O IMPACTO DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS NAS POPULAÇÕES DE INSETOS

Em nossa última postagem apresentamos algumas conclusões de um interessante estudo sobre as mudanças de comportamento de macacos arborícolas e lêmures por causa das mudanças climáticas. Observações em inúmeros sítios nas Américas e na Ilha de Madagascar mostraram que esses animais estão passando mais tempo em incursões nos solos. 

Essa mudança de comportamento está associada, segundo os pesquisadores, ao aumento das temperaturas, o que está provocando mudanças em muitas florestas. Com a diminuição e a irregularidade das chuvas em algumas regiões, uma tendência que deverá se intensificar nos próximos anos, as florestas estão ficando com menos árvores e os animais arborícolas estão buscando sombra e alimentos no solo. 

Desgraçadamente, não são apenas esses primatas que estão sendo impactados pelo aumento das temperaturas – estudos mostram que os insetos também estão sofrendo fortemente com as mudanças climáticas. Alguns estudiosos, inclusive, chegam a profetizar um verdadeiro “apocalipse” para muitas espécies. 

É provável que muitos dos leitores não entendam o significado de um evento dessa magnitude. Para muitos, insetos são criaturas horripilantes – tomando como exemplos as baratas e os mosquitos, sendo causadoras de todos os tipos doenças. Mesmo sendo um argumento parcialmente verdadeiro, a questão é muito mais complexa. 

As diferentes espécies de insetos formam o grupo de animais mais diversificado e mais largamente distribuído do nosso planeta – os artrópodes. Só para esclarecer: artrópodes (filo Arthropoda) são animais dotados de patas articuladas e que possuem esqueleto externo (exoesqueleto) nitidamente segmentado. Entre eles se incluem as ditas baratas e os mosquitos, além de insetos como besouros, borboletas, aranhas, centopeias, entre muitos outros, além de animais como camarões e caranguejos. 

Estimativas afirmam que algo ao redor de 70% de todos os seres vivos já descritos pela ciência são insetos. Calcula-se que já foram descritos aproximadamente 1 milhão de espécies de insetos, faltando algo entre 5 e 30 milhões de espécies a serem descritas. Esses números nos dão uma vaga ideia de importância ecológica dessas pequenas criaturas. 

De acordo com estudos recentes, os primeiros insetos surgiram há cerca de 480 milhões de anos, mais ou menos na mesma época em que as primeiras plantas terrestres começaram a aparecer. Ao longo de sua longa história evolutiva, os insetos foram se diversificando e se adaptando para uma vida em todos os ecossistemas terrestres do planeta – algumas espécies, inclusive, se adaptaram para a vida no meio aquático. 

Uma pesquisa realizada por pesquisadores da Universidade James Cook, da Austrália, mostrou que as mudanças climáticas poderão colocar um fim na história de muitas dessas espécies, ao mesmo tempo em que poderão reduzir drasticamente o número de várias populações desses animais. 

Um dos principais problemas apontados na pesquisa é a pouca capacidade desses animais para regular a temperatura corporal. Insetos são animais ectotérmicos, ou seja – eles não produzem calor suficiente para a termorregulação do organismo e ajustam suas temperaturas corporais por meio de mecanismos comportamentais. 

Nós seres humanos, citando um exemplo, possuímos um organismo que consegue regular a sua temperatura de forma independente das condições ambientais. Nosso suor, por exemplo, permite a redução da temperatura corporal em casos de calor excessivo. 

Essa incapacidade de auto regulação das temperaturas corporais poderá ser fatal para inúmeras espécies de insetos que vivem em regiões onde as temperaturas aumentarão nas próximas décadas. Estudos indicam que as temperaturas poderão aumentar de 2° até 5° C em muitas regiões até o ano 2100. 

Esse aumento das temperaturas também poderá comprometer as fontes de alimentos desses animais. Temperaturas mais altas e uma menor precipitação tendem a transformar áreas que atualmente são cobertas por florestas em campos cobertos por gramíneas. Insetos como os cupins, citando um exemplo, que se alimentam de madeira das árvores, serão altamente prejudicados por essa mudança na flora. 

Também existe o risco de um aumento na predação de diversas espécies de insetos por animais maiores como aves e mamíferos, que eventualmente venham a perder seus nichos ecológicos na copa das árvores. Podemos citar aqui os casos já citados dos macacos e dos lêmures. 

A perda desses insetos terá impactos diretos na vida dos seres humanos. Vou citar o caso mais clássico – a importância de insetos como as abelhas na polinização das plantas. Estimativas indicam que, pelo menos metade de todos os alimentos que nós humanos consumimos, depende da polinização feita por insetos como as abelhas. 

Um outro exemplo: parte considerável da produção de solos férteis se deve a ação de insetos terrestres que se alimentam de folhas e galhos de árvores que caem sobre os solos. Um grande exemplo que podemos citar são as formigas. 

Ou seja: por maiores que sejam as repulsas que muitos sentem em relação a esses pequenos animais, os insetos são essenciais para o funcionamento dos mais diferentes ecossistemas de nosso mundo. O desaparecimento ou a redução de populações de espécies de insetos, mais cedo ou mais tarde, afetará diretamente a vida das populações humanas. 

Entre tantas outras grandes preocupações que as mudanças climáticas estão gerando, precisamos achar espaço para “pequenas” preocupações com o bem estar e a sobrevivência dos insetos. 

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