De acordo com informações da COCERAL, associação europeia que representa vários setores da agricultura, a produção de grãos na União Europeia em 2020 totalizou 295,7 milhões de toneladas. Esse valor representa uma queda de mais de 5% quando é comparado com a produção de 2019, quando se atingiu a marca de 311,8 milhões de toneladas.
A cultura mais importante da Europa, o trigo, foi a que sofreu a maior queda de produção – foram cerca de 130 milhões de toneladas ante a produção de 146 milhões de toneladas de 2019. Outras culturas importantes como a cevada, o milho e a colza apresentaram pequenas variações. Os principais responsáveis por essa queda na produção foram o Reino Unido, os países dos Balcãs e partes da Escandinávia. A Espanha foi uma das poucas regiões que apresentou alta na produção.
Os relatórios da COCERAL não fazem qualquer referência aos impactos da epidemia da Covid-19 e se limitam a afirmar que a quebra de safra foi provocada pelo clima mais quente e seco em algumas regiões. É importante ressaltar também que essas culturas agrícolas utilizam intensa mecanização em todas as etapas de preparação dos solos, semeadura, irrigação e colheita, o que demanda um volume de mão de obra bastante reduzido quando comparado a outras culturas.
A COCERAL é a associação europeia que representa o comércio de cereais, arroz, rações, sementes oleaginosas, azeite, óleos e gorduras, além dos insumos agrícolas. A entidade representa os transportadores, distribuidores, exportadores, importadores e armazenadores dessas commodities agrícolas.
Essa redução da produção europeia de grãos acontece em um momento complicado da economia mundial, quando a imensa maioria dos países impõe restrições à circulação de pessoas por causa da epidemia da Covid-19 e sofrem com a redução das atividades econômicas, entre elas a agropecuária.
Também temos a China, país que vem elevando gradativamente as suas importações de alimentos, ao mesmo tempo em que a produção agrícola dos Estados Unidos, uma das maiores do mundo, vem patinando nos últimos anos. A Argentina, que também é um grande produtor mundial, enfrenta problemas políticos e econômicos internos, o que tem se refletido em quedas constantes da sua produção. Há graves riscos de escassez de alimentos em muitos países.
A FAO – Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, vem alertando que o mundo está entrando em ciclo de insegurança alimentar que “não é visto há várias décadas’. De acordo com a FAO, 130 milhões de pessoas estão sendo arrastadas para a pobreza, se somando aos mais de 690 milhões que já não tem o que comer regularmente. A esse grupo se somam outros 3 bilhões de pessoas em todo o mundo que não ganham o suficiente para manter uma alimentação adequada. Para a FAO, a epidemia da Covid-19 tem uma grande responsabilidade nessa crise alimentar.
Em meio a esse quadro complicado, a agricultura brasileira conseguiu o feito de aumentar a sua produção em 2020, superando a marca de 256 milhões de toneladas. A CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento, está projetando um aumento de até 8% na produção brasileira de grãos para o ano de 2021, com uma estimativa de safra próxima de 265 milhões de toneladas. Muitos produtores acreditam que a produção será ainda maior. Notem que a produção brasileira de grãos está se aproximando muito rapidamente da produção da União Europeia.
Apesar de todos os esforços e dos resultados conseguidos a muito custo pelos produtores brasileiros de grãos, que se diga de passagem estão ajudando a equilibrar a oferta mundial de alimentos, fomos surpreendidos mais uma vez pelas recentes declarações do Presidente da França, Emmanuel Macron, acusando nosso país de produzir grãos a base dos desmatamentos na Floresta Amazônica.
Conforme comentamos em uma postagem anterior, Macron disse que a França não pode continuar na dependência da soja brasileira e que não vai poupar esforços para aumentar a produção local, buscando uma autossuficiência a longo prazo. Só faltou o Presidente francês falar onde é que será plantada toda essa soja, uma vez que todo o território do país já tem uma produção agrícola consolidada. Uma alternativa que eu citei seria um avanço contra os remanescentes florestais que ainda cobrem cerca de 30% do território da França.
