MUDANÇAS CLIMÁTICAS AFETAM MAIS AS MULHERES 

Normalmente, mulheres ganham menos que os homens fazendo o mesmo tipo de trabalho, trabalham mais – incluindo aqui a segunda jornada de trabalho em casa e o cuidado com os filhos, sofrem todo o tipo de discriminação – inclusive pelo simples fato de serem mulheres, além de formarem a maior parcela de pobres em inúmeros países. 

Logo, afirmar que as mulheres formam o grupo de nossas sociedades que mais está sendo afetado pelas mudanças climáticas é “chover no molhado”, como costumamos falar aqui no meu bairro. 

Esse é um assunto que provocou grandes discussões na COP26, realizada em Glasgow na Escócia no final do ano passado e que promete ocupar bons espaços na COP27, que está sendo realizada neste momento em Sharm el-Sheikh, uma cidade turística localizada entre o deserto da Península do Sinai e o Mar Vermelho no Egito. 

Segundo os organizadores, o lema dessa edição da Conferência será “Juntos para a implementação”. Um dos principais objetivos do encontro será a concretização de acordos e compromissos anteriores, a exemplo das negociações firmadas em 2015, na COP 21 em Paris. Porém, não será difícil encontrar um espaço nas agendas para tratar da questão das mulheres.

Relembrando, a COP – Conferência das Partes, ou Conference of the Parties em inglês, foi instituída logo após a Rio 92 – Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. A COP é o órgão supremo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima. Os países signatários da Convenção ratificaram o acordo em 1994, e passaram a se reunir anualmente a partir de 1995.   

De acordo com um relatório elaborado ainda no ano passado pelo Women in Finance Climate Action Group, um coletivo de mulheres líderes de todo o mundo, as mudanças climáticas intensificam as desigualdades, as vulnerabilidades, a pobreza e as relações desiguais de poder entre homens e mulheres.  

Um dado que confirma com clareza essa questão – as mulheres representam 80% das pessoas deslocadas por desastres naturais e pelas mudanças climáticas hoje no mundo. São secas regiões, enchentes, furacões e tempestades, entre outras tragédias. 

Para que os leitores tenham uma ideia do tamanho desse problema – de acordo com um relatório do Banco Mundial, publicado em 2021, até 216 milhões de pessoas terão de abandonar suas regiões por causa de problemas climáticos até o ano de 2050. As estimativas indicam que serão 17 milhões de refugiados somente aqui na América Latina. 

Na maioria das culturas, que são extremamente machistas, as mulheres se encarregam do cuidado do lar e dos filhos. Essas funções costumam colocar as mulheres em contato mais próximo com os recursos naturais em atividades como buscar e carregar água, plantar alimentos, coletar frutos em matas, transportar lenha, entre outras atividades. 

Como as mudanças climáticas estão afetando, por exemplo, a disponibilidade de água, essas mulheres estão sendo obrigadas a realizar caminhadas cada vez maiores em busca do precioso líquido. A redução das chuvas e as secas cada vez mais frequentes também estão afetando a produção de frutas, o que força a buscas por alimentos em lugares cada vez mais distantes de seus lares. 

É fundamental, para não dizer essencial, que as questões relacionadas a essas mulheres ganhem prioridade absoluta em qualquer política voltada ao combate dos efeitos das mudanças climáticas. E a COP é uma excelene oportunidade par isso.

Governos precisam, urgentemente, criar mecanismos financeiros para ajudar de alguma maneira essas mulheres. Um exemplo que podemos citar são os programas de complementação de renda como os que existem aqui no Brasil. Por menores que sejam os valores pagos, são recursos que auxiliam as famílias – em especial as mulheres que chefiam as famílias, a garantir parte do sustento da casa. 

Também é preciso criar mecanismos de microcrédito com vistas a criação de pequenos negócios e empreendedorismo. Esses financiamentos permitem quebrar o ciclo contínuo da pobreza, que em tempos de mudanças climáticas, tende a aumentar ainda mais, permitindo que as mulheres consigam alcançar algum tipo de autossuficiência financeira. 

A preocupação com a flora, a fauna, os recursos hídricos e com a agricultura são importantes. Entretanto, o cuidado com as mulheres é uma garantia de futuro para as novas gerações que, desgraçadamente, herdarão essa nossa Terra cheia de problemas. 

São essas mulheres que estão educando e cuidando dos futuros líderes, homens e mulheres, que terão a ingrata missão de resolver todos os problemas ambientais que gerações anteriores – como a nossa, criaram. 

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PESQUISA REVELA QUE JOVENS – ESPECIALMENTE AFRICANOS, ESTÃO RECONSIDERANDO A IDEIA DE TER FILHOS POR CAUSA DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS 

Água, Vida & Cia é um blog que surgiu há pouco mais de seis anos com o objetivo de apresentar os inúmeros problemas ambientais nas áreas de saneamento básico e dos recursos hídricos. Falamos muito da poluição e do descaso com nossos rios, da falta de infraestrutura para o controle de águas pluviais em nossas cidades, da sofrível situação do saneamento básico – especialmente da falta de sistemas de coleta e tratamento de esgotos, entre muitos outros problemas. 

De algum tempo para cá o blog começou a falar bastante dos problemas associados às mudanças climáticas. O problema foi negado sisitematicamente por muitos líderes mundiais ao longo de muitos anos. Porém, o aumento das temperaturas em todo o planeta passou a mostrar todos os seus efeitos danosos nesses últimos dois ou três anos, ficando difícil ficar inerte diante de tamanha enxurrada de más notícias. 

A maior parte dos problemas que estão pipocando no mundo hoje estão ligados a fortes ondas de calor, secas, perdas de safras agrícolas, aumento da frequência e da intensidade de tempestades, incêndios florestais, entre outras questões desse tipo. 

Problemas exclusivamente sociais ligados aos efeitos das mudanças climáticas eram raros em nossas postagens, algo que possivelmente deverá mudar ao longo do tempo. Cada vez mais, problemas ambientais estão afetando diretamente a vida de cidadãos em todo o mundo e será importante tratarmos disso por aqui. 

Uma notícia preocupante, divulgada ontem, dia 9 de novembro, ilustra bem a que ponto chegamos. De acordo com o boletim ONU News, um informativo online da ONU – Organização das Nações Unidas, jovens em todo o mundo estão reconsiderando a ideia de formar uma família e ter filhos por conta dos problemas decorrentes das mudanças climática. 

