
A Amazônia é, sem dúvida, o pedaço do território brasileiro mais conhecido no mundo, perdendo talvez para a mítica Ipanema, a praia da cidade do Rio de Janeiro imortalizada na canção de Tom Jobim e Vinícius de Moraes.
Os problemas dessa “fama” já começam por aqui – cerca de 60% da Amazônia fica dentro do território brasileiro; o restante dessa imensa área se divide nos países vizinhos: Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa.
A Amazônia será foco de uma outra postagem dessa série. Ela foi citada aqui por ser repetidamente citada na mídia internacional por sua suposta destruição acelerada por desmatamentos e queimadas, agressões que ameaçam o “pulmão do mundo”. Existem inúmeros problemas sim, mas, a Amazônia não é o pulmão do mundo nem o bioma brasileiro mais ameaçado – esse triste título cabe a Mata Atlântica.
A Mata Atlântica era, originalmente, um grande complexo florestal contínuo que ocupava toda a faixa litorânea da costa brasileira desde o Rio Grande do Sul até o Rio Grande do Norte. Em alguns trechos, a floresta entrava pelo interior do território e chegava a regiões do Norte da Argentina e Oeste do Paraguai. De acordo com as estimativas, a Mata Atlântica ocupava originalmente uma área com cerca de 1,3 milhão de km², o que corresponde a aproximadamente 15% do território brasileiro.
Na Região Sul do País, a Mata Atlântica cobria o terço Norte do Rio Grande do Sul e praticamente todo o território dos Estados de Santa Catarina e Paraná. Na Região Sudeste, o bioma ocupava praticamente todo o território dos Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo, a faixa Leste e Sul de Minas Gerais e cerca de 2/3 do território de São Paulo.
Na Região Nordeste, o bioma se estendia ao longo da faixa litorânea com largura média entre 60 e 80 km nos Estados da Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. Manchas de Mata Atlântica se espalhavam também pelo interior da Bahia, do Ceará e do Piauí.
Na Região Centro-Oeste, a Mata Atlântica ocupava a faixa Sul do Mato Grosso do Sul. Aliás, é importante citar que o nome original do Estado surgiu como uma referência a essa densa floresta, lembrando que a maior parte do antigo território de Mato Grosso é coberto pelo bioma Cerrado. O Sul do Estado de Goiás possuía uma longa faixa dessa floresta.
O bioma ultrapassava as fronteiras do Brasil e chegava até o Leste do Paraguai, onde ocupava uma área de pouco mais de 100 mil km² e, também, o Nordeste da Argentina onde fica a Província de Missiones.
O leitor deve ter observado que os verbos foram usados sempre no tempo passado – a depender da fonte consultada, algo entre 80% e 90% da área original do bioma já desapareceu, dando lugar a campos agrícolas e pastagens para o gado. A Mata Atlântica é, de longe, o mais devastado e ameaçado bioma brasileiro.
Existem várias explicações para essa verdadeira hecatombe ambiental – a principal delas é que toda a colonização e exploração econômica do nosso país se concentrou numa faixa litorânea de, no máximo, 300 km do litoral até meados do século XX. Ou seja – nosso país nasceu e cresceu dentro dos domínios da Mata Atlântica.
A primeira exploração econômica de nossas riquezas naturais, lembrando das aulas do ensino fundamental, foi a exploração do pau-brasil, supostamente a origem do nome do nosso país. De acordo com algumas fontes, foram derrubadas mais de 70 milhões de árvores entre o início do século XVI e meados do século XIX.
O Ciclo do Açúcar, que foi a principal riqueza econômica do país entre os séculos XVI e XVIII, se desenvolveu quase que totalmente dentro dos domínios da Mata Atlântica, principalmente na faixa litorânea entre o Sul da Bahia e o Rio Grande do Norte, além de trechos dos litorais do Espírito Santo, Rio de Janeiro e de São Paulo. Em escala muito menor também em alguns trechos do litoral da Região Norte.
A exceção de uma faixa de mata remanescente no Sul da Bahia, território dos temidos índios botocudos, a produção do açúcar praticamente dizimou a Mata Atlântica no Nordeste. Os imensos coqueirais que hoje encontramos em todo o trecho nordestino do litoral brasileiro ocuparam involuntariamente os antigos domínios da Mata Atlântica na região. O coco, só para lembrar, é originário das regiões do Indo-Pacífico e foi trazido ao Brasil por navios mercantes vindos da Índia.
Na Região Sudeste, a grande floresta sucumbiu diante da mineração em Minas Gerais a partir do século XVIII, e do café a partir do início do século XIX. Começando pela exploração do ouro e depois pela produção de ferro e aço em grandes volumes, a madeira das árvores da Mata Atlântica se transformou no carvão que ardia nos altos-fornos.
Diante do avanço dos cafezais, essa destruição se deu em várias frentes ao longo dos anos. O café é uma planta exigente quanto a temperatura e qualidade dos solos. As terras virgens das matas cediam lugar aos cafezais que, em poucos anos, perdiam a fertilidade, exigindo a abertura de novas áreas de produção.
A cafeicultura teve início no Sul do Espírito Santo, passando depois para o Rio de Janeiro e Leste Minas Gerias. A partir de meados do século XIX, os cafezais entraram pelo Vale do Paraíba, no Leste de São Paulo, e foram gradualmente avançando na direção do Oeste Paulista e Norte do Paraná, aonde chegou perto da virada do século XX.
Ao longo do século XX, a devastação da Mata Atlântica foi mais intensa nos Estados da Região Sul. No ínício, essa devastação foi impulsionada pela exploração da Mata das Araucárias, árvore que produz o valioso pinho, uma madeira que ganhou bastante notoriedade no mercado internacional a partir da I Guerra Mundial. A partir de então, os remanescentes da Mata Atlântica passaram a dar espaço para imensos campos agrícolas para a produção de grãos e pastagens para o gado.
Como resultado dessa contínua e sistemática destruição, a Mata Atlântica se restringe atualmente a um sem número de fragmentos isolados em diferentes regiões do país. Muitos desses fragmentos se encontram em áreas de difícil acesso como na Serra do Mar entre o Paraná e o Rio de Janeiro.
Se o acesso a essas área fosse fácil, a Mata Atlântica já teria sumido do mapa há muito tempo…
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