A partir do ano 2.000, a região Sudoeste dos Estados Unidos passou a enfrentar uma série de períodos de secas nas planícies e de baixa precipitação de neve nas diversas cadeias montanhosas, especialmente nas famosas Rockies Mountains, nome carinhos que os americanos dão às Montanhas Rochosas. A falta de chuva e de neve teve reflexos imediatos nos volumes de água que chegam aos diversos rios da região como o Colorado. A seca épica está afetando diretamente os Estados do Colorado, Utah, Arizona, Nevada e Califórnia, além do México. Também sofrem populações de cidades do Novo México e Wyoming, abastecidas por sistemas de transposição de águas captadas no Rio Colorado. A Califórnia foi um dos Estados que mais sofreu com a falta de água, especialmente no período entre os anos de 2010 e 2014 que, de acordo com os especialistas, foi a maior seca na região dos últimos 1.200 anos.
Um extenso estudo hidrológico realizado por especialistas da Universidade Estadual do Colorado e da Universidade do Arizona, comprovou que a falta de chuvas e de neve foram responsáveis por dois terços da redução de 19% no volume de águas do Rio Colorado a partir do ano 2000. No estudo foram analisados dados de temperatura, precipitações de chuva e neve, além de medições sistemáticas dos níveis de água da bacia hidrográfica do Rio Colorado entre os anos 2000 e 2014, que foram comparados com registros históricos, inclusive os dados registrados da grande seca ocorrida entre os anos de 1953 e 1967. Os arquivos públicos das autoridades ambientais federal e estaduais da bacia hidrográfica do Colorado possuem informações detalhadas da temperatura e precipitações a partir do ano de 1896 e dos volumes de água do rio a partir de 1906, o que permitiu uma verdadeira e minuciosa “radiografia” da situação hidrológica.
Este detalhado estudo, assinado por Brad Udall e Jonathan Overpeck, foi publicado em 2016 na revista Water Resources Research, concluiu que o declínio sistemático dos caudais do Rio Colorado se deve a alterações climáticas regionais provocadas pelo polêmico aquecimento global (uso esse termo porquê não existe consenso sobre este tema na comunidade científica, especialmente nos Estados Unidos). Estas mudanças climáticas estão reduzindo a umidade em toda a bacia hidrográfica do Rio Colorado, afetando cursos de água, bancos de neve, plantas e solos, além das perdas por evaporação e infiltração de água no solo. Para citar um único exemplo, os Lagos Mead e Powell, os dois maiores reservatórios do Rio Colorado, estão perdendo 700 milhões de metros cúbicos de água ao ano por evaporação e infiltração nos solos porosos de áreas de deserto. Altos níveis de evaporação de reservatórios e lagos sem a reposição por despejos de água por rios, chuvas e degelo, como todos já constataram em textos que publiquei recentemente, resultam em espelhos d’água encolhendo sistematicamente a olhos vistos – o Lago Mead está reduzido a 40% do seu nível de 15 anos atrás. A foto do Lago que ilustra este post mostra claramente, através das marcas brancas nos paredões de pedra, a redução do nível da água.
O Rio Colorado atravessa a região mais árida dos Estados Unidos, o Sudoeste americano, sendo inegavelmente a fonte de água mais importante de toda a região e o responsável pela modificação das paisagens, transformando terrenos semiáridos e desérticos em verdadeiros celeiros agrícolas a partir de gigantescos sistemas de irrigação. As mudanças induziram um virtuoso processo migratório – desde a década de 1960, 40 milhões de pessoas mudaram para a região Sudoeste, com a previsão de mais 20 milhões nos próximos 20 anos. Atualmente, um em cada dez americanos consome água retirada do Rio Colorado. Esse aumento populacional das cidades da região já vinha criando um conflito com os agricultores, os maiores consumidores de água – com a seca sem precedentes dos últimos anos, uma intensa disputa pelos direitos sobre o uso das águas foi deflagrada.
E as notícias não são nada boas para os milhões de habitantes da região e para as dezenas de milhares de agricultores dos terrenos irrigados, todos dependentes das águas do Rio Colorado: considerando o cenário mais conservador diante de todas as mudanças climáticas já observadas na bacia hidrográfica, o Rio Colorado deverá reduzir sua oferta de água em 0,5 bilhão de metros cúbicos ao ano até 2025, uma redução de 40%. Até o final do século, esta perda deve ser o dobro disto – lembrando que não existem fontes de água alternativas na região.
É uma catástrofe ambiental digna de um país do Primeiro Mundo!
PS: O título deste post é o nome de um excelente documentário que trata desta seca no Rio Colorado. Quando você tiver um tempo disponível (vídeo com uma hora e meia), dê uma olhada – vai valer a pena.
Veja também:
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IMPERIAL VALLEY: O MAIOR CONSUMIDOR DE ÁGUA DA CALIFÓRNIA
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onde acho esse documentário?
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Jair: no final do texto há link de acesso direto ao documentário
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[…] derretimento de geleiras em montanhas como os Alpes na Europa, os Andes na América do Sul, as Montanhas Rochosas na América do Norte, entre outras. A perda acelerada de grandes massas de gelo dessas montanhas comprometerá os […]
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[…] a forte seca que vem assolando toda a região Sudoeste dos Estados Unidos já há vários anos, o rio Colorado já não tem a mesma saúde de tempos de outrora e seus […]
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[…] Valley e seus organizados agricultores, que já estavam tendo seus próprios problemas com a redução dos volumes de água disponíveis e que não estavam dispostos a ceder nem mais um mísero litro de água para o abastecimento das […]
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