A ALTA NO PREÇO DO TRIGO

O trigo é o segundo cereal mais consumido no mundo, só perdendo para o polivalente milho e ficando um pouco à frente do arroz. A planta selvagem começou a ser domesticada e melhorada pela humanidade há cerca de 10 mil anos bem no início da agricultura.  

Os mais antigos centros de produção ficavam na Mesopotâmia e no Subcontinente Indiano. Depois a cultura chegou ao Norte da África e na Europa, se espalhando depois para os quatro cantos do mundo. Um dos principais alimentos produzidos a partir do trigo é o pão, um dos maiores símbolos da civilização humana. 

Existem evidencias arqueológicas da produção desse alimento pelo Homo sapiens há cerca de 30 mil anos. Nossos antepassados moíam raízes de plantas até obter um extrato de amido que era assado sobre uma pedra plana. Uma espécie de padaria com cerca de 14,5 mil anos foi encontrada na Jordânia e há 10 mil anos usamos grãos de cereais para produzir pão. Qualquer povo de respeito tem sua própria receita e sua técnica para a produção de pão.   

Nos últimos anos a produção e os preços do cereal sofreram fortes oscilações, problema que foi agravado com o início do conflito entre a Rússia e a Ucrânia em 2022. Os dois países respondiam juntos por cerca de 30% da produção mundial de trigo no início do conflito há pouco mais de um ano. O conflito prejudicou tanto a produção quanto o escoamento do produto, causando uma brutal redução da oferta e um aumento dos preços. 

De acordo com dados da CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento, a produção da Rússia era de cerca de cerca de 74 milhões de toneladas de trigo a cada ano. A Ucrânia produz cerca de 33 milhões de toneladas ano. O maior produtor mundial é a União Europeia, com uma produção de mais de 150 milhões de toneladas. Apesar da grande produção, os países europeus dependiam de importações tanto da Rússia quanto da Ucrânia para equilibrar a oferta. 

A produção mundial de trigo não vinha andando nada bem nos últimos anos, principalmente na União Europeia. Com o início da epidemia da Covid-19 em 2020, muitos dos trabalhadores da agricultura foram obrigados a voltar para seus países de origem por causa das políticas de restrição à circulação de pessoas. A maior parte desses trabalhadores vem de países do Leste Europeu como a Polônia, Bulgária e Geórgia.   

Com a redução da oferta de trigo no mercado internacional, os preços começaram a subir fortemente – essa é a famosa lei da oferta e da procura. Num mercado que já vive com escassez, a perspectiva de uma redução ainda maior na oferta por causa do conflito na Ucrânia produziu mais nervosismo e mais aumentos de preços. 

A situação ficou ainda mais complicada quando a China a Índia, que entram na lista dos maiores produtores mundiais, resolveram proibir as suas exportações de trigo. Juntos, os dois países concentram uma população que supera a marca de 2,7 bilhões de habitantes e colocaram a segurança alimentar de suas gentes em primeiro lugar. 

O Brasil, que não é autossuficiente na produção de trigo, precisa importar cerca de metade das suas necessidades de consumo. Todos sentimos no bolso o aumento dos preços de alimentos que tem trigo em sua composição. O nosso tradicional pãozinho de cada dia sofreu um aumento da ordem de 15% ao longo de 2022. 

Em grande parte do Brasil o chamado “pão francês”, é quase uma unanimidade. Apesar do nome, esse tipo de pão vem de uma receita 100% carioca. Antes da vinda da Família Real Portuguesa, a farinha de trigo consumida aqui no Brasil era escura e de péssima qualidade. Após a chegada da nobreza ao Rio de Janeiro, passou a ser utilizada a farinha de trigo francesa, de melhor qualidade e branca.   

As padarias da Corte começaram a fazer pães macios e crocantes com essa farinha e a população batizou a iguaria de “pão francês”. Apesar da receita ser praticamente a mesma em todo o país, o nome do pão muda conforme a região. No Maranhão é chamado de pão massa grossa; no Paraná é pão careca; na Paraíba é pão aguado e no Ceará pão carioquinha. Já no Rio Grande do Sul e na Bahia é mais conhecido como cacetinho. 

Apesar de ser um dos maiores produtores mundiais de alimentos, o Brasil tem dificuldades na produção de trigo. Conversando recentemente com um amigo agrônomo, fiquei sabendo que o grande problema para a produção do cereal aqui no país são as chuvas na época da colheita – em contato com a água, as sementes começam a germinar, o que prejudica a qualidade final do produto. 

Desde 2012, pesquisadores da EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias, vem trabalhando na tropicalização do trigo, cultura que se adaptou muito bem ao clima subtropical do Sul do Brasil. Cerca de 90% da produção brasileira de trigo, estimada em 7,7 milhões de toneladas, está concentrada em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul.  

Os esforços dos pesquisadores levaram à criação das variedades de trigo BRS 264, BRS 394 e BRS 404, todas adaptadas para o cultivo no Cerrado. Plantios experimentais dessas variedades começaram a ser feitos em Goiás, no Distrito Federal e em Minas Gerais, onde se obteve uma produtividade acima da média brasileira. Em 2021, um produtor de Cristalina, em Goiás, obteve uma produtividade de 9,6 toneladas por hectare, mais de três vezes a média obtida no Sul do Brasil.  

No final de 2020, a EMBRAPA conseguiu outro feito impressionante – em parceria com a iniciativa privada foi realizada a primeira colheita de trigo no quente e seco Ceará. A produtividade ficou em 5,5 toneladas por hectare, menos que a obtida na região do Cerrado, porém, mais alta do que a dos Estados do Sul do país. Experimentos também estão sendo feitos no Piauí e no Maranhão.  

A mais nova frente de pesquisas são os Campos Amazônicos de Roraima, que são muito parecidos com os do Cerrado. O plantio experimental foi feito no final de 2021 e os resultados da primeira colheita foram promissores. As variedades utilizadas foram as mesmas desenvolvidas para o Cerrado.  

A produtividade obtida mais uma vez foi superior à do Sul do Brasil, com um período de desenvolvimento das plantas na faixa de 75 dias, enquanto na Região Sul esse período pode chegar aos 180 dias. As perspectivas para a cultura nessa região da Amazônia são extremamente promissoras. 

Apesar das boas expectativas de produção para o Brasil, ainda vamos precisar comer o “pão que o Diabo amassou” por muito tempo ainda e pagar preços cada vez mais salgados na compra de trigo. 

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