Nas últimas semanas, a discussão sobre a implantação de grandes infraestruturas para a produção de água dessalinizada aqui no Brasil acirrou o ânimo de muita gente. O novo Governo do país, recém empossado, pretende buscar uma aproximação com Israel, país líder mundial em sistemas de dessalinização da água do mar, na busca de uma parceria que permita a transferência dessa tecnologia para o Brasil; outros grupos, ligados a partidos da oposição, insistem em afirmar que instituições brasileiras já dominam essa tecnologia e que é possível a implantação de usinas de dessalinização com tecnologia nacional. Sem tomar posição ideológica com nenhuma das partes, vamos dedicar algumas postagens para apresentar as tecnologias existentes e mostrar exemplos de aplicação em alguns países.
Podemos definir a dessalinização como um processo físico-químico de tratamento de água que retira o excesso de sais minerais, micro-organismos e outras partículas sólidas presentes na água salgada e na água salobra, com a finalidade de obter água potável em condições adequadas para consumo humano, animal e industrial. Existem duas formas básicas para realizar a dessalinização: a destilação térmica, que nada mais é do que uma reprodução em pequena escala do ciclo natural da água da chuva, e a osmose reversa, onde uma membrana especial simula, de forma invertida, a passagem de líquidos através da membrana das células.
A água é a substância mais elementar e importante para a existência da vida no nosso planeta. Cerca de 70% da superfície da Terra é coberta por água, o que pode nos dar uma falsa impressão de abundância. De todo esse imenso volume, apenas 2,5% da água existente é própria para o consumo de todas as criaturas que vivem fora dos ecossistemas marinhos, incluindo-se plantas, animais e nós, os seres humanos. Essa água é conhecida como água doce ou potável e é criada por um impressionante mecanismo natural conhecido com o Ciclo da Água.
O calor do sol, que incide sobre os oceanos, cria uma gigantesca massa de vapores de água, com um volume total calculado em 383.000 km³ a cada ano. Esse vapor é espalhado pelos ventos por toda a superfície do planeta e uma parte considerável, cerca de 30%, é precipitada sobre os solos dos continentes e ilhas na forma de chuva, neve e granizo. Todas as reservas de água potável do mundo surgem daí.
A maior parte dessa água doce acaba acumulada na forma de gelo nas calotas polares e em geleiras no alto de grandes cadeias montanhosas. Outra parte bastante significativa vai ser depositada em aquíferos e lençóis subterrâneos de difícil acesso. O volume de água potável restante, que está disponível em rios, lagos e pântanos, é usado para o abastecimento de populações. Seu volume é ínfimo, calculado em 0,04% da água existente no planeta. Para o World Resources Institute, uma organização não governamental conservacionista que se dedica em parte a essa temática, esse volume é ainda menor e representa apenas 0,007%. É essa pequena quantidade de água potável que será usada para o abastecimento dos mais de 7 bilhões de habitantes do nosso mundo.
Além de rara, a água potável é muito mal distribuída. Dez países concentram 60% dos recursos hídricos disponíveis no planeta: Brasil, Rússia, China, Canadá, Indonésia, Estados Unidos, Índia, Colômbia e Congo. Os demais países e suas populações têm de se contentar com o volume restante – é muita gente para pouca água. Muitos desses países que enfrentam problemas de escassez de água e que dispõem de fachada oceânica, têm realizado investimentos vultosos na instalação de plantas industriais para a produção de água dessalinizada. De acordo com a IRENA, sigla em inglês para Agência Internacional de Energia Renovável, já são cerca de 300 milhões de pessoas em cerca de 150 países que são abastecidas hoje com água dessalinizada.
Apesar dos números serem animadores, a produção de água dessalinizada ainda apresenta uma série de problemas – o principal deles é o custo da água que, numa média mundial, fica em torno de US$ 1.00 / m³. Se considerarmos que uma família com cinco pessoas gasta em média 1 m³ de água por dia, será necessário um acréscimo de US$ 30.00 na conta que é paga pelo serviço – em países pobres isso é completamente inviável. Outro problema seríssimo é o alto consumo energético dessas usinas, o que normalmente leva muitos países a aumentar o uso de combustíveis fósseis, altamente poluentes e caros, para a geração de energia elétrica para alimentar essas plantas de dessalinização.
Problemas não menos graves se mostram na forma de impactos ambientais – os resíduos de sal, areia e da matéria orgânica (micro algas, larvas, ovos e outras criaturas microscópicas que vivem na água do mar) retirados da água que foi dessalinizada precisam ter uma destinação ambiental adequada, algo que tende a aumentar ainda mais a pressão sobre os aterros sanitários e os chamados “bota-fora” em uso no mundo. Outra fonte de problemas são os efluentes em altas temperaturas que, se lançados diretamente em corpos d’água ou nos oceanos, podem causar graves alterações nesses ambientes e afetar toda a cadeia de seres vivos desses sistemas.
A “coisa” é muito mais complexa do que pode aparentar inicialmente.
Vamos continuar nesse assunto nas nossas próximas postagens.
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