Quem acompanha as minhas postagens sabe que raramente publico textos aos sábados e, quando o faço, a temática é sempre especial.
A temporada das chuvas de Verão, ano após ano, é um período de estresse para muita gente que sofre, sistematicamente, com enchentes, riscos de desabamentos, epidemias de doenças infectocontagiosas – em especial a Dengue, e todos os demais problemas associados à nossa falta de infraestrutura e capacidade para lidar com um fenômeno natural de um país de clima essencialmente equatorial e tropical – as chuvas. Parágrafo demasiadamente longo, mas que exprime a nossa realidade.
Nesse Verão, tudo segue igual ao de sempre, mas há pontos positivos – o mais importante é que, depois de muitos anos, as fortes chuvas também estão caindo nas áreas de mananciais das três principais Regiões Metropolitanas do país, onde vive um quinto da população brasileira: Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo.
O Sistema Paraopeba, um dos responsáveis pelo abastecimento da Região Metropolitana de Belo Horizonte, alcançou em 26/01 o índice de 62,8% de água armazenada, volume atingido pela última vez em junho de 2014. Os três reservatórios do Sistema – Rio Manso, Vargem das Flores e Serra Azul, operam com níveis de 79,2%, 53,8% e 36,9% respectivamente – há um ano atrás, os níveis nestes reservatórios eram, respectivamente, 30,4%, 28,8% e 6,9%.
O Estado do Rio de Janeiro e, particularmente, a Região Metropolitana do Rio de Janeiro tem o Rio Paraíba do Sul como principal manancial de abastecimento. Como já mostrei em posts anteriores, o Rio Guandu é o principal manancial de abastecimento da Região Metropolitana – um rio pequeno, que nasce na região serrana e que, graças a um complexo sistema de estações de bombeamento e de reservatórios construídos para geração de energia elétrica, recebe as águas transpostas da bacia hidrográfica do Rio Paraíba do Sul e responde por 80% da água consumida pela população da cidade do Rio de Janeiro e de municípios da Região Metropolitana. Em 26/01, o volume útil de água armazenada nos reservatórios do Rio Paraíba do Sul correspondia a 56,62% do volume útil total de água. Na mesma data no ano passado, o volume armazenado era equivalente a 25,75% do volume útil.
Na Região Metropolitana de São Paulo, a precipitação nas áreas de mananciais também tem sido generosa. Como já comentei em diversos posts anteriores, 60% da água utilizada para o abastecimento das populações da Região Metropolitana paulista é importada de outras bacias hidrográficas – o famoso Sistema Cantareira é o principal sistema exportador de água para a Região.
Como foi notícia em todo o Brasil, o Sistema Cantareira entrou em colapso em 2014, o que forçou as autoridades a impor um drástico programa de racionamento de água a toda a população das Regiões Metropolitanas de São Paulo e, em menor escala, de Campinas. Durante meses a fio, foi necessário bombear a água do chamado volume morto (água acumulada abaixo do nível mínimo de captação do Sistema) para suprir apenas parcialmente as necessidades da população – coube ao Sistema Guarapiranga, cuja represa homônima fica na zona Sul da cidade de São Paulo, a tarefa de fornecer a maior parte da água para abastecimento da Região. Apesar da forte repercussão negativa e do uso do racionamento nas disputas entre grupos políticos, podemos dizer que entre mortos e feridos, salvaram-se todos – chuvas regulares e acima da média estão recuperando gradativamente o Sistema Cantareira, que opera hoje com 58,8% do volume útil – há exato um ano atrás, esse nível era de 14,7%.
Como se vê, as chuvas de Verão, apesar dos inúmeros dramas que temos assistido nas últimas semanas em muitas cidades pelo Brasil afora, têm cumprido seu papel e estão a encher os reservatórios que atendem as Regiões Metropolitanas de Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo. Infelizmente, em muitas regiões, as chuvas estão aquém das necessidades – o Distrito Federal é um exemplo: a Barragem do Rio Descoberto, responsável por 65% do abastecimento regional de água, está com um nível assustadoramente baixo – apenas 18%. Pela primeira vez na história, foi implantado um rodízio no abastecimento de água do Distrito Federal.
Na tradição popular, São Pedro abre e fecha as portas e janelas do céu, decidindo quem entra através dos portões do paraíso e controlando também as chuvas que caem do céu para saciar a sede da terra. Neste Verão, São Pedro tem feito a sua parte e as chuvas tem caído generosamente em grande parte do país – falta aos homens fazer a sua parte e preparar as cidades para suportar estas chuvas da melhor maneira possível.
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