ESPECIAL BIOMAS BRASILEIROS: PANTANAL MATO-GROSSENSE 

Pantanal Mato-grossense é uma das maiores planícies alagáveis do mundo e constitui o segundo menor bioma do Brasil. Em anos de cheias excepcionais a área alagada se aproxima dos 250 mil km², o que equivale a 3% do território brasileiro ou a uma área equivalente ao Estado de São Paulo.    

Esse importante bioma se estende pelo Sudoeste do Estado de Mato Grosso e Oeste do Mato Grosso do Sul, englobando também áreas no Paraguai e na Bolívia – nesses países é conhecido como El Chaco.  A UNESCO – Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura, promoveu o Pantanal Mato-grossense a Patrimônio Natural Mundial e Reserva da Biosfera no ano 2000. 

A flora e a fauna do bioma misturam plantas e animais dos grandes biomas brasileiros: Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica, que se adaptaram para o ciclo de vida dessa região. Já foram catalogadas mais de 650 espécies de aves, 80 espécies de mamíferos, 50 espécies de répteis e mais de 260 tipos diferentes de peixes.    

Como vem acontecendo em todos os biomas brasileiros, o Pantanal Mato-grossense também tem seus problemas, felizmente em escala bem menor. De acordo com informações da EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias, o Pantanal Mato-grossense é o bioma brasileiro mais preservado, com mais de 84% de sua área original ainda intacta, um percentual muito próximo da área preservada da Amazônia brasileira.   

As terras alagáveis do Pantanal Mato-grossense integram uma longa faixa de terrenos baixos que se estendem entre a Amazônia e a Pampa argentina, onde as altitudes raramente ultrapassam uma altitude dos 100 metros acima do nível do mar. Essa faixa de terras está espremida entre a Cordilheira dos Andes, a Oeste, e terrenos altos da faixa Leste do Brasil. 

Durante o longo processo de formação geológica da América do Sul após a sua separação do Supercontinente de Gondwana há cerca de 160 milhões, esses terrenos baixos já ficaram semi submersos no oceano, já acomodaram um grande lago na Amazônia (que depois se transformaria na calha do rio Amazonas) e também um mar interior na região onde encontramos hoje o Pantanal Mato-grossense e os diversos Chacos da Bolívia, Paraguai e Argentina Esse último evento ocorreu logo após o soerguimento da Cordilheira dos Andes há cerca de 40 milhões de anos.   

Ao longo dos últimos milênios, acompanhando as mudanças climáticas naturais, a extensão dos terrenos alagados vem aumentando e diminuindo, sistematicamente. Em décadas mais recentes, desmatamentos para a criação de áreas agrícolas e pastagens para a criação de animais também tem criado importantes impactos no Pantanal Mato-grossense. 

Relembrando um pouco das aulas de história do ensino fundamental, toda a região do Pantanal Mato-grossense e dos diversos chacos da América do Sul ficavam dentro do território da Coroa da Espanha segundo o Tratado de Tordesilhas. Assinado em 1494, entre as coroas de Portugal e da Espanha, esse Tratado dividiu os territórios das Américas entre esses dois países. 

Devido às grandes dificuldades de acesso, a região permaneceu relativamente isolada até o final do século XVII, quando passou a ser frequentada por bandeirantes paulistas. A situação mudou drasticamente quando foram descobertas as minas de ouro em Cuiabá nos primeiros anos do século XVIII. 

Assim como aconteceu na região das Geraes, as notícias sobre a descoberta do ouro atraíram um grande número de aventureiros para o Mato Grosso, especialmente na década de 1720. O principal acesso à região era feito por canoas monçoeiras através dos rios Tietê e a fluentes do rio Paraná até atingir os chamados Campos das Vacarias. Depois, essas expedições seguiam pelos rios Emboteteu (Miranda), Paraguai e Cuiabá. 

Com o rápido esgotamento das minas de ouro e devido ao difícil acesso à região, muitos desses aventureiros acabaram indo embora, fatores que contribuíram muito para o isolamento e a preservação do Pantanal Mato-grossense. Para se ter uma ideia das dificuldades de acesso à região, o melhor e mais fácil meio de comunicação era através da navegação a partir do rio da Prata, entre o Uruguai e a Argentina, subindo depois pelos rios Paraná e Paraguai. 

O isolamento da região da região só começaria a mudar no início do século XX com a chegada da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil à cidade de Porto Esperança, no território do atual Estado de Mato Grosso do Sul. As obras foram iniciadas em 1905 na cidade de Bauru, interior do Estado de São Paulo, e concluídas em 1914. Outro marco para a efetiva ocupação da região foi a criação da Companhia de Viação São Paulo – Mato Grosso em 1942. 

Para a grande maioria dos brasileiros, entretanto, o Pantanal Mato-grossense só passaria a ser conhecido na década de 1970, quando inúmeras reportagens de equipes de televisão passaram a dar destaque à caça indiscriminada do jacarés-do-pantanal (Caiman yacare). A espécie foi impiedosamente caçada por coureiros brasileiros, bolivianos e paraguaios entre as décadas de 1970 e 1980, quase levando a espécie para o caminho da extinção. Calcula-se que 5 milhões de jacarés foram mortos ilegalmente ao longo de uma década.   

Para a sorte dos jacarés e crocodilos de todo o mundo, esse tipo de couro saiu de moda no final da década de 1980, o que reduziu imensamente a demanda e, consequentemente, a caça ilegal. Movimentos ambientalistas e de proteção à vida animal começaram a ganhar força em todo o mundo, impondo forte pressão na indústria da moda e lutando bravamente contra o uso de peles de animais no vestuário, o que também ajudou a salvar inúmeras outras espécies que vinham sendo caçadas por causa dos seus couros e peles.   

Essa triste fase da história do bioma, felizmente, contribuiu muito para a sua popularização junto ao grande público, o que acabou ajudando a conscientizar muitos sobre a importância da sua conservação. Diferentemente da Mata Atlântica, que teve a maior parte de sua área devastada ao longo de nossa história. O Pantanal Mato-grossense tem tudo para continuar sendo um paraíso das águas e da vida. 

Publicidade

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s