encostas da Serra da Canastra recebendo contribuições de inúmeros pequenos cursos de água e, conforme vai ganhando corpo e volume, vira para o Norte, na direção do Estado da Bahia. Apesar de ter apenas 37% da sua bacia hidrográfica em terras mineiras, o Velho Chico recebe 75% de toda as suas águas de rios tributários do Estado de Minas Gerais. Da Serra da Canastra até a sua foz no Oceano Atlântico, será um total de 168 afluentes – 90 na margem direita e 78 na margem esquerda, com destaque para alguns rios importantes como o Rio das Velhas, Abaeté, Paracatu, Jequitai, Rio Verde Grande, Carinhanha, Pajeú, Salitre, Corrente, Pará e Urucuia. No total, as águas da bacia hidrográfica do Rio São Francisco servem 521 municípios em 6 Estados da Federação: Goiás, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas, além do Distrito Federal. Após a conclusão de todas as obras do Sistema de Transposição, as águas do Rio São Francisco que já estão chegando ao Estado da Paraíba, chegarão também aos sofridos sertões do Ceará e do Rio Grande do Norte – apesar de não ser a maior bacia hidrográfica brasileira, posto ocupado com louvor pela bacia Amazônica, o São Francisco tem a mais importante pelo “conjunto da obra”.
Um rio não é apenas um rasgo ou depressão no solo, através da qual as águas drenadas de toda uma região escorrem rumo ao oceano. Rios alimentam e sustentam comunidades inteiras de seres vivos – plantas, animais e pessoas, são fontes de trabalho, renda, transporte e de muitas histórias e lendas. Eles são, simplesmente, as veias que irrigam e mantém a vida em todos os recantos de sua bacia hidrográfica – o Velho Chico, pela imensa população das cidades e regiões que dele dependem, pelo clima e aridez de grande parte das terras que atravessa e também pela sua importância na história e na economia do Brasil, merece destaque entre todos os demais rios brasileiros.
Apesar de tudo isso, o Velho Chico é um dos mais maltratados rios brasileiros, sofrendo de todos os tipos de males: desmatamento de matas ciliares – especialmente a perda das famosas veredas dos contos de Guimarães Rosa, contaminação das suas águas com rejeitos de um sem número de mineradoras, despejo de esgotos in natura e de todos os tipos de resíduos, assoreamento intenso, represamento das águas para geração de eletricidade, além do uso cada vez maior de suas águas para alimentar sistemas de irrigação. Como se não bastasse isso tudo, observa-se nitidamente uma mudança climática que está alterando os padrões de chuva em parte da sua bacia hidrográfica, que recebe cada vez menos água para alimentar um rio cada vez mais explorado – o resultado é um corpo d’água cada vez mais seco e enfraquecido, cada vez mais necessário para o abastecimento e usos na região com menor disponibilidade de recursos hídricos do país.
Vamos tentar mostrar um pouco de tudo isso nos próximos posts.
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[…] distantes da costa. O lendário rio São Francisco, sobre o qual tratamos em uma série de postagens aqui no blog, foi um dos mais importantes, especialmente no chamado Ciclo do Ouro na região das […]
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[…] século, consolidou-se, pouco a pouco, a imagem do São Francisco como o “rio da integração nacional“, que passou a funcionar como uma importante via de comunicação e de transporte entre as […]
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[…] meses de abril e junho de 2017, foi publicado aqui uma série de postagens falando dos problemas do Velho Chico, inclusive fazendo uma comparação com o Rio Colorado, no Sudoeste dos Estados Unidos, um rio […]
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[…] desaparecimento do peixe, que já foi um ícone da gastronomia regional em toda a bacia hidrográfica do Velho Chico, é acima de tudo um alerta da degradação ambiental das águas e da falta de condições para a […]
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[…] entre as mais numerosas aqui do blog e não precisamos ficar repetindo muitas informações. Siga esse link para acessar uma longa série de postagens sobre o rio. Vamos nos concentrar nos problemas do […]
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