Todos nós dependemos do uso da energia elétrica em nosso dia a dia. Dos usos mais simples, como ligar uma lâmpada em uma sala ou encontrar aquela providencial tomada onde recarregamos nossos amados e inseparáveis smartphones, até os usos mais complexos em indústrias e em sistemas de infraestrutura, nossa vida moderna depende cada vez mais da eletricidade.
Existem as mais diversas fontes para a geração de energia elétrica. Vou destacar uma das mais insustentáveis – a queima do carvão mineral em usinas termelétricas – cerca de 40% da energia elétrica usada no mundo vem dessa fonte. A geração hidrelétrica, apesar dos fortes impactos ambientais que cria na formação dos grandes reservatórios, é no final uma das formas mais limpas e renováveis de geração de eletricidade.
Nas últimas décadas, a busca por novas fontes para a geração de eletricidade tem sido incessante num mundo cada vez mais sedento por energia. Fontes renováveis e limpas como a energia eólica e a fotovoltaica tem ganhado cada vez mais destaque, inclusive aqui no Brasil, conforme destacamos em postagens anteriores.
Uma fonte de geração de eletricidade que vem crescendo em importância aqui em nosso país nos últimos anos e que talvez você nunca tenha prestado atenção é a queima do bagaço da cana de açúcar. Subproduto da fabricação do açúcar e do álcool, o bagaço se transformou em um enorme problema para as usinas de produção. Parte acabava sendo lançada sobre os solos para uso com adubo orgânico e outra parte acabava sendo queimada para “liberar espaços” nos pátios das empresas.
Certo dia, alguém deve ter olhado para uma grande montanha de bagaço ardendo em fogo e pensou – por que não usarmos essa energia para mover uma turbina ligada a um gerador elétrico? Isso acabou sendo feito e a ideia se mostrou excelente. De acordo com informações do CTBE – Centro Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol, entidade ligada ao CNPEM – Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais, a geração elétrica a partir da queima do bagaço da cana contribui com cerca de 7% da matriz elétrica do Brasil.
A cana de açúcar foi a primeira cultura agrícola produzida em grande escala no Brasil. As primeiras mudas chegaram no início da década de 1.530 nas mesmas naus que trouxeram os primeiros colonizadores portugueses. Não tardou muito para que extensas faixas da Mata Atlântica ao Longo do litoral do Nordeste e também nas então Capitânias de São Vicente e de Santo Amaro, atual Estado de São Paulo, fossem derrubadas e queimadas para dar lugar aos grandes canaviais.
Naqueles tempos, o açúcar era um dos produtos mais valiosos do mercado internacional ao lado das famosas especiarias do Oriente. Era raro e caro, vendido em gramas em lojas das mais sofisticadas da Europa e acessível somente a pessoas de alto poder aquisitivo. Nas palavras do historiador Basílio de Magalhães:
“Era usual nas boticas, donde saía a título de cicratizante e para sarar doenças dos olhos, da garganta e de outros órgãos; mas, fora dos usos terapêuticos, artigo de luxo, gozado por grandes senhores e burgueses opulentos.”
Um exemplo dessa opulência podia ser visto no casamento das filhas das famílias mais nobres do continente Europeu. Era extremamente elegante presentear a noiva com uma pequena trouxinha de tecido branco, onde se colocavam algumas gramas de açúcar, algo que simbolizava os mais sinceros votos de fartura e felicidade ao casal.
O melhor açúcar daqueles tempos era trazido de lugares distantes como o Egito, o Iraque, a Pérsia e até da Índia. Os primeiros canaviais chegaram na Europa através dos Árabes, que a partir do século IX iniciaram plantações no Sul da Espanha e na Sicília. A produção de açúcar nessas regiões não era muito grande, o que mantinha os preços nas alturas.
A partir das grandes navegações no século XV e com a descoberta de novas ilhas e territórios, a Coroa de Portugal passou a incentivar o plantio de cana e a produção de açúcar entre seus súditos. Com a descoberta das enormes extensões de terra aqui no Brasil, muitos nobres de Portugal se associaram com banqueiros da Holanda para instalar grandes engenhos e inundar as terras com um mar sem fim de mudas de cana de açúcar.
