
Os Pampas ou Campos Sulinos formam o segundo menor bioma do Brasil, só sendo maior que o Pantanal Mato-Grossense. O bioma se concentra no Estado do Rio Grande do Sul e ocupa uma área equivalente a 2% do território brasileiro. Os Pampas se estendem além das nossas fronteiras e ocupam importantes áreas no Uruguai e na Argentina.
Apesar de pequeno, o bioma Pampa possui uma biodiversidade total maior que a da Amazônia, a da Mata Atlântica, a do Cerrado e a da Caatinga. De acordo com estudos de pesquisadores da UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, cada metro quadrado do bioma abriga até 57 espécies diferentes de plantas. No Cerrado, bioma que ocupa o segundo lugar em biodiversidade, são encontradas 35 espécies vegetais a cada metro quadrado.
Apesar sua grande importância ambiental, os Pampas ocupam o primeiro lugar na lista dos biomas mais ameaçados do Brasil. De acordo com dados de monitoramento ambiental do INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, de 2018, o bioma já perdeu 52,7% de sua vegetação nativa. As paisagens que num passado não tão distante eram cobertas por gramíneas, hoje intercalam campos de arroz e de soja, além de florestas comerciais de eucalipto e pinus.
A pecuária extensiva, que por cerca de trezentos anos foi dominante na região, teve suas origens nas antigas Missões Jesuíticas no Oeste do Rio Grande do Sul. De acordo com os termos pactuados entre as Coroas de Portugal e de Espanha no Tratado de Tordesilhas em 1494, todo o Extremo Sul do Brasil era território espanhol. Religiosos espanhóis da Ordem dos Jesuítas passaram a criar missões, também chamadas de reduções jesuíticas, ao longo das margens dos rios Paraná e Negro a partir do ano de 1600. Essas missões visavam a conversão dos índios guaranis ao cristianismo.
Apesar de se encontrarem dentro do território da Espanha, essas missões eram frequentemente atacadas por bandeirantes paulistas que buscavam indígenas para escravizar. Em muitos desses ataques, as reduções acabavam sendo destruídas e o gado bovino que era criado pelos religiosos fugia para os campos e se tornava selvagem. A partir da assinatura do Tratado de Santo Ildefonso em 1777, quando as fronteiras entre os territórios de Portugal e Espanha foram repactuadas, os Jesuítas foram expulsos da região e as últimas reduções remanescentes foram destruídas. O filme A Missão, de 1986, mostra com maestria esse momento histórico.
Todo esse gado bovino que fugiu das reduções se espalhou pelos Pampas e formou grandes rebanhos selvagens. A partir do povoamento do Extremo Sul a partir do século XVIII, a pecuária foi transformada em uma das mais importantes atividades econômicas da região. Esse quadro se manteria até as últimas décadas do século XIX, quando o Rio Grande do Sul passou a receber grandes contingentes de imigrantes europeus, especialmente italianos e alemães, e a agricultura passou a ganhar espaço.
Um marco na agricultura regional se deu a partir da década de 1920, quando a soja passou a ser plantada na região de Santa Rosa. Originária da China, a soja se adaptou bem ao clima temperado local e pouco a pouco foi ocupando espaço nos antigos domínios da Mata Atlântica da faixa Norte do Rio Grande do Sul, onde se destaca a região da Mata das Araucárias, e também nas áreas dos Pampas. Outro grão que passou a ocupar importantes espaços no Estado foi o arroz, que encontrou um ambiente ideal nas áreas úmidas dos banhados.
A pujança das atividades agrícolas e pecuárias no Rio Grande do Sul começou a mostrar os seus impactos ambientais já na década de 1960, quando passaram a ser observadas grandes manchas de areia em solos de municípios do Sudoeste gaúcho próximos da fronteira com o Uruguai e Argentina. Essas manchas de areia eram praticamente despidas de vegetação e passaram a sofrer fortemente com processos erosivos nos períodos de chuva. Inicialmente, esses processos foram classificados como desertificação.
No final da década de 1980, pesquisadores gaúchos alteraram a denominação para arenização, afirmando que os grandes volumes de chuvas que caem sobre a região tornam inadequado o uso do termo desertificação. Esses processos atingem hoje um total de 10 municípios gaúchos: Alegrete, Cacequi, Itaqui, Maçambara, Manoel Viana, Quaraí, Rosário do Sul, São Borja, São Francisco de Assis e Unistalda.
Além da destruição dos campos, essa arenização vem afetando importantes cursos d’água da região. As fortes enxurradas nos períodos das chuvas carreiam grandes volumes de areia para a calha dos rios, um problema que se reflete cada vez mais em problemas para o abastecimento de cidades e também na captação da água por sistemas de irrigação de lavouras agrícolas. Em muitas áreas, o problema não para de crescer.
Essas regiões apresentam como característica dominante uma fina camada de solo fértil sobre uma camada espessa de solos extremamente arenosos, assentadas sobre os granitos da formação Botucatu. Com a superexploração dos solos pela pecuária e, em décadas mais recentes, pela produção de grãos, essa fina camada de solo fértil acabou sendo destruída pela erosão e a camada de solo arenoso foi exposta.
Esses solos, que são extremamente frágeis, passaram a apresentar grandes voçorocas ou fendas, chamadas de ravinas no Sul. Além da erosão causada pelas chuvas, esses solos arenosos também são erodidos pelos ventos, que espalham as areias por grandes extensões de campos, aumentando assim as áreas em processo de arenização.
Uma estratégia que foi usada como uma tentativa de conter o crescimento desse fenômeno foi cercar as áreas com plantações de eucaliptos e pinus. Apesar do relativo sucesso dessa medida, a produção dessas madeiras na região esbarra na grande distância em relação às fábricas que utilizam essa matéria prima, o que implica em grandes custos de logística para o transporte.
Muitos pesquisadores afirmam que a arenização dos Pampas pode surgir independentemente do tipo de uso que se dá aos solos, porém, são unanimes em afirmar que a pecuária e a agricultura intensificam esse processo. Existem diversos estudos em andamento buscando entender a dinâmica da arenização e as melhores alternativas para combater os seus efeitos.
De acordo com os números mais recentes, as áreas em processo de arenização no Sudoeste do Rio Grande do Sul somam mais de 130 mil hectares. Parte dessas áreas ainda são cobertas com algum tipo de vegetação, mas, pelo menos, 20 mil hectares são totalmente descobertos, ou seja, despidos de qualquer tipo de vegetação.
O problema, que por si só já é gravíssimo, fica ainda mais crítico quando se constata que o bioma Pampa é o segundo mais devastado do Brasil, só ficando atrás da Mata Atlântica. Ou seja – ainda vamos ouvir falar bastante da arenização dos Pampas Sulinos.
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