
Normalmente, mulheres ganham menos que os homens fazendo o mesmo tipo de trabalho, trabalham mais – incluindo aqui a segunda jornada de trabalho em casa e o cuidado com os filhos, sofrem todo o tipo de discriminação – inclusive pelo simples fato de serem mulheres, além de formarem a maior parcela de pobres em inúmeros países.
Logo, afirmar que as mulheres formam o grupo de nossas sociedades que mais está sendo afetado pelas mudanças climáticas é “chover no molhado”, como costumamos falar aqui no meu bairro.
Esse é um assunto que provocou grandes discussões na COP26, realizada em Glasgow na Escócia no final do ano passado e que promete ocupar bons espaços na COP27, que está sendo realizada neste momento em Sharm el-Sheikh, uma cidade turística localizada entre o deserto da Península do Sinai e o Mar Vermelho no Egito.
Segundo os organizadores, o lema dessa edição da Conferência será “Juntos para a implementação”. Um dos principais objetivos do encontro será a concretização de acordos e compromissos anteriores, a exemplo das negociações firmadas em 2015, na COP 21 em Paris. Porém, não será difícil encontrar um espaço nas agendas para tratar da questão das mulheres.
Relembrando, a COP – Conferência das Partes, ou Conference of the Parties em inglês, foi instituída logo após a Rio 92 – Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. A COP é o órgão supremo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima. Os países signatários da Convenção ratificaram o acordo em 1994, e passaram a se reunir anualmente a partir de 1995.
De acordo com um relatório elaborado ainda no ano passado pelo Women in Finance Climate Action Group, um coletivo de mulheres líderes de todo o mundo, as mudanças climáticas intensificam as desigualdades, as vulnerabilidades, a pobreza e as relações desiguais de poder entre homens e mulheres.
Um dado que confirma com clareza essa questão – as mulheres representam 80% das pessoas deslocadas por desastres naturais e pelas mudanças climáticas hoje no mundo. São secas regiões, enchentes, furacões e tempestades, entre outras tragédias.
Para que os leitores tenham uma ideia do tamanho desse problema – de acordo com um relatório do Banco Mundial, publicado em 2021, até 216 milhões de pessoas terão de abandonar suas regiões por causa de problemas climáticos até o ano de 2050. As estimativas indicam que serão 17 milhões de refugiados somente aqui na América Latina.
Na maioria das culturas, que são extremamente machistas, as mulheres se encarregam do cuidado do lar e dos filhos. Essas funções costumam colocar as mulheres em contato mais próximo com os recursos naturais em atividades como buscar e carregar água, plantar alimentos, coletar frutos em matas, transportar lenha, entre outras atividades.
Como as mudanças climáticas estão afetando, por exemplo, a disponibilidade de água, essas mulheres estão sendo obrigadas a realizar caminhadas cada vez maiores em busca do precioso líquido. A redução das chuvas e as secas cada vez mais frequentes também estão afetando a produção de frutas, o que força a buscas por alimentos em lugares cada vez mais distantes de seus lares.
É fundamental, para não dizer essencial, que as questões relacionadas a essas mulheres ganhem prioridade absoluta em qualquer política voltada ao combate dos efeitos das mudanças climáticas. E a COP é uma excelene oportunidade par isso.
Governos precisam, urgentemente, criar mecanismos financeiros para ajudar de alguma maneira essas mulheres. Um exemplo que podemos citar são os programas de complementação de renda como os que existem aqui no Brasil. Por menores que sejam os valores pagos, são recursos que auxiliam as famílias – em especial as mulheres que chefiam as famílias, a garantir parte do sustento da casa.
Também é preciso criar mecanismos de microcrédito com vistas a criação de pequenos negócios e empreendedorismo. Esses financiamentos permitem quebrar o ciclo contínuo da pobreza, que em tempos de mudanças climáticas, tende a aumentar ainda mais, permitindo que as mulheres consigam alcançar algum tipo de autossuficiência financeira.
A preocupação com a flora, a fauna, os recursos hídricos e com a agricultura são importantes. Entretanto, o cuidado com as mulheres é uma garantia de futuro para as novas gerações que, desgraçadamente, herdarão essa nossa Terra cheia de problemas.
São essas mulheres que estão educando e cuidando dos futuros líderes, homens e mulheres, que terão a ingrata missão de resolver todos os problemas ambientais que gerações anteriores – como a nossa, criaram.
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