Um dado interessante é que a França vem reduzindo sistematicamente as importações de soja do Brasil desde 2012. De acordo com informações do canal de notícias Rural Business, a França importou 506.780 toneladas de soja do Brasil em 2012 – em 2020, foram apenas 83.460 toneladas, o que representa uma queda de 84%. De acordo com os dados disponíveis, as importações de soja pela França, principalmente o farelo de soja, foram de 1,96 milhão de toneladas em 2020 – a soja brasileira é irrelevante para o país.
Curiosamente, as importações de soja por parte de outros países europeus, principalmente as da Holanda, aumentaram muito no mesmo período. A Holanda apresentou um aumento de 91% de suas importações de soja, passando de 4,38 milhões de toneladas em 2012 para 8,38 milhões de toneladas em 2020. Como costumamos dizer no meu bairro – nesse mato aí tem coelho!
Jogando um pouco de vento nessa cortina de fumaça demagógica, o que temos mesmo são agricultores europeus altamente subsidiados pelos seus Governos, especialmente de grandes economias como a França, a Alemanha, a Espanha e a Inglaterra, citando só alguns exemplos, morrendo de medo da extrema competividade do agronegócio do Brasil e dos seus produtos.
Chova, faça sol, caia neve ou sobrevenha uma fortíssima seca, esses produtores terão os seus rendimentos garantidos por toda uma montanha de subsídios vindos dos seus próprios Governos e/ou da União Europeia. Quando um produtor do Centro-Oeste brasileiro, correndo todos os riscos da atividade, consegue produzir grãos e carnes com mais eficiência e maior produtividade que seus pares europeus, a coisa complica.
Esses grãos, carnes e outros produtos brasileiros ainda vão enfrentar todas as deficiências de infraestrutura e os gargalos logísticos do país até chegar aos portos e, ainda assim, tem melhores preços e qualidade. Isso está assustando muitos produtores rurais na Europa e nos Estados Unidos já há muito tempo – é preciso fazer alguma coisa para conter “esses brasileiros”.
Um exemplo: depois de mais de 20 anos de negociações, foi apresentado em 2019 o acordo comercial entre o Mercosul – bloco econômico formado pelo Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, e a União Europeia. Esse acordo precisa ser ratificado por todos os países-membros do bloco europeu antes de ser implementado. Logo de cara, países como a Irlanda, a Áustria e a França já bombardearam o acordo alegando que o Brasil está destruindo a Floresta Amazônica.
Na verdade, o problema é que esse acordo implicará numa redução de tarifa para importação de produtos agropecuários nos dois blocos econômicos, algo que seria mortal para os produtores europeus. A Irlanda, por exemplo, é o maior produtor europeu de carne bovina. França e Áustria estão na lista dos países que pagam os maiores subsídios aos agricultores. Como esses produtores vão conseguir competir com um país que produz duas, ou até três safras por ano?
Com seus rendimentos garantidos, os produtores agrícolas da Europa não se esforçam muito para aumentar a sua produtividade. Também não precisam se preocupar em reduzir a sua pegada ecológica ou em pesquisar novas culturas agrícolas – eles vêm mantendo a produção dos mesmos grãos há séculos.
Agora, se tem gente no mundo passando fome ou em risco de ficar sem alimentos, isso não é problemas deles. E a questão ambiental, notadamente a “destruição da Floresta Amazônica” é usada apenas como uma desculpa esfarrapada.
[…] SAFRA DE GRÃOS NA EUROPA TEM QUEDA DE MAIS DE 5% EM 2020, OU A PRODUÇÃO DE ALIMENTOS NO MUNDO EST… […]
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[…] os chineses tem aumentado continuamente as suas importações de alimentos e vivemos uma forte pressão para o aumento da oferta de grãos. Ou seja, estamos gastando volumes cada vez maiores de água para irrigação de nossos campos, […]
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[…] país já vinha enfrentando problemas nesses setores desde 2020, quando a pandemia da Covid-19, que atingiu fortemente a Itália, resultou numa enorme redução da mão de obra nos campos. […]
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