
Quem se interessa pelas áreas de meio ambiente e, especialmente, pelas mudanças climáticas, é bombardeado todos os dias por uma enorme carga de notícias, pesquisas e afirmações de um sem número de especialistas e também de “especialistas”.
Existem alguns problemas bastante preocupantes e urgentes. Vou citar o exemplo dos países da Europa que foram atingidos por uma “tempestade perfeita” nesses últimos meses. O continente sofre com fortes ondas de calor e de seca, com problemas na área da energia e, ao que tudo indica, terá uma importante redução na sua produção de alimentos na atual safra. Para completar, toda a UE – União Europeia, está em vias de entrar numa fase de recessão econômica.
Qualquer um dos leitores que fizer uma pesquisa nas postagens publicadas aqui no blog nos últimos meses vai constatar que problemas ambientais na Europa dominaram. Isso aconteceu, principalmente, depois do início do conflito entre a Rússia e a Ucrânia.
Entretanto, os continentes que mais estão sofrendo com problemas ambientais associados às mudanças climáticas são a África e a Ásia. De acordo com CCVI – Índice de Vulnerabilidade às Mudanças Climáticas, Bangladesh, Índia e República Democrática do Congo lideram a lista dos 30 países mais ameaçados por essas mudanças.
O CCVI é uma ferramenta que analisa os impactos de eventos climáticos extremos como secas, tempestades, ciclones e incêndios florestais, entre outras, que se refletem em estresse hídrico, perdas em lavouras, avanço do mar sobre regiões costeiras, entre outros problemas. São analisadas informações de mais de 190 países.
Um exemplo claro do que está acontecendo nessas regiões foi uma recente declaração do economista-chefe interino e vice-presidente do Grupo Banco Africano de Desenvolvimento, Kevin Urama. Segundo ele, “a África perde entre 5 a 15% do seu crescimento do PIB per capita devido às alterações climáticas e impactos relacionados”.
A declaração foi feita durante o Egypt-ICF 2022 – Fórum de Cooperação Internacional do Egito, realizado entre os dias 7 e 9 de setembro. O evento contou com a presença de ministros de economia, finanças e de desenvolvimento de grande parte dos países da África.
O continente africano ocupa uma área total de mais de 30 milhões de km2, onde encontramos 54 países independentes. A população atual é da ordem de 1,2 bilhão de habitantes, o que corresponde a 15% da população mundial. Projeções estatísticas, entretanto, indicam que a África atingirá a marca de 2 bilhões de habitantes até o final desse século. Os problemas que já muito graves hoje, ficarão ainda piores dentro de poucas décadas.
De acordo com um relatório do IPCC – Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, entidade ligada a ONU – Organização das Nações Unidas, publicado no último mês de março, a África está sendo fortemente prejudicada pelo aumento das temperaturas e por efeitos das mudanças climáticas. Veja:
Desde meados da década de 1970, se registram aumentos sistemáticos das temperaturas em diferentes partes do continente, que se situam entre 1 e 3º C. Na faixa Norte do continente, onde encontramos o Deserto do Saara e a região do Sahel, esse aumento das temperaturas é mais expressivo.
Os ventos quentes que sopram a partir dessa vasta região influenciam uma enorme área ao redor. Um exemplo que já tratamos aqui no blog são as ondas de calor que estão atormentando a Europa nos últimos anos e que são influenciadas fortemente pelas altas temperatura no Saara.
Temperaturas mais altas tem reflexos diretos na escassez de água e na redução das estações para o plantio de culturas agrícolas. Dados da ONU indicam que, desde 1961, o crescimento da produção agrícola em todo o continente foi reduzido em 34% enquanto o crescimento das populações segue em uma escala crescente.
Segundo números oficiais, quase 100 milhões de pessoas sofreram de insegurança alimentar aguda e precisaram de ajuda humanitária na África Subsaariana em 2020. Um exemplo bastante atual dessa situação é visto na forte seca que está atingindo a região do Chifre da África, que tratamos em uma postagem recente aqui do blog.
O Chifre da África, também conhecido como Nordeste Africano e Península Somali, é uma região com cerca de 1,88 milhão de km2 no nordeste do continente africano, onde se incluem territórios da Somália, Etiópia, Eritréia e Djibuti. Essa é uma região de transição entre o clima árido do Deserto do Saara e das savanas, que também inclui uma faixa no Norte do Quênia. Mais de um milhão de pessoas na região já foram forçadas a abandonar suas terras de origem por causa da seca desde 2021.
O aumento das temperaturas também significa uma ameaça às geleiras que se encontram em três cadeias de montanhas do continente. Exemplos são as geleiras dos Montes Ruwenzori, que ficam na divisa entre Uganda, República Democrática do Congo e Tanzânia. As “Montanhas