Pesquisa feita pelo UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância, entrevistou 240 mil pessoas em todo o mundo para chegar a essa conclusão. A situação é mais crítica no Norte da África e na África Subsaariana. 

A nível global, dois em cada cinco jovens entrevistados disseram que os impactos gerados pelas mudanças climáticas estão afetando seus desejos de formar uma família. No Oriente Médio e no Norte da África esse percentual sobre para 44% e na África Subsaariana é de 43%. 

Nas duas regiões africanas os jovens relataram que tem sofrido inúmeros choques climáticos e, mais do que em qualquer outra parte do mundo, afirmaram que esses choques afetaram seu acesso a fontes de água e de alimentos, além de comprometer a renda de suas famílias. O pessimismo criado por essas situações impacta diretamente nos planos de vida desses jovens. 

Em 2021, a revista médica inglesa The Lancet publicou uma pesquisa semelhante, onde foram entrevistados 10 mil jovens em todo o mundo. O estudo concluiu que 39% dos jovens se sentiam hesitantes quanto a questão de ter filhos, um percentual bastante próximo do que foi apurado pela pesquisa do UNICEF. 

Outras conclusões importantes da pesquisa: 

Mais da metade dos entrevistados a nível global afirmaram que sofreram com seca e calor extremo. A poluição do ar afeta um quarto dos entrevistados e outro quarto disse ter sofrido com inundações. Um em cada seis entrevistados presenciou tempestades severas ou ciclones frequentes e 10% incêndios florestais. 

Aproximadamente 40% mencionou ter acesso menor a alimentos por conta das mudanças climáticas. Os maiores percentuais dessa afirmação ficaram por conta de jovens da África Subsaariana, seguidos pelo Oriente Médio e Norte da África com 52% e 31%, respectivamente. 

Ao menos um quarto dos entrevistados afirmou que a fonte de renda de suas famílias foi impactada de alguma forma pelas mudanças climáticas. Mais uma vez, as regiões mais afetadas por esse problema foram o Oriente Médio, o Norte da África e a África Subsaariana, com percentuais acima de 30%. 

Outra reclamação frequente é a dificuldade no acesso a água potável, drama citado por 20% dos entrevistados. O Oriente Médio e o Norte da África lideram esse problema, com 35% das citações, seguido pelo Leste Asiático e Pacífico, com 30% das citações. 

Finalizando, cerca de 60% dos entrevistados consideram a possibilidade de mudar de cidade ou de país por conta das mudanças climáticas. Essa questão foi citada por cerca de 70% dos jovens do Oriente Médio e do Norte da África, seguidos por 66% de citações na América Latina e no Caribe. 

Como é bem fácil de ver nos números, o quadro mostrado por essa pesquisa mostra o tamanho do pessimismo dos jovens ante um futuro que será marcado pelos efeitos das mudanças no clima, falta de água e dificuldades cada vez maiores no acesso aos alimentos. 

Em uma série de postagens recentes publicadas aqui no blog mostramos algumas das dificuldades vividas por populações na África em questões como escassez de água, destruição de florestas, degradação de solos agrícolas e redução contínua da capacidade de produção de alimentos em muitos países. 

Diante desse tipo de cenários não é de se estranhar que os jovens africanos sejam os mais pessimistas em relação ao seu próprio futuro e e também da humanidade com um todo.  

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AO CONTRÁRIO DO QUE ACONTECE NO RESTO DO MUNDO, O NÍVEL DO MAR ESTÁ BAIXANDO NA ISLÂNDIA 

Localizada a meio caminho entre a Escandinávia e a Groenlândia, a Islândia é uma grande ilha vulcânica com pouco mais de 102 mil km2. Uma das características mais peculiares da ilha é a sua estrutura geológica – cerca de metade da ilha está localizado sobre a Placa Euroasiática e a outra metade sobre a Placa Norte-americana. 

A Islândia é considerada como um dos últimos territórios europeus a ser colonizado por seres humanos, o que se deve ao seu descobrimento tardio. De acordo com a descrição do Landnámabók ou Livro da Colonização, um detalhado manuscrito medieval do século XII, a ilha foi descoberta acidentalmente por navegadores nórdicos por volta do ano 800 de nossa era e os primeiros colonizadores teriam se estabelecido na ilha no ano 874, na região de Reykjavik, capital do país (vide foto). 

De acordo com uma das versões do descobrimento da Islândia (o Landnámabók tem várias), o marinheiro escandinavo Naddoddr se perdeu durante uma viagem para as Ilhas Feroé e acabou atingindo a costa Oeste da ilha. Ele batizou a ilha com o nome Snæland – terra da neve. Anos depois, o explorador norueguês Flóki Vilgerðarson aportou na ilha para passar o inverno e rebatizou o lugar como Ísland – terra do gelo. 

Todas as descrições dos primeiros navegadores e exploradores que chegaram até a Islândia ressaltam a beleza e a magnitude das paisagens geladas da ilha, suas grandes geleiras, seus fiordes e suas fontes de água termais. Essa imagem se perpetuou ao longo da história e se transformaram em uma espécie de marca registrada da ilha em todo o mundo. 

Em tempos de aquecimento global e de aumento das temperaturas em todo o mundo, essa imagem da Islândia precisa ser urgentemente revista. Assim como se assiste na Groenlândia, na Antártida e em outras terras frias do planeta, as paisagens da ilha estão mudando muito rapidamente devido a perda de enormes massas em suas grandes geleiras. 

Um exemplo dessa situação foi o que ocorreu em agosto de 2019, quando foi decretada a morte” oficial da geleira Okjökull. Essa geleira ocupava uma área com cerca de 38 km² em 1901 e vinha perdendo massa desde então, apresentando uma área menor que 1 km² em 2019. A Islândia tem cerca de 400 geleiras e, de acordo com as estimativas atuais, o aquecimento global vai eliminar totas em no máximo 200 anos.  

Muito mais do que uma alteração no padrão climático de toda a ilha, a perda de massa de gelo está provocando mudanças importantes na geografia da Islândia. Uma das mais curiosas é o gradativo soerguimento da ilha em relação ao nível do mar. Enquanto a maioria dos países com fachada oceânica experimenta um avanço do nível do mar, na Islândia as águas estão baixando. 

