A Índia, uma das economias que mais cresce no mundo, é um país sedento por energia, especialmente a energia elétrica. Com taxas de crescimento anual na casa dos 6% nos últimos anos, o país só fica atrás da China nesse quesito. Com uma população gigantesca na casa dos 1,34 bilhão de habitantes, o país precisa gerar cerca de 1 milhão de empregos a cada mês somente para absorver a mão de obra dos jovens que estão entrando no mercado de trabalho.
Dada as características físicas do país, onde não existem tantos rios caudalosos e adequados à construção de grandes centrais de geração hidrelétrica como no Brasil, a maior e mais importante fonte de energia na Índia é o carvão mineral, com uma participação na matriz energética acima dos 40%. A seguir vêm os biocombustíveis, especialmente a lenha e os resíduos, com uma participação de 24%, onde é importante citar que perto de 70% da população do país usa lenha para cozinhar. A seguir vem o petróleo e seus derivados, com cerca de 16% de participação, entre outras fontes energéticas como a eletricidade gerada em usinas hidrelétricas e nucleares.
Apesar de todos os esforços do Governo Central para aumentar a capacidade de geração elétrica no país, mais de 20% dos indianos não tem acesso à elétricidade. Isso significa que perto de 300 milhões de pessoas, a maioria pertencendo às classes mais pobres do país, passa suas noites sob a luz de velas, lampiões e fogueiras, além de não ter acesso ao uso de quaisquer equipamentos eletrônicos, eletrodomésticos e outros confortos da sociedade moderna.
O consumo per capita de energia elétrica das famílias indianas que têm acesso à rede elétrica e que tem condições de arcar com os custos dessa energia é muito baixo, equivalente a apenas 7% do que gasta uma família típica dos Estados Unidos. A precária rede elétrica do país sofre frequentemente com apagões e muitas empresas não conseguem trabalhar com a produção a plena carga devido às limitações no fornecimento de eletricidade.
Essa demanda reprimida cria fortíssimas pressões para a expansão da rede de geração e de distribuição de energia elétrica. Surge aqui um grande problema ambiental – mais de 60% da geração de energia elétrica da Índia é feita em centrais termelétricas à carvão, uma das fontes energéticas mais sujas e poluentes do mundo. O potencial de geração hidrelétrica é limitado e o país tem feito investimentos, dentro dos seus limites orçamentários, para ampliação da geração de energia elétrica em centrais nucleares (a Índia possui 21 unidades em operação e tem outras 6 em projeto ou construção) e também em fontes renováveis como a energia solar.
O consumo anual de carvão na Índia é superior a 600 milhões de toneladas por ano, o que coloca o país entre os maiores consumidores desse insumo do mundo e, de quebra, na posição de um dos maiores emissores de gases poluentes devido a queima do combustível. Perto de 90% do carvão usado no país é extraído localmente. Existem centenas de projetos para a construção de novas centrais de geração termelétrica aguardando a aprovação pelos órgãos governamentais, que têm resistido ao máximo em liberar novas autorizações.
A mineração do carvão na Índia é extremamente problemática e altamente impactante ao meio ambiente. Cerca de 90% do carvão produzido no país vem de minas a céu aberto, que são as mais impactantes ao meio ambiente. A maior parte do carvão indiano tem baixo poder calorífico, o que o torna altamente poluente e emissor de grandes quantidades de cinzas, sendo considerado duas vezes mais poluente do que o carvão usado na Europa e nos Estados Unidos.
Devido à alta densidade populacional na Índia, tanto as minas quanto as usinas termelétricas sempre ficam localizadas próximas a alguma cidade, onde as populações acabam sendo afetadas diretamente pelos poluentes gerados tanto pela extração quanto pela queima do carvão. Um dos principais poluentes é o mercúrio, um metal pesado que causa inúmeros problemas à saúde humana.
De acordo com estudos feitos em 2013, a poluição do ar gerada pela mineração e pela queima do carvão está associada a 20 milhões de novos casos de asma e de problemas cardíacos na Índia a cada ano. Também está associada a mais de 100 mil mortes prematuras de crianças (sendo que 10 mil dessas mortes são de crianças com menos de 5 anos de idade). Além de toda a tragédia humana, essas doenças geram um custo extra de US$ 4,6 bilhões ao sistema de saúde do país.
Como acontece em todo o mundo, o avanço da mineração sobre as áreas naturais da Índia é uma grande fonte de degradação ambiental. De acordo com estudos da Ação Ambiental Kalpavriksh, uma organização indiana de defesa das florestas, somente entre 1990 e 2004, foram liberadas perto de 200 licenças para exploração mineral no país, abrangendo uma área de aproximadamente 200 mil km². Segundo o grupo, essas áreas de mineração ameaçam mais de 90 santuários da vida selvagem e parques nacionais, colocando em risco a biodiversidade e importantes fontes de água.
Grande parte dessas licenças se referem a minas de carvão, minério de ferro, bauxita e calcário, entre outros minerais. As regiões afetadas incluem especialmente os Estados do Rajastão, Maharashtra, Orissa e Jharkland, locais onde se encontram remanescentes florestais e biomas sensíveis. Aqui é importante lembrar que desde o início do século XIX, quanto a região ainda era uma colônia do Império Britânico, a Índia iniciou um forte processo de desflorestamento com vistas à abertura de campos agrícolas e exploração madeireira. Cerca de 22% do território do país ainda é coberto por florestas e perto de 400 milhões de pessoas dependem da exploração dos seus recursos para sobreviver.
Além dos graves impactos ambientais, o avanço da mineração ameaça inúmeras minorias étnicas que vivem nessas regiões. A Índia é um verdadeiro caldeirão multicultural e étnico, inclusive com alguns grupos tribais semelhantes aos indígenas brasileiros. Há inúmeras tensões regionais com esses grupos, que sofrem economicamente e culturalmente com os impactos da mineração, principalmente do carvão, que além da intensa poluição do ar, afeta profundamente as fontes de abastecimento de água dessas comunidades.
Além dos inúmeros problemas internos, a Índia ainda sofre com as fortes pressões da comunidade internacional. Desde a assinatura do Protocolo de Kyoto em 1997, que foi resultado de uma série de negociações iniciadas a partir da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima de 1992, os países que ratificaram o acordo assumiriam o compromisso de reduzir as suas emissões entre 2008-2012 para uma média de 5% em relação aos níveis de 1990. Num segundo momento, as nações signatárias assumiriam o compromisso de reduzir as emissões entre 2013-2020 em pelo menos 18% abaixo das emissões de 1990.
A índia, é claro, ficou muito longe de atingir qualquer uma dessas metas. Somente entre os anos de 2010 e 2015, o país aumentou sua capacidade de geração em usinas termelétricas a carvão em cerca de 73%. Nos últimos anos, felizmente, o país acabou reduzindo o ritmo do crescimento dessa fonte de energia e tem estimulado o crescimento de outras fontes energéticas. Um exemplo foi a construção de uma planta de geração de energia fotovoltaica no Estado de Madhya Pradesh, considerada a maior usina solar de toda a Ásia, ocupando uma área total de 323 hectares.
A situação da Índia é o que se pode chamar de “entre a cruz e a espada” – uma forte demanda reprimida por energia elétrica de um lado e os gravíssimos efeitos da poluição do ar das grandes cidades e de importantes fontes de abastecimento de água no outro. Em tempos de mudanças climáticas globais e de graves consequências já visíveis do aumento da temperatura do planeta, essa é uma situação bastante difícil.
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