O ESPINAFRE “ALUCINÓGENO” DA AUSTRÁLIA 

Uma animação bastante antiga e que ainda consegue fazer sucesso é o Marinheiro Popeye. Sempre envolvido em brigas com o grandalhão Brutus por causa da “bela” Olívia Palito, Popeye sempre se vale da energia de uma lata de espinafre. O personagem surgiu primeiro como uma tira publicada em jornais em 1929, passando a aparecer em curtas-metragens a partir de 1933. 

A suposta energia do espinafre teve uma origem bastante curiosa – o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos publicou uma série de tabelas com os nutrientes de diversos alimentos. Devido a um erro na gráfica, o espinafre acabou saindo com os valores de nutrientes dez vezes maiores do que a realidade. Surgiu aí a fama do super alimento. 

Uma notícia bastante curiosa envolvendo a leguminosa circulou nos últimos dias – mais de 200 pessoas relataram que tiveram episódios de fortes alucinações e dores de cabeça após consumir espinafre na Austrália. Mais de 60 pessoas, inclusive uma criança, precisaram buscar atendimento médico. 

A principal suspeita das autoridades é que uma erva daninha com propriedades alucinógenas invadiu algumas plantações e, por ser muito parecida com o espinafre, acabou sendo colhida e embalada junto com a leguminosa. A produtora de alimentos Rivera Farms, localizada no Estado de Vitória, parece ser a fonte do problema. 

A agência reguladora de alimentos do país emitiu um comunicado para que os consumidores joguem fora os produtos ou procurem os supermercados e lojas para pedir um reembolso. O Ministério da Saúde da Austrália abriu um inquérito para investigar o caso. 

De acordo com autoridades médicas do país, os principais sintomas relacionados ao consumo do espinafre “alucinógeno” são delírio ou confusão, alucinações, pupilas dilatadas, batimento cardíaco acelerado, rosto corado, visão turva, boca e pele seca, além de febre.  

De acordo com o relato de um médico do Centro de Informações Sobre Venenos de New South Wales, Dr. Darren Roberts, as vítimas sofrearam “alucinações assustadoras, nada que seja divertido”. Também ficaram incapazes de ver direito e muito confusas. 

Entre as espécies de ervas invasoras suspeitas de causaram essa contaminação estão plantas da família Solanaceae, que incluem a beladona, a erva-do-mato e a raíz de mandrágora.  Ao que tudo indica, essa é uma situação inédita no país. 

É bastante cedo para qualquer tipo de conclusão, mas problemas ambientais podem estar por trás dessa “invasão” de ervas venenosas. A Austrália, conforme já tratamos em inúmeras postagens aqui do blog, é um dos países do mundo que mais sofre com problemas de devastação ambiental e de invasão do meio ambiente por espécies invasoras

A maior parte do território australiano é formado por terrenos áridos e semiáridos. As áreas cobertas com florestas se concentram próximas do litoral, especialmente nas faixas Leste e Sudeste do país. Essas regiões sofrem com o avanço das frentes agrícolas, que gradativamente estão transformando antigas áreas de floresta em campos. 

É justamente aqui onde pode estar a origem do problema – plantas que nasciam e cresciam confinadas dentro de áreas florestais passaram a ocupar áreas de campos agrícolas, ficando sujeitas a uma dispersão de sementes mais facilitada pela força dos ventos. Essas sementes podem ter sido arrastadas por centenas de quilômetros até chegar nas plantações de espinafre. 

Outra hipótese que não pode ser descartada é que a dispersão das sementes possa ter sido feita por alguma espécie de animal, talvez até uma espécie invasora. As sementes das plantas podem ter sido consumidas por alguma espécie de ave, que as eliminou junto com as fezes dentro de uma fazenda. As sementes também podem ter grudado no pelo de um animal, que as carregou por dezenas de quilômetros.   

Também não é nada improvável se tratar de espécies exóticas que foram introduzidas – acidentalmente ou de propósito no país. A Austrália vem sendo invadida por espécies animais e vegetais desde o final do século XVIII. Histórias curiosas muitas vezes estão por trás de espécies de plantas invasoras.

Um exemplo brasileiro é a braquiária, uma planta forrageira de origem africana que se transformou em uma verdadeira praga em importantes biomas brasileiros como o Cerrado. De acordo com alguns pesquisadores, sementes da braquiária podem ter chegado ao Brasil presas nas roupas de escravos trazidos da África durante o Período Colonial. Essas sementes brotaram em áreas litorâneas próximas dos portos de desembarque dos navios negreiros e as plantas foram sendo espalhadas por todo o país. 

Outro exemplo que vem a calhar é o da Ambrosia artemisiifolia, uma planta que invadiu diversos países da Europa e que vem provocando verdadeiras epidemias de alergia. A planta é conhecida como ambrósia, absinto americano e absinto romano, entre muitos outros 

A espécie é nativa da América do Norte, onde é considerada uma erva-daninha, e “chegou” na Europa em algum momento entre o final do século XIX e início do século XX. Atualmente a planta tem ampla distribuição por todo o Norte da Itália e Sudoeste da Franca, possuindo um enorme potencial para aumentar sua presença por grande parte da Europa. 

As flores da Ambrosia artimisiifolia são produtoras maciças de pólen, pólen esse que desencadeia inúmeras reações alérgicas em seres humanos. Essas alergias costumam ser chamadas genericamente de “febre do feno” (o feno é uma planta forrageira muito utilizada na alimentação de animais, que produz muito pólen e causa grandes problemas de alergia – por isso sua associação com essas doenças) e se caracterizam por coceira nos olhos, espirros e respiração ofegante, entre outros sintomas.  

Qualquer que seja a origem da erva “alucinógena” que contaminou as plantações de espinafre da Austrália, é certo que ainda ouviremos falar muito dela e de seus efeitos na saúde da população. 

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