FALANDO DOS PROBLEMAS COM O NOSSO BOM E VELHO ARROZ 

Hábitos alimentares fazem parte da cultura dos diferentes países e ajudam a criar verdadeiros estereótipos de muitas populações. Para um europeu ou norte-americano é bem fácil associar o Brasil e os brasileiros ao samba, ao Carnaval e a uma boa feijoada. 

Também podemos associar meus ancestrais portugueses e italianos, respectivamente, a uma bacalhoada com batata e um bom prato de massa. Alemães são reconhecidos como grandes apreciadores de batata e os franceses por pratos mais refinados como o escargot

Inevitavelmente, povos do Extremo Oriente como chineses, japoneses e coreanos são imediatamente associados ao arroz, alimento consumido com a ajuda dos tradicionais “pauzinhos” – os hashis (vide foto). 

Sem qualquer tipo de discriminação, essa imagem tem fundamentos muito bem definidos – 90% de toda a produção mundial de arroz fica na Ásia, especialmente no Extremo Oriente e Sudeste Asiático. O arroz é o segundo cereal mais consumido do mundo, sendo o principal grão para o consumo humano na Ásia.  

Para sermos mais precisos, metade da população mundial tem no arroz seu principal alimento. O cereal é produzido em cerca de 116 países com os mais diferentes climas em todos os continentes. A produção mundial é estimada em cerca de 500 milhões de toneladas por ano. 

Um dos gêneros mais importantes é o Oryza, que engloba cerca de 23 espécies de arroz encontradas na Ásia, na África e nas Américas. De acordo com os especialistas, as espécies Oryza rufipogon e Oryza sativa originaram, através de diversos cruzamentos artificiais, algumas das principais espécies de arroz produzidas na atualidade.   

O arroz foi, muito provavelmente, o primeiro e principal alimento cultivado na Ásia. Evidências arqueológicas indicam que a planta “já domesticada” era cultivada ao longo do rio Yangtzé na China entre 8 mil e 10 mil anos atrás. Existem alguns estudos controversos que remetem o início do plantio do arroz “selvagem” por populações neolíticas há 15 mil anos na Coreia. 

Na literatura escrita da China, as primeiras referências textuais ao arroz datam de 5 mil anos atrás. No Subcontinente Indiano, o arroz também vem sendo cultivado desde o surgimento das primeiras civilizações nos vales dos rios Indus e Ganges. O cereal é citado em todas as escrituras sagradas desses povos, sendo usado também como oferenda em diversas cerimônias religiosas. 

De acordo com o que existe de consenso entre historiadores e arqueólogos, a cultura do arroz se expandiu a partir da China para todo o extremo Leste da Ásia, principalmente para a Coreia e o Japão, e Sudeste Asiático, onde se inclui os arquipélagos indonésio, malaio e filipino.  

A partir do Subcontinente Indiano, a cultura se estendeu por toda a Ásia Central, Oriente Médio e Europa, onde as primeiras plantas desembarcaram entre os séculos VII e VIII na Península Ibérica e nos Balcãs. Com a Era das Grandes Navegações iniciada no século XV, o grão ganhou, literalmente, o resto do mundo. 

A China é o maior produtor mundial de arroz, concentrando cerca de 29% da produção. Em segundo lugar vem a Índia, com cerca de 25% da produção mundial. Juntos, esses dois países tem uma população de 2,7 bilhões de habitantes, que tem o arroz como seu principal alimento. Também são grandes produtores o Vietnã, Tailândia, Japão, Bangladesh, Filipinas, Indonésia e Paquistão. O Brasil é o maior produtor das Américas. 

De acordo com informações do USDA – Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, a produção de arroz em 2023 deverá ser de 503,3 milhões de toneladas, uma redução de 2,3% em relação à safra anterior. Uma menor oferta significa sempre preços mais altos para os consumidores. 

Ao longo de 20 anos, entre 2002 e 2022, a produção de arroz cresceu 36,14% em todo o mundo. Esse crescimento foi o resultado de um aumento da produtividade dos campos de 20,42%, ao mesmo tempo em que a área plantada subiu apenas 13%. 

O consumo mundial de arroz cresceu cerca de 27% nesse mesmo período. A maior produtividade permitiu um aumento de mais de 77% nos estoques estratégicos, além de proporcionar um aumento considerável do comércio internacional do grão – as exportações saltaram de 28,67 milhões de toneladas para 54,61 milhões de toneladas no período. 

Parte importante do crescimento da produção e do consumo de arroz no período podem ser explicados pelo forte crescimento das economias da China e da Índia nesse período. Plantios e colheitas tradicionais que eram feitas manualmente passaram a contar com a ajuda de tratores e máquinas, ao mesmo tempo que a melhoria dos salários permitiu que populações mais pobres tivessem mais acesso ao alimento. 

Ao mesmo tempo em que a produtividade cresce, problemas ambientais e climáticos vêm afetando importantes áreas de produção e provocando quebras nas safras. Aqui no Brasil, citando um exemplo, a cultura vem sendo fortemente prejudicada por seca, problema comum em outras regiões do mundo. 

Os Estados de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul respondem por cerca de 80% de toda a produção brasileira de arroz, com volumes equivalentes a, respectivamente, 10% e 70% da produção nacional. A quase totalidade das plantações nesses Estados utilizam sistema de cultivo irrigado – ou seja, situações de estiagem afetam diretamente a produção. 

Outra região produtora bastante icônica e que vem sofrendo quebras de produção é o Delta do rio Mekong, no Vietnã. Aliás, o arroz produzido nessa região é considerado o melhor do mundo. A construção intensiva de barragens de hidrelétricas ao longo da calho do Mekong, maior rio do Sudeste Asiático, tem reduzido significativamente o volume dos caudais e prejudicando a produção. 

O Vietnã exporta seu excelente arroz e importa grãos de qualidade inferior para o abastecimento de sua grande população. Essa estratégia permite que o país gere importantes divisas para financiar seu desenvolvimento econômico. A crise na produção ameaça tanto a segurança alimentar quanto a economia do país. 

A crise na produção e os preços mais altos poderão deixar muitos milhões de pratos vazios em todo o mundo ou, na melhor das hipóteses, um pouco menos cheios de arroz do que de costume. Muito preocupante! 

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