Um dos efeitos mais evidentes do soerguimento dos solos da Islândia pode ser visto nitidamente nos canais de navegação dos portos ao redor da ilha. Massas de rocha estão aflorando por todos os lados, criando grande dificuldade e perigos reais para a navegação. É importante citar que a indústria pesqueira é uma das principais atividades econômicas da Islândia. 

Segundo as projeções da NASA – Administração de Aeronáutica e Espaço dos Estados Unidos, o derretimento das geleiras ao longo das próximas décadas vai provocar uma elevação de 1 metro nos oceanos de todo o mundo, o que deverá redesenhar o mapa mundi. Na Islândia, ao contrário, o nível do mar deverá apresentar um recuo de 20 cm. 

Para entender o que está acontecendo tomemos como exemplo a maior massa de gelo da Islândia – a geleira Vatnajökull. Essa imensa estrutura natural ocupa uma área com aproximadamente 8.100 km², o que corresponde a 8% da superfície do país. Essa geleira é considerada a segunda maior capa de gelo da Europa e a maior em volume – a espessura do manto de gelo chega a 1 km. 

O peso dessa impressionante massa de gelo sempre exerceu uma poderosa compressão sobre os solos e rochas. Com o gradual derretimento da capa de gelo, o peso sobre o solo vai diminuindo e passa a ocorrer uma gradual descompressão das rochas, que passam a se elevar em relação ao nível do mar. 

De acordo com Thomas Frederikse, um pós-doutorando no Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa, a situação da ilha é mais complexa. Segundo ele, “a camada de gelo é tão pesada que puxa o oceano em direção a ela, devido à gravidade. Mas se o manto de gelo derrete, essa atração começa a enfraquecer e a água se afasta. Quanto mais distante você está do manto de gelo, mais água você recebe”. 

A perda de massa de gelo em geleiras e glaciares de montanha respondem por cerca de 2/3 da elevação do nível do mar em nossos dias. No caso da Islândia, o derretimento de todas as suas geleiras implicaria em um aumento de apenas 1 cm no nível dos oceanos. 

No caso da Groenlândia e Antártida, regiões com áreas imensamente maiores, o derretimento das geleiras seria algo catastrófico para todo o planeta. De acordo com as projeções de especialistas, o derretimento do manto de gelo da Groenlândia tem potencial para elevar o nível dos oceanos em 7,5 metros. No caso da Antártida, esse derretimento contribuiria para um aumento de quase 60 metros no nível dos oceanos. 

Enquanto situações mais catastróficas associadas ao aumento do nível dos oceanos ainda estão no plano teórico, o recuo do mar ao redor da Islândia está exigindo medidas práticas no curto prazo. Áreas portuárias do país precisão receber pesados investimentos para o rebaixamento do nível dos canais de navegação, inclusive com o derrocamento de grandes massas de rocha. Em alguns casos, será mais barato reconstruir as áreas portuárias em outros lugares. 

Como acontece com todo país insular, a Islândia depende fortemente da navegação e da pesca para a sobrevivência de sua pequena população de pouco mais de 360 mil habitantes. A situação “surreal” que está se desenhando em seu litoral não poderá continuar por muito mais tempo, sob risco de destruir a já combalida economia do país. 

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O IMPACTO DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS NAS POPULAÇÕES DE INSETOS

Em nossa última postagem apresentamos algumas conclusões de um interessante estudo sobre as mudanças de comportamento de macacos arborícolas e lêmures por causa das mudanças climáticas. Observações em inúmeros sítios nas Américas e na Ilha de Madagascar mostraram que esses animais estão passando mais tempo em incursões nos solos. 

Essa mudança de comportamento está associada, segundo os pesquisadores, ao aumento das temperaturas, o que está provocando mudanças em muitas florestas. Com a diminuição e a irregularidade das chuvas em algumas regiões, uma tendência que deverá se intensificar nos próximos anos, as florestas estão ficando com menos árvores e os animais arborícolas estão buscando sombra e alimentos no solo. 

Desgraçadamente, não são apenas esses primatas que estão sendo impactados pelo aumento das temperaturas – estudos mostram que os insetos também estão sofrendo fortemente com as mudanças climáticas. Alguns estudiosos, inclusive, chegam a profetizar um verdadeiro “apocalipse” para muitas espécies. 

É provável que muitos dos leitores não entendam o significado de um evento dessa magnitude. Para muitos, insetos são criaturas horripilantes – tomando como exemplos as baratas e os mosquitos, sendo causadoras de todos os tipos doenças. Mesmo sendo um argumento parcialmente verdadeiro, a questão é muito mais complexa. 

As diferentes espécies de insetos formam o grupo de animais mais diversificado e mais largamente distribuído do nosso planeta – os artrópodes. Só para esclarecer: artrópodes (filo Arthropoda) são animais dotados de patas articuladas e que possuem esqueleto externo (exoesqueleto) nitidamente segmentado. Entre eles se incluem as ditas baratas e os mosquitos, além de insetos como besouros, borboletas, aranhas, centopeias, entre muitos outros, além de animais como camarões e caranguejos. 

Estimativas afirmam que algo ao redor de 70% de todos os seres vivos já descritos pela ciência são insetos. Calcula-se que já foram descritos aproximadamente 1 milhão de espécies de insetos, faltando algo entre 5 e 30 milhões de espécies a serem descritas. Esses números nos dão uma vaga ideia de importância ecológica dessas pequenas criaturas. 

De acordo com estudos recentes, os primeiros insetos surgiram há cerca de 480 milhões de anos, mais ou menos na mesma época em que as primeiras plantas terrestres começaram a aparecer. Ao longo de sua longa história evolutiva, os insetos foram se diversificando e se adaptando para uma vida em todos os ecossistemas terrestres do planeta – algumas espécies, inclusive, se adaptaram para a vida no meio aquático. 

Uma pesquisa realizada por pesquisadores da Universidade James Cook, da Austrália, mostrou que as mudanças climáticas poderão colocar um fim na história de muitas dessas espécies, ao mesmo tempo em que poderão reduzir drasticamente o número de várias populações desses animais. 

Um dos principais problemas apontados na pesquisa é a pouca capacidade desses animais para regular a temperatura corporal. Insetos são animais ectotérmicos, ou seja – eles não produzem calor suficiente para a termorregulação do organismo e ajustam suas temperaturas corporais por meio de mecanismos comportamentais. 

Nós seres humanos, citando um exemplo, possuímos um organismo que consegue regular a sua temperatura de forma independente das condições ambientais. Nosso suor, por exemplo, permite a redução da temperatura corporal em casos de calor excessivo. 

Essa incapacidade de auto regulação das temperaturas corporais poderá ser fatal para inúmeras espécies de insetos que vivem em regiões onde as temperaturas aumentarão nas próximas décadas. Estudos indicam que as temperaturas poderão aumentar de 2° até 5° C em muitas regiões até o ano 2100. 

Esse aumento das temperaturas também poderá comprometer as fontes de alimentos desses animais. Temperaturas mais altas e uma menor precipitação tendem a transformar áreas que atualmente são cobertas por florestas em campos cobertos por gramíneas. Insetos como os cupins, citando um exemplo, que se alimentam de madeira das árvores, serão altamente prejudicados por essa mudança na flora. 

Também existe o risco de um aumento na predação de diversas espécies de insetos por animais maiores como aves e mamíferos, que eventualmente venham a perder seus nichos ecológicos na copa das árvores. Podemos citar aqui os casos já citados dos macacos e dos lêmures. 

A perda desses insetos terá impactos diretos na vida dos seres humanos. Vou citar o caso mais clássico – a importância de insetos como as abelhas na polinização das plantas. Estimativas indicam que, pelo menos metade de todos os alimentos que nós humanos consumimos, depende da polinização feita por insetos como as abelhas. 

Um outro exemplo: parte considerável da produção de solos férteis se deve a ação de insetos terrestres que se alimentam de folhas e galhos de árvores que caem sobre os solos. Um grande exemplo que podemos citar são as formigas. 

Ou seja: por maiores que sejam as repulsas que muitos sentem em relação a esses pequenos animais, os insetos são essenciais para o funcionamento dos mais diferentes ecossistemas de nosso mundo. O desaparecimento ou a redução de populações de espécies de insetos, mais cedo ou mais tarde, afetará diretamente a vida das populações humanas. 

Entre tantas outras grandes preocupações que as mudanças climáticas estão gerando, precisamos achar espaço para “pequenas” preocupações com o bem estar e a sobrevivência dos insetos. 

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MACACOS E LEMURES PODERÃO TROCAR AS ÁRVORES POR UMA VIDA NO SOLO DEVIDO AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS 

cerca de 24 milhões de anos, as regiões Nordeste e Leste da África eram cobertas por densas florestas. A região tinha um clima e quente chuvoso, muito parecido com o clima atual da região central do continente. Como acontece em toda floresta densa, essas matas abrigavam espécies animais adaptados para a vida nesse tipo de bioma, com destaque aqui para diversas espécies de macacos arborícolas, ou seja, que vivem na copa das árvores. 

As evidências dessa vegetação foram encontradas em sedimentos marinhos escavados por um navio de pesquisa no Mar Vermelho e no Oceano Índico Ocidental. Analisando os sedimentos, os pesquisadores encontraram produtos químicos e pólen criados por essa antiga vegetação, que foram lavados pelas chuvas ou carregados pelos ventos até o oceano. 

As mesmas evidências mostram que mudanças climáticas atingiram essa região entre 24 e 10 milhões de anos, transformando gradativamente as grandes florestas em savanas muito parecidas como o Cerrado Brasileiro. As grandes árvores passaram a rarear enquanto uma vegetação formada basicamente por gramíneas começou a ganhar espaço. Essas mudanças na vegetação tiveram profundas repercussões na vida animal. 

Entre 6 e 7 milhões de anos, algumas espécies de macacos arborícolas foram obrigadas a mudar de comportamento – sem contar com o abrigo e o acesso aos seus alimentos nas árvores, esses animais passaram a viver no solo na sua luta pela sobrevivência.  

Essa mudança de estilo de vida levou a uma mudança evolutiva nesses animais, fazendo surgir dois ramos distintos – de um lado evoluíram os chimpanzés e do outro os hominídeos, ancestrais de nós seres humanos. A região onde isso ocorreu é o território atual da Etiópia e do Quênia, considerado pela maioria dos especialistas como o berço da humanidade

Um estudo recente, coordenado por pesquisadores da San Diego Zoo Wildlife Alliance e com a participação de outros 118 pesquisadores de 124 instituições ao redor do mundo, mostrou que as atuais mudanças climáticas estão provocando uma mudança de comportamento muito parecida em espécies de macacos e de lêmures: esses animais estão trocando os galhos das árvores pelo solo. 

O estudo começou a partir de observações aleatórias de alguns dos pesquisadores, que passaram a suspeitar que algumas espécies de macacos arborícolas estavam passando mais tempo no solo que o normal. Dessas observações surgiram discussões entre vários grupos de pesquisadores, o que acabou levando a um estudo mais detalhado dessa questão. 

Foi criada uma grande equipe internacional de pesquisadores para se aprofundar no assunto. O grupo analisou mais de 150 mil horas de filmagens do comportamento de 47 espécies de macacos e lêmures em 68 locais diferentes nas Américas e na Ilha de Madagascar. 

O estudo mostrou que as espécies que consomem menos frutas em sua dieta alimentar e que vivem em grandes bandos são as mais propensas a se arriscar descendo ao solo. Essas “aventuras” no solo das florestas têm como principais objetivos a busca por outros tipos de alimentos e também o conforto das temperaturas mais amenas na sombra das árvores. 

Assim como aconteceu num passado distante na faixa Leste e Nordeste da África, mudanças climáticas estão alterando o regime de chuvas em muitas regiões, uma mudança de provoca reflexos na vegetação das florestas. Sem contar com os ciclos regulares de chuva, as árvores tendem a definhar e abrir espaço para uma vegetação rasteira como as gramíneas, plantas que necessitam de quantidades muito menores de água para sobreviver. 

Entre suas conclusões, os pesquisadores também sugerem que esse comportamento dos animais decorre da destruição e da fragmentação das áreas florestais por ações humanas. Com menos árvores, os animais ficam mais expostos aos raios solares e passam a sofrer com a falta de alimento – especialmente frutas. 

Muitas espécies que só se alimentam de frutas, por exemplo, estão sendo forçadas a mudar de hábitos, passando a consumir uma dieta mais generalizada, incluindo no cardápio raízes de plantas e outros alimentos que só são encontrados no solo. Em regiões onde a vegetação está bem preservada e existem poucas interferências humanas, o comportamento dos animais não mudou. 

Um outro ponto interessante que também foi observado é que os animais estão formando grupos maiores do que os usuais na copa das árvores. Essa é uma medida que está relacionada diretamente com a exposição maior aos predadores terrestres – grupos maiores garantem uma maior segurança aos indivíduos. 

Esse tipo de estudo costuma causar grandes polêmicas, especialmente dentro de grupos que não acreditam na teoria da evolução das espécies. Sem querer entrar em maiores polêmicas, acredito que o que está acontecendo no momento é simplesmente uma luta desses animais pela sobrevivência. Se isso vai levar ou não ao surgimento de novas espécies de animais num futuro distante, essa é outra conversa. 

Agora, não há como negar que mudanças ambientais forçam animais a se adaptar às novas condições. Um exemplo fartamente documentado é o dos sapos-cururu na Austrália. Originários Da América do Sul, esses animais foram introduzidos nas Ilhas do Havaí com o objetivo de predar algumas espécies de insetos que atacavam os canaviais locais. O experimento deu bons resultados. 

Tentando repetir a façanha, agricultores da Austrália introduziram esses animais no país em 1933, na tentativa de combater uma espécie local de besouro que estava destruindo os canaviais. Infelizmente, os sapos não conseguiram se dar bem nessa nova missão e passaram a se dispersar por todo o interior seco do continente australiano, mostrando uma notável adaptação ao novo meio ambiente.

Um detalhe interessante: os cientistas australianos descobriram que os sapos-cururu passaram por adaptações físicas e aumentaram a sua velocidade de propagação em cinco vezes ao longo dos últimos 60 anos. Estudos anatômicos comparativos com espécimes da década de 1930, preservados em museus, demonstraram que as patas traseiras dos sapos-cururu tiveram um aumento de 25% em seu comprimento, aumentando proporcionalmente a força muscular e a velocidade dos animais. 

Que ninguém se espante se, num futuro próximo, venha a encontrar um macaquinho rápido e ágil como um coelho correndo em disparada numa campina… 

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POLUIÇÃO EXTREMA DO AR FORÇA O FECHAMENTO DE ESCOLAS EM NOVA DÉLHI  

O Governo da Índia anunciou, mais uma vez, o fechamento de todas as escolas da capital do país – Nova Délhi, a partir de sábado, dia 5 de novembro. De acordo com as autoridades locais, os níveis de poluição do ar atingiram “níveis perigosos”. Além da forte poluição do ar provocada pelo caótico trânsito de uma das maiores regiões metropolitanas do mundo, existem as emissões de inúmeras centrais termelétricas a carvão e, especialmente, as queimadas agrícolas em todo o norte da Índia. 

De acordo com informações da empresa suíça IQAir, especialista no monitoramento da qualidade do ar, o nível de partículas de poluição do tipo PM2,5 na cidade alcançou uma marca 25 vezes superior ao máximo estabelecido pela OMS – Organização Mundial da Saúde.  

Em decisão recente, A OMS reviu suas recomendações para os níveis máximos de concentração dessas partículas – os novos limites são 5 micro gramas e 15 micro gramas por metro cúbico de ar, respectivamente, para a PM2,5 e PM10.   

Toda a faixa que engloba o Norte da Índia e o Sul do Paquistão é considerada como uma das áreas com o ar mais poluído do mundo. No final de 2021, Lahore, uma cidade paquistanesa de 11 milhões de habitantes e localizada muito próxima da fronteira com a Índia, foi declarada como a cidade com o ar mais poluído do mundo pela iniciativa Monitor da Qualidade do Ar. 

Com a chegada do inverno, quando o ar fica mais frio, a dispersão dos poluentes é dificultada e a concentração de poluição do ar nas cidades indianas aumenta vertiginosamente. O problema é amplificado pelo início da colheita de culturas como a da cana-de-açúcar, onde os agricultores locais ainda utilizam da queima da palha para facilitar o corte das plantas. 

Essa situação é particularmente grave no Estado indiano do Punjab, considerado como um dos celeiros agrícolas da Índia. Parte do Punjab acabou ficando do lado do Paquistão durante o processo de partilha do antigo território do Vice Reino Britânico da Índia em 1947. 

De acordo cm informações do Governo da Índia, cerca de 1/3 da poluição de Nova Délhi tem como origem as queimadas nas áreas agrícolas. Numa tentativa de combater essa poluição, o Governo Central e também os Governos Estaduais proibiram as queimadas, porém, são muitos os agricultores que persistem com essa técnica tradicional de colheita. 

A situação também está ganhando contornos de crise política – tanto a prefeitura de Nova Délhi quanto o Governo do Punjab são de partidos de oposição ao Primeiro-ministro Narendra Modi. Está se desenrolando uma guerra de críticas entre os dois lados, sem que se resolva a situação. 

Conforme já tratamos em outras postagens, a Índia é fortemente dependente do carvão mineral, combustível essencial para a geração de energia elétrica e também para uso em processos industriais. O carvão responde por 40% da matriz energética do país – a índia queima cerca de 600 milhões de toneladas de carvão pa cada ano. Some-se a isso uma gigantesca frota de veículos antigos com motores de combustão interna e indústrias de todos os tipos 

Mais de 60% da geração de energia elétrica da Índia é feita em centrais termelétricas à carvão, uma das fontes energéticas mais sujas e poluentes do mundo. Cerca de 300 milhões de indianos, ou cerca de 20% da população, não tem acesso ao uso de eletricidade, o que sinaliza que as coisas ainda podem piorar muito. 

A maior parte dessa população marginal pertence às classes mais pobres do país e passa suas noites sob a luz de velas, lampiões e fogueiras, além de não ter acesso ao uso de quaisquer equipamentos eletrônicos, eletrodomésticos e outros confortos da sociedade moderna.  O Governo da Índia está fazendo pesados esforços para aumentar a oferta de energia elétrica no país, o que, em tempos de crise mundial de energia, poderá significar mais queima de carvão. 

Outra questão complicada e difícil de resolver no país é a renovação da frota de veículos, outra importante fonte de poluição do ar das cidades indianas. Incentivar o uso de veículos elétricos, a exemplo de muitos países industrializados vinham fazendo, é inviável na Índia – mais consumo de energia elétrica significa mais carvão sendo queimado em centrais termelétricas. 

Uma boa opção para o país seria o incentivo ao uso de biocombustíveis como o etanol, muito utilizado aqui no Brasil. Grande produtor de açúcar, a Índia tem a opção de instalar destilarias para a produção de etanol, podendo utilizar, inclusive, a queima do bagaço da cana-de-açúcar para a geração de energia. Várias montadoras já exportaram veículos com motor flex para o país para testes e tem planos para fabricar localmente esses veículos. 

Já para o problema das queimadas agrícolas, esse é bem mais complexo. A agricultura é o maior empregador de mão de obra da Índia, especialmente em pequenas propriedades. Como essa mão de obra é extremamente barata, os agricultores preferem utilizar as técnicas mais arcaicas de colheita. 

Além de sua aplicação no corte da cana, as queimadas também são largamente utilizadas para a limpeza e preparação de solos para o cultivo, nada muito diferente do que feito por pequenos agricultores aqui no Brasil que se valem da tradicional coivara. 

Com uma população superior a 1,3 bilhão de habitantes e com a necessidade de gerar cerca de 1 milhão de empregos a cada mês somente para absorver a mão de obra dos jovens que estão entrando no mercado de trabalho, é muito difícil imaginar que a Índia vá tomar maiores medidas para resolver o grave problema da poluição do ar no país. 

Finalizando, um dado que mostra a situação caótica do país: das 100 cidades com o ar mais poluído do mundo, 46 ficam na Índia. 

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GRANDES PLANTAÇÕES DE EUCALIPTO AMPLIFICAM PROBLEMAS CRIADOS PELAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS 

Um estudo realizado por pesquisadores brasileiros e franceses confirmou uma suspeita já antiga – grandes plantações florestais comerciais de rápido crescimento podem consumir praticamente todo o volume de água das chuvas de uma determinada região. Aqui no Brasil, o alerta vale para as grandes plantações de eucalipto, espécie que responde por 80% dos plantios comerciais. 

O alerta e algumas das conclusões desse estudo foram publicadas recentemente no portal de notícias da FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. 

De acordo com o professor Pedro Brancalion da ESALQ – Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, instituição ligada a USP – Universidade de São Paulo, a falta de planejamento e, obviamente, de estudos de impacto ambientais dessas plantações podem intensificar eventos regionais de secas, um problema grave resultante das mudanças climáticas. 

Segundo informações da FAPESP, o projeto faz parte de uma rede de experimentos que tem como principal objetivo entender os impactos da diversidade de espécies de árvores no funcionamento dos ecossistemas. Além do Brasil, também integram o projeto experimentos da Áustria, Suécia, Bélgica, Alemanha e França. Além de pesquisadores de universidades e instituições de pesquisa, o projeto também inclui órgãos de fiscalização florestal desses países. 

O plantio comercial de grandes florestas surgiu em resposta ao alto consumo de madeira para usos pelas indústrias de móveis, da construção civil e de papel e celulose. A exemplo do que assistimos aqui no Brasil ao longo de nossa história, grandes florestas nativas em todo o mundo desapareceram por causa das atividades humanas como a agricultura, a pecuária e também pela exploração madeireira. 

A produção em larga escala de madeira em florestas artificiais pareceu, a princípio, ser uma ótima alternativa para atender a alta demanda dos mercados, ao mesmo tempo em que ajudaria a proteger, e até recuperar, os remanescentes florestais das matas nativas. Esses plantios vêm crescendo de maneira exponencial ao longo das últimas décadas. 

Segundo a FAPESP, existem aproximadamente 10 milhões de hectares de plantações comerciais de madeira aqui no Brasil, majoritariamente de eucalipto. Um exemplo já mostrado em postagens aqui no blog é o caso do Espírito Santo, onde extensas regiões de antigos domínios da Mata Atlântica foram tomadas por um “mar” de eucaliptos. 

A produção de madeira dessas florestas tem como destino principal as indústrias de papel e de celulose. De acordo com a FAPESP, mais da metade dessas plantações de eucalipto é formada por plantas criadas a partir de um único clone, ou seja, todas possuem a mesma composição genética. Essa “padronização” genética garante o rápido crescimento das árvores, porém reduz a resiliência das florestas a problemas ambientais. 

Essa equação ambiental tem uma falha grave – essas florestas crescem vigorosamente enquanto se tiver uma farta disponibilidade de água. Entretanto, a falta de água em momentos de seca poderá secar ou até matar as árvores. Muito pior – a floresta poderá consumir toda a água disponível nessa região em prejuízo de outras espécies e populações. 

Em palestra no evento “Climate change and biodiversity scientific cooperation day”, realizado no dia 20 de outubro no IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas, o professor Brancalion afirmou que “é preciso buscar meios de tornar as plantações florestais mais resilientes à seca e econômicas no uso da água”. 

De acordo com o pesquisador, ” quanto mais espécies uma floresta (plantio comercial de árvores) tiver, melhor será seu funcionamento e sua resiliência às mudanças climáticas, pois usará de forma mais eficiente recursos ambientais como a água“. 

Os pesquisadores da ESALQ e do CIRAD – Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento, da França, conduzem seu experimento em uma área de seis hectares na cidade de Itatinga, no interior do Estado de São Paulo. A área é denominada Estação Experimental de Ciências Florestais da ESALQ/USP. 

Na área são encontrados 150 diferentes formatos de silvicultura, onde são comparadas as performances das espécies utilizadas. Essa comparação vai do monocultivo (plantio de uma única espécie) até o plantio combinado de até seis espécies diferentes, entre exóticas e espécies nativas da Mata Atlântica e do Cerrado. 

A experimentação científica é sempre o melhor para a solução de problemas ambientais, fugindo da opinião dos “especialistas”, uma verdadeira praga na área ambiental. Os resultados desses estudos também serão fundamentais para o confronto com os grandes grupos multinacionais que dominam o setor da silvicultura. 

Esses grupos costumam afirmar que suas plantações não criam problemas ambientais, não consomem excessos de água e também não prejudicam a biodiversidade. Além disso, suas atividades ajudam a garantir a geração de trabalho e renda para as comunidades rurais. Qualquer pessoa com um mínimo de bom senso e que fizer uma rápida incursão pelos ‘mares verde de eucalipto” do Espírito Santo vai perceber que as coisas não são bem assim. 

A “eucaliptização”, neologismo que eu costumo usar, fez desaparecer uma série de terras indígenas no Norte do Espírito Santo. Uma rápida lista: Amarelo, Olho d’Água, Guaxindiba, Porto da Lancha, Cantagalo, Araribá, Braço Morto, Areal, Sauê, Gimuhuna, Piranema, Potiri, Sahy Pequeno, Batinga, Santa Joana, Morcego, Garoupas, Rio da Minhoca, Morobá, Rio da Prata, Ambu, Lagoa Suruaca, Cavalhinho, Sauaçu, Concheira, Rio Quartel, São Bento, Laginha, Baiacu, Peixe Verde, Jurumim e Destacamento.   

O avanço das plantações também expulsou pequenos agricultores e comunidades quilombolas. Quem conseguiu resistir, passou a conviver com uma redução drástica da oferta de água nos rios e córregos, o que inviabilizou a agricultura de subsistência. Isso sem falar nos impactos a fauna e flora nativas. Esses problemas em terras capixabas se repetem em todo o mundo nas regiões próximas das florestas comerciais. 

O conhecimento criado por esses estudos é bem-vindo e poderá ajudar bastante nesses novos tempos de mudanças climáticas. 

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CABO VERDE E SEUS GRANDES PROBLEMAS AMBIENTAIS

De acordo com Plutarco, um historiador, biógrafo, ensaísta e filósofo médio platônico grego do início da Era Cristã, existia no meio do Oceano Atlântico um conjunto de ilhas onde todos os habitantes levavam uma vida de grande felicidade e de desfrute dos bens terrestres. Essa suposta descrição acabou se transformando na lenda das Ilhas Afortunadas ou a Macaronésia (do grego makáron – felicidade e nésoi – ilhas), lenda que foi transmitida para outros povos. 

Cerca de quinhentos anos depois, São Brandão, um monge católico irlandês, organizou uma expedição que buscaria a lendária Macaronésia. Descrita no manuscrito Navigatio Sancti Brendani, um dos textos mais populares da Idade Média, a expedição teria sido formada por cerca de 60 religiosos, que zarparam com um barco (que segundo muitas fontes era feito de couro) na costa Oeste da Irlanda.  

Um dos grandes feitos dessa lendária expedição teria sida a descoberta das Ilhas Feroé ou Faroé, no Atlântico Norte. Também teriam encontrado outras ilhas no meio do oceano com aspectos semelhantes aos descritos por Plutarco. Essas ilhas seriam os arquipélagos dos Açores, da Madeira, das Canárias e de Cabo Verde.  

Também não podemos esquecer do encontro de uma grande “ilha” coberta por densas matas, que correspondia à descrição de uma antiga terra citada nas lendas vikingsHy-Brazil. Entre a lenda e a realidade, muita gente acredita que essa terra é o nosso Brasil. 

De todos os arquipélagos da Macaronésia, Cabo Verde é o que tem as mais importantes e profundas relações com o nosso país. Navegadores portugueses “descobriram” essas ilhas em 1460, quando buscavam o “caminho das índias”. Algumas fontes afirmam que as ilhas foram avistadas antes, em 1456, por navegadores venezianos. 

Em 1462, as ilhas começaram a ser colonizadas e foram transformadas em uma importante base de apoio e de reabastecimento para os navios portugueses. A expedição de Pedro Álvares Cabral, inclusive, fez uma rápida parada no arquipélago de Cabo Verde algumas semanas antes de “descobrir” o Brasil em 1500. 

A partir da década de 1530, quando teve início a colonização efetiva do nosso país, as ilhas de Cabo Verde passaram a funcionar como um entreposto entre o Brasil e Portugal. As primeiras mudas de cana-de-açúcar que foram trazidas para o Brasil vieram de plantações já existentes no arquipélago. Também vieram de lá grandes contingentes de escravos que eram comprados de diversas feitoras ao longo de toda a costa da África. Muitas vezes, esses escravos eram trocados por mercadorias como armas de fogo, aguardente e fumo. 

Em tempos bem mais recentes, Cabo Verde passou a servir como uma importante e obrigatória escala para voos que faziam rotas entre o Brasil e países da América do Sul rumo Europa e vice-versa. Os antigos aviões que faziam essa rota precisavam aterrissar no Aeroporto da Ilha do Sal para reabastecer. 

Esse importante pedacinho isolado de mundo, que tem uma área total de apenas 4 mil km², está vivendo hoje sob inúmeros problemas ambientais. As ilhas, que ficam localizadas a cerca de 600 km da costa da África a altura da faixa do Sahel, sofrem com a seca, a falta de água potável e com o aumento das temperaturas. 

O arquipélago de Cabo Verde, assim como outros em todo o mundo, está sendo fortemente afetado pelas mudanças climáticas. Além dos importantes riscos de desertificação de suas terras por causa de sua posição geográfica, o território das ilhas sofre com os efeitos do aumento do nível do mar, o que está provocando erosão em alguns pontos da costa e danos na infraestrutura. 

Com raras fontes de água superficiais, a população das ilhas sempre dependeu da exploração de águas subterrâneas, captadas a partir de poços. Com o aumento do nível do mar, essas águas estão sofrendo um processo de salinização. Atualmente, a maior parte da água fornecida aos habitantes vem de usinas de dessalinização de água marinha, um processo de produção muito caro para um país pobre e que dependente da importação de petróleo. 

Uma outra área crítica é a produção de alimentos, coisa que sempre foi complicada em Cabo Verde. Durante muito tempo, as principais ilhas do arquipélago foram usadas para a produção de cana-de-açúcar, a matéria prima do valioso açúcar dos tempos coloniais. Assim como aconteceu em uma grande faixa da Mata Atlântica do litoral do Nordeste Brasileiro, essa atividade destruiu importantes áreas de mata nativa em Cabo Verde. 

Isoladas do continente, essas ilhas desenvolveram uma biodiversidade vegetal extremamente rica, onde cerca de metade das espécies eram endêmicas e altamente adaptadas ao clima local. Os intensos desmatamentos ao longo dos séculos vieram se somar a uma influência cada vez maior dos ventos quentes vindos do Deserto do Saara e do Sahel, o que está se refletindo em um forte processo de desertificação em muitas áreas das ilhas. 

As ilhas de Cabo Verde vêm sofrendo sistematicamente com fortes secas ao longo das últimas décadas, problema que está inviabilizando a produção agrícola e pecuária, além de e forçar grandes contingentes da população a mudar para as áreas urbanas. A maior parte dos alimentos consumidosatualmente pela população é importada. 

De acordo com projeções do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, uma organização ligada a ONU – Organização das Nações Unidas, a região do Oceano Atlântico Tropical Oriental, onde fica localizado Cabo Verde, deverá sofrer um aumento médio na temperatura de até 2,5º C até final deste século. Também está prevista uma diminuição da umidade e da precipitação entre 5 e 10%

As projeções dos especialistas também falam de um aumento do nível do oceano na região entre 13 cm e 1,4 metro até o final deste século. Além dos já citados danos às áreas costeiras, esse aumento do nível do mar terá reflexos no aumento da velocidade das correntes marítimas e da força das ondas, eventos que poderão afetar a maior fonte de riqueza das ilhas – a pesca. 

Todos esses problemas enchem o futuro população cabo-verdiana, que hoje se encontra na casa dos 560 mil habitantes, de incertezas. O pequeno país, que tem um PIB – Produto Interno Bruto, inferior a US$ 2 bilhões e que luta para se tornar auto suficiente na produção de alimentos e de energia, poderá, simplesmente, ficar inviabilizado. 

A triste sina de Cabo Verde, desgraçadamente, é a mesma de dezenas de pequenos países insulares de todo o mundo – todas essas nações poderão desaparecer do mapa nas próximas décadas por causa das mudanças climáticas. 

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A EUROPA ESTÁ SENDO “INVADIDA” POR GÁS NATURAL VINDO DO AZERBAIJÃO

O Azerbaijão é um daqueles países sobre o qual a maioria dos leitores deve conhecer quase nada. Existe inclusive uma brincadeira, de gosto bastante discutível, de se chamar esses países distantes e desconhecidos de “fim-do-mundistão”. 

Os azeris ou azerbaijanos são um grupo étnico de língua turcomana da Ásia Central, com grande presença no Noroeste do Irã e, majoritariamente, na República do Azerbaijão, país que fica na Região do Cáucaso. O nome do país é uma combinação de azeri com o sufixo de origem persa stan, usado para designar “terra”, ou seja – a terra dos azeris. 

O desconhecimento do Azerbaijão é bastante fácil de explicar – até 1991, o país fazia parte da URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Antes disso foi alvo da cobiça dos impérios da Pérsia, da Rússia e, por fim, do Império Otomano. 

No início do século XX o Azerbaijão produzia metade do petróleo consumido no mundo. Petróleo e gás são recursos abundantes na Região do Cáucaso. Aliás, existem relatos de viajantes desde a antiguidade clássica que falavam de poços de gás em chamas nessa região. 

As fronteiras atuais da terra dos azeris foram demarcadas em 1828, quando os Impérios Russo e Otomano assinaram o Tratado de Turkmenchay. Do lado russo surgiria o atual Azerbaijão; do outro lado, os azeris passaram a ter seu território primeiro sob controle do Império Otomano e depois pela Pérsia, atual Irã. 

A exploração do petróleo em larga escala no Azerbaijão começou na década de 1870. Essa indústria cresceu fortemente em volume e importância até o início da Primeira Guerra Mundial. Com a ascensão dos bolcheviques na Rússia a partir de 1917, o Azerbaijão, a Armênia e a Geórgia foram unidos para formar a República Socialista Federativa Soviética Transcaucasiana, que durou até 1936. 

Desde o fim da URSS, o Azerbaijão vem buscando a sua inserção no mercado internacional, feito tornado possível graças as suas imensas reservas de petróleo e gás. Cerca de 90% das exportações do país se referem a vendas de petróleo e gás, principalmente para os países europeus. 

Desde o início do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, a Europa passou a olhar para o Azerbaijão com um “carinho” todo especial. O principal interesse dos europeus, é claro, é o gás natural do país e do seu enorme potencial para substituir a Rússia como principal fornecedor do combustível

O Azerbaijão e a Turquia possuem excelentes relações culturais e comerciais. As línguas turca e azeri são muito próximas (algo muito similar ao que acontece entre o português e o espanhol), o que fez os dois países serem muito próximos ao longo da história. Os dois países também compartilham uma grande população que professa a fé islâmica.

Um importante sistema de oleodutos e gasodutos já existentes nesses dois países, e que também cruzam o território da Geórgia, permite o transporte do petróleo e do gás natural na direção da Europa. Em 2022, um volume total de 21 bilhões de metros cúbicos de gás natural azerbaijano será fornecido para a Europa. Esse volume é cerca de 31% maior do que as exportações feitas em 2021

No último mês de julho, inclusive, a chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, visitou o Azerbaijão e teve reuniões com o Governo do país. A meta da União Europeia é aumentar consideravelmente as compras e as importações de gás natural do país, se livrando, em definitivo, da dependência do gás da Rússia. 

Essa possibilidade, que é comercialmente interessante para ambos os lados, esbarra em problemas técnicos – os sistemas de gasodutos, e também de oleodutos, existentes já atingiram seu limite de capacidade. Novos sistemas para o transporte desses combustíveis precisarão ser construídos, o que vai necessitar de pesados investimentos, além de muito tempo, algo que os países da Europa não têm. 

Existe um outro problema nessa equação – é preciso combinar com os russos, literalmente. Mesmo após o colapso da URSS, a Rússia fez questão de manter sua influência sobre as ex-Repúblicas Soviéticas. A região do Cáucaso não escapou dessa política. 

A concorrência do gás natural e do petróleo do Azerbaijão sempre incomodou a Rússia, que sempre movimentou as “pedras” do tabuleiro do Cáucaso a seu favor. Com a interrupção das suas exportações do combustível para a Europa, é bastante improvável que os russos fiquem passivos diante do aumento dessas exportações Azerbaijão para os países europeus. 

Ainda é cedo para se afirmar que o gás natural do Cáucaso e, mais especificamenete, do Azerbaijão será a salvação energética da Europa. Porém, é nítida a invasão desse combustível por todo o continente nesse momento.  

Também é essencial lembrar que a Turquia faz parte da OTAN – Organização do Tratado do Atlântico Norte, força militar criada após a Segunda Guerra Mundial para se contrapor ao crescimento da URSS. 

A Turquia tem todo o interesse, tanto comercial como estratégico, de permitir a passagem do gás natural e do petróleo do Azerbaijão através do seu território em direção a Europa, o que deverá ajudar bastante no processo. Vamos esperar para ver o que o futuro nos trará. 

Apesar do gás natural ser um combustível de origem fóssil, sua queima é bem menos danosa ao meio ambiente. Logo, continuar usando esse combustível para gerar energia elétrica e em usos industriais é bem mais saudável para o meio ambiente mundial. 

Torçamos para que as coisas caminhem bem. 

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