Ao longo dos séculos XVI e XVII, o Brasil foi o maior produtor mundial de açúcar. Esse posto foi perdido para as ilhas e países da região do Mar do Caribe, onde a produção de açúcar começou a crescer vigorosamente e acabou suplantando a brasileira. As correntes oceânicas e o regime de ventos daquela região tornavam as viagens de transporte das cargas de açúcar até os grandes mercados consumidores na Europa bem mais rápidas e baratas do que aquelas feitas a partir das costas do Brasil, prejudicando, e muito, a competitividade do nosso produto.
Entre altos e baixos, a produção açucareira se manteve forte no país, principalmente na Região Nordeste. A cana de açúcar, porém, só voltaria a ganhar um enorme destaque na economia do Brasil na década de 1970, quando o Governo Federal criou o Pró-ácool, um programa de incentivo à produção do álcool feito a partir da cana de açúcar como um substituto ao uso da gasolina em motores de carros. Naqueles tempos houve o chamado “Primeiro Choque do Petróleo”, quando os países produtores se reuniram em um grande cartel e elevaram fortemente o preço do produto.
Com a produção maciça de carros com motores preparados para o uso do álcool como combustível, houve um aumento vertiginoso do plantio de cana de açúcar em diversas regiões do Brasil – em especial no Estado de São Paulo, com o objetivo de produzir álcool. A produção de bagaço de cana, que até então não era tão grande no país, se transformou em um enorme problema ambiental para as usinas. Nos ultimos, uma infinidade de plantas para co-geração de energia elétrica a partir da queima do bagaço da cana passaram a ser criadas junto das grandes usinas – o que era um grande problema se transformou em lucro.
De acordo com a definição usada pela ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica, a co-geração de energia é o processo de produção combinada de calor útil e de energia mecânica, sendo essa última convertida total ou parcialmente em energia elétrica. O bagaço da cana é queimado em uma fornalha e o calor gerado aquece uma caldeira onde é produzido vapor. Um jato de vapor aciona uma turbina que está ligada ao eixo de um gerador elétrico.
Essa queima do bagaço da cana resolve de maneira extremamente eficaz o problema de produção de resíduos nas usinas, transformando a eletricidade em um valioso subproduto da cana de açúcar. Essa eletricidade é tanto utilizada nos processos produtivos das usinas, quanto vendida para as empresas de distribuição de energia elétrica.
As centrais de co-geração utilizam sistemas de filtros nas suas chaminés para reduzir os impactos da queima do bagaço da cana na atmosfera, em especial a emissão de fuligem. Estudos indicam que a emissão de gases de efeito estufa nessas usinas são cerca de 7 vezes menores do que aquelas de fontes fósseis como o gás natural. Os canaviais em crescimento, por sua vez, absorvem grandes quantidades de carbono, neutralizando assim as emissões feitas durante o processo de geração de energia elétrica.
Os trabalhos nas centrais de co-geração demandam o uso de muita mão de obra, o que beneficia diretamente as regiões produtoras de cana, onde o trabalho costuma ser sazonal nas épocas da colheita da cana. Por fim, há um menor custo na distribuição da energia elétrica uma vez que as principais regiões produtoras possuem um grande número de cidades ao seu redor e milhares de residências e consumidores ávidos por energia elétrica.
Finalizando: Para infelicidade de uma ex-Presidente, não é possível estocar o vento que move as pás das turbinas eólicas. Já o bagaço da cana, esse pode ser guardado para queima nos períodos mais secos do ano, quando as chuvas são raras e é necessário poupar a águas dos reservatórios das usinas hidrelétricas.
Na próxima postagem vamos falar um pouco mais da produção de álcool a partir da cana de açúcar para uso em motores de veículos e dos seus impactos ao meio ambiente.
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[…] A queima do bagaço da cana-de-açúcar, um subproduto da produção do açúcar e do álcool também ganhou importância. De acordo com informações do CTBE – Centro Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol, entidade ligada ao CNPEM – Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais, a geração elétrica a partir da queima do bagaço da cana contribui com cerca de 7% da matriz elétrica do Brasil. […]
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[…] energéticas cada mais sustentáveis. Fontes renováveis como a eólica, solar, hidráulica e biomassa cresceram muito e já representam mais de 38% de toda a energia elétrica gerada no continente. […]
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[…] 7%. Outra importante fonte de geração de energia elétrica aqui em nosso país é a da queima da biomassa, especialmente do bagaço da […]
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[…] tem a opção de instalar destilarias para a produção de etanol, podendo utilizar, inclusive, a queima do bagaço da cana-de-açúcar para a geração de energia. Várias montadoras já exportaram veículos com motor flex para o […]
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