O arroz com feijão é uma das combinações mais importantes da alimentação dos brasileiros e faz parte da identidade nacional desde os tempos coloniais. Graças a essa particularidade, o Brasil é o maior produtor e consumidor de arroz fora da Ásia, continente onde o grão é a base alimentar de inúmeros países. A produção de arroz no Brasil atinge a cifra anual de 15 milhões de toneladas, sendo que 12,14 milhões de toneladas atendem ao mercado consumidor interno e a diferença é exportada. A maior parte da produção do grão no país está concentrada no Estados da Região Sul, responsáveis por 75% da produção nacional.
O Rio Grande do Sul é, disparado, o maior produtor brasileiro de arroz, apresentando 25,6% da área cultivada e 44,5% da produção nacional. A rizicultura gera receitas anuais de R$ 8 bilhões e emprega aproximadamente 350 mil trabalhadores em todo o Brasil. Vejam que os números são respeitáveis do ponto de vista econômico e social, mas, apesar de “tudo de bom” que a cultura do grão representa para inúmeros municípios e populações, o arroz causa uma série de problemas ambientais – no Rio Grande do Sul, o custo ambiental da produção de arroz está na destruição dos banhados, tema que abordamos na postagem anterior, quando falamos dos problemas no Banhado Grande.
De acordo com dados da UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a área original ocupada pelo conjunto de banhados da região conhecida como Banhado Grande correspondia a 450 km²; a partir da década de 1970, com o sistemático avanço das plantações de arroz e com a implantação dos canais de irrigação, incluindo-se também as obras realizadas pelo DNOS – Departamento Nacional de Obras e Saneamento, as áreas de banhado sofreram uma substancial diminuição – em meados da década de 1980, estas áreas estavam reduzidas a apenas 138 km²; no início da década de 1990, os banhados da região estavam limitados a uma área equivalente a 60 km². Estima-se que a área atual do Banhado Grande corresponda a apenas 10% da área original encontrada na época do início da colonização e povoamento da região.
Um dos maiores responsáveis pela dramática redução do Banhado Grande foi um canal de drenagem com extensão total de 20 km, construído pelo DNOS, uma antiga autarquia do Governo Federal na década de 1970, com o objetivo de ampliar as áreas produtoras de arroz. Com a abertura desse canal principal e de uma série de canais transversais menores, a região ficou livre das enchentes anuais e extensas áreas “secas” foram disponibilizadas aos arrozeiros para o aumento da área plantada. Esses conjunto de canais comprometeu a capacidade do Banhado Grande em acumular grandes volumes de água e alterou consideravelmente os regimes fluviais do rio Gravataí – no período chuvoso, o rio passou a apresentar fortes correntezas e grandes volumes de água; no período da seca, sem o fornecimento de água pelos banhados, o rio se apresenta com baixíssimos níveis de água, comprometendo o abastecimento das populações e dificultando a diluição dos grandes volumes de esgotos lançados in natura na calha do rio. As obras, feitas com o uso de grandes volumes de recursos públicos, beneficiou um pequeno grupo de arrozeiros e causou prejuízos gigantescos para centenas de milhares de habitantes da região, além de danos, muitos irreversíveis, para a vida natural.
Além da redução dos caudais do importante rio Gravataí, há um outro grave problema – resíduos de fertilizantes de pesticidas usados nas plantações são arrastados para a calha dos arroios, nome dado na região Sul para córregos e riachos, e acabam atingindo a calha do rio Gravataí. Estes resíduos químicos podem ser extremamente prejudiciais para a saúde das populações que são abastecida com a água desses rios – o rio Gravataí é responsável pelo abastecimento de mais de um milhão de pessoas na Região Metropolitana de Porto Alegre. O rio Gravataí tem pouco mais de 3 km de extensão e suas águas atravessam o trecho Norte dessa região, onde fica uma parte importante do cinturão verde local. Conforme já comentamos em postagem anterior, os chamados cinturões verdes são importantes áreas produtoras de verduras e vegetais frescos, que abastecem os mercados das médias e grandes cidades; as águas de irrigação usadas nessas plantações costumam ter uma qualidade discutível, especialmente devido à contaminação por esgotos – os resíduos químicos das plantações de arroz encontrados nas águas dos rios só pioram esse quadro.
O Banhado Grande é só um exemplo do avanço dos arrozais contra essas áreas tão importantes para o meio ambiente, tanto como habitat da vida selvagem quanto na acumulação e fornecimento de água em nascentes de rios importantes para o abastecimento de populações.
Imagino que você pode estar pensando que a proibição do cultivo de arroz seria uma solução possível – evidentemente que não. Precisamos encontrar formas de produzir os alimentos que nossa população precisa e que nosso país necessita para exportar e gerar receitas, porém, sem destruir os sistemas naturais. Conforme já apresentamos em postagens anteriores, existem tecnologias modernas de irrigação com impactos ambientais bem menores – precisamos passar a utilizar essas tecnologias e avaliar com seriedade os impactos ambientais das atividades rurais em nosso país.
[…] Estados de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul respondem por cerca de 80% de toda a produção brasileira de arroz, com volumes equivalentes a, […]
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