
Na próxima quarta-feira, dia 21 de dezembro, às 18h48 começa oficialmente o verão no Brasil. A estação mais quente e chuvosa do ano tem início no momento em que ocorre o solstício de verão, evento astronômico que marca o momento em que a inclinação da Terra no Hemisfério Sul atinge a marca de 23,5º na direção do sol, fazendo com que essa parte do planeta receba mais raios solares.
Na Região Centro Sul do país, que engloba parte do Centro-Oeste, a maior parte da Região Sudeste e toda a Região Sul, o verão é o período onde ocorrem as mais fortes chuvas do ano. A temporada de chuvas se estenderá até o mês de março e, como sempre costumamos lembrar aqui em nossas postagens, esse é um período de enchentes e problemas em muitas cidades.
De acordo com as previsões do INMET – Instituto Nacional de Meteorologia, o verão 2022/2023 deverá ter chuvas dentro ou um pouco acima da média nas regiões Norte, Sudeste e Centro-Oeste do país. Na região Sul e em algumas regiões do Centro Sul as chuvas deverão ficar abaixo da média.
Dentro das previsões do INMET, oito estados brasileiros serão mais fortemente afetados pelas chuvas deste verão: Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Sergipe, Santa Catarina e São Paulo. As temperaturas deverão ficar dentro da média em todo o país.
O verão está começando sob influência do fenômeno climático La Niña. Quando esse fenômeno é observado no Oceano Pacífico, as águas superficiais de uma extensa região apresentam uma redução média entre 2 e 3° C na sua temperatura, uma mudança que altera o clima em diferentes partes do mundo.
Aqui no Brasil, La Niña costuma provocar um aumento das chuvas entre os meses de dezembro e fevereiro na Região Nordeste e temperaturas abaixo da média na Região Sudeste. O fenômeno também provoca um aumento do frio na costa Oeste dos Estados Unidos e no Japão, além de aumento das chuvas na costa Oeste da Ásia.
Entre os meses de junho e agosto, a presença de La Niña costuma produzir um inverno mais seco nas regiões Sul e Sudeste do Brasil. Também pode interferir na temperatura da costa Oeste da América do Sul, reduzindo as temperaturas. Na região do Caribe, La Niña provoca uma redução na temperatura e uma aumento das chuvas. No Leste da Ásia se observa um aumento das temperaturas.
A ocorrência do fenômeno La Niña varia muito. Sua frequência ocorre em intervalos de 2 a 7 anos, com uma duração de 9 a 12 meses – em alguns casos, pode ter uma duração de até 2 anos. Esse será o terceiro ano consecutivo de La Niña, sinal que as mudanças climáticas globais estão interferindo na ocorrência desse fenômeno.
Entretanto, com ou sem La Niña, a chegada da temporada das chuvas de verão deve acender todas as luzes de alerta. Nossas cidades não estão preparadas para lidar com grandes volumes de chuvas e grandes enchentes, desmoronamentos de encostas, bloqueios de rodovias, entre muitos outros problemas, que são mais do que esperados.
Salvo condições climáticas bastante anormais como a passagem de um furacão, cidades não costumam enfrentar grandes enchentes de uma hora para outra – elas costumam ocorrer depois de um longo processo de degradação das condições ambientais locais.
Vou citar como exemplo a minha cidade – São Paulo, que é uma espécie de “capital” das grandes enchentes do Brasil. A cidade foi fundada em 1554 e só sofreria a sua primeira grande enchente em 1929. Foram necessários mais de três séculos de história e de muita degradação para criar todas as condições necessárias para a ocorrência dessa grande enchente.
Até a década de 1860, São Paulo não passava de uma cidadezinha perdida no alto da Serra do Mar. Somados todos os muitos núcleos urbanos da cidade há época, a população total mal superava a marca dos 30 mil habitantes. A história da cidade mudaria radicalmente após o início do Ciclo do Café, momento em que a pequena cidade se transformou num importante entreposto comercial.
Na virada do século XX, São Paulo já tinha cerca de 240 mil habitantes e chegaria aos 900 mil habitantes em 1930. Para acomodar tanta gente, a cidade precisou passar por uma série de intervenções urbanísticas e ambientais – áreas de matas foram derrubadas, várzeas de rios foram aterradas e ocupadas por construções, rios e córregos foram canalizados e transformados em grandes avenidas, entre outras mudanças.
A primeira fatura “acumulada” de mais de três séculos de história da cidade veio em fevereiro de 1929, ano em que São Paulo viveu a maior enchente de todos os tempos. Segundo reportagens da época, o nível do rio Tietê subiu cerca de 3,45 metros, deixando toda a parte central da cidade debaixo d’água.
Além do Centro, os bairros mais atingidos foram a Casa Verde, Canindé, Ponte Pequena, Barra Funda, Lapa, Villa Maria e Vila Anastácio. Na Freguesia do Ó e no Bairro do Limão, segundo crônicas publicadas nos jornais, os moradores precisaram se valer de barcos para se locomover, uma vez que grande parte das ruas ficaram submersas ao longo de vários dias (vide foto).
Muitas outras grandes enchentes voltariam a se abater sobre São Paulo ao longo dos anos seguintes, mas, felizmente, uma tragédia dessa magnitude nunca mais voltaria a acontecer. E, lamentavelmente, a cidade não aprendeu a lição e continuou repetindo os mesmos erros que criaram as condições para a ocorrência dessas tragédias.
São Paulo não está sozinha nessa sina – outras grandes e médias cidades, sem contar com uma infinidade de cidades pequenas, também criaram todas as condições necessárias para a ocorrência de enchentes e outras tragédias provocadas pelas fortes chuvas, especialmente no período do verão.
Notícias sobre essas enchentes, desgraçadamente, serão tema de postagens aqui do blog nos próximos meses.
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