
As últimas postagens aqui do blog precisaram ser dedicadas à cobertura dos estragos provocados pelas torrenciais chuvas no Litoral Norte de São Paulo. Já foram totalizadas 65 mortes e ainda existem 6 pessoas desaparecidas na região. Os trabalhos de busca prosseguem.
Vamos retomar a questão da crise de produção de alimentos, uma preocupação mundial para os próximos anos.
Em uma série de postagens falamos dos problemas com as culturas dos principais grãos consumidos pela humanidade – trigo, milho, arroz, soja e o milheto, que apesar de ser muito pouco conhecido pelos brasileiros é um alimento essencial em regiões semiáridas, especialmente na África.
Falando de uma forma bastante resumida, a agricultura depende da combinação de solos férteis (com fertilidade natural ou feita a partir do uso de fertilizantes químicos), da disponibilidade de água (natural ou via sistemas de irrigação), além de condições adequadas de clima.
O trigo, por exemplo, é uma cultura que se adapta melhor ao um clima temperado. Aqui no Brasil, o grão encontrou boas condições de produção na Região Sul, onde é clima é subtropical e possui alguma similaridade com o clima temperado.
A EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias, uma referência mundial em pesquisas agrícolas, tem feito um excelente trabalho de tropicalização do trigo, criando variedades que produzem, muito bem aliás, nos solos e clima do Cerrado Brasileiro e também em Campos Amazônicos.
Na década de 1970, a EMBRAPA conseguiu desenvolver variedades de grãos adaptadas ao Cerrado, com grande destaque para a soja, um grão originário de regiões de clima temperado. O sucesso desse trabalho levou o nosso país a disputas palmo a palmo a liderança da produção mundial de soja com os Estados Unidos.
Um outro exemplo que podemos citar é o centeio, um grão aparentado com o trigo e que se mostrou adequado para a produção em altas latitudes como o Norte da Europa e da Rússia Asiática. Nesses locais, o clima extremo sempre foi um obstáculo para a produção do trigo e o centeio veio para “salvar a lavoura” e garantir a alimentação dessas populações.
Falando um pouco das condições climáticas para a produção desses importantes grãos:
A fase final de produção do trigo, do amadurecimento do grão até a colheita requer um clima seco. O grão é bastante sensível a umidade nessa fase – em caso de chuva, os grãos começam a germinar, o que compromete a qualidade final do trigo. Em regiões de clima temperado a colheita é feita no outono, época bastante seca.
Já o nosso bom e velho arroz, o grão mais importante para a alimentação de populações na Ásia, depende bastante de umidade para a sua produção. Apesar de existirem variedades de arroz adequadas para a produção em sequeiro, ou seja, em solos secos, a maior parte das espécies é produzida em solos alagados ou fortemente irrigados.
Citando um outro exemplo: o café, uma cultura que foi fundamental para a economia brasileira durante muito tempo. O cafeeiro requer solos férteis e bem drenados, além de necessitar de uma faixa adequada de temperatura – não pode ser muito quente nem muito frio.
As mudanças bruscas de temperatura estão entre os maiores inimigos da produção do café, com destaque para as geadas, fortes ondas frias vindas do Sul da América do Sul e dos Andes. Os Estados do Paraná, São Paulo e de Minas Gerais, que já foram e/ou ainda são grandes produtores de café, já sofreram pesadas perdas com geadas fortes. Um exemplo foi a “geada negra” de 1975, que dizimou os cafezais do Paraná.
E por que estamos falando de tudo isso?
Mudanças climáticas estão alterando as características típicas do clima de muitas regiões, o que tem repercussões diretas na produção agrícola. Um exemplo fácil: secas sucessivas estão prejudicando a produção agrícola na faixa Oeste do Rio Grande do Sul, uma das mais produtivas de nosso país.
De acordo com a EMATER – Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural, mais de dois terços dos municípios gaúchos decretaram situação de emergência em função da estiagem durante este ano. As zonas rurais estão sofrendo com falta de água para o abastecimento de populações humanas e animais, além dos usos na agricultura.
Nas culturas de milho e soja, as perdas em algumas regiões do Estado poderão ficar entre 40% e 50%. A colheita do arroz ainda não começou no Rio Grande do Sul, mas já há notícias que falam que 30% das plantações foram abandonadas devido à falta de água.
A mesma seca que está assolando o Rio Grande do Sul também está atingindo o Norte da Argentina e também o Uruguai. O bioma Pampa do Sul do Brasil se estende além de nossas fronteiras na direção desses países vizinhos onde é chamado de La Pampa.
De acordo com informações da NOAA – Administração Nacional Oceânica e Atmosférica do Estados Unidos, na sigla em inglês, o bioma Pampa é a região que está sendo mais fortemente afetada pela seca em todo o mundo, particularmente na Argentina.
O ano de 2023, é o terceiro consecutivo de seca intensa na região da Pampa. Dados do Governo argentino afirmam que 175 milhões de hectares no país estão sendo afetados pela seca. Além de comprometer fortemente a agricultura, a principal fonte de receitas externas da Argentina, a estiagem também está afetando a pecuária, outro pilar da economia do país.
No Uruguai a situação não é menos dramática – cerca de 40% do território do país está sofrendo com uma forte estiagem desde o último mês de outubro. O Governo do país acabou de estender a situação de emergência agrícola até o mês de abril.
E quem é a responsável por essa seca excepcional?
Ela – La Niña, um fenômeno climático global que costumava ocorrer em intervalos de 2 a 7 anos, com uma duração de 9 a 12 meses, que, no entanto, está se repetindo pelo terceiro ano consecutivo, o mesmo período de persistência da seca na Pampa.
Isso será apenas uma coincidência ou estamos assistindo os efeitos das mudanças climáticas globais?
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[…] OS IMPACTOS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS NA PRODUÇÃO DE ALIMENTOS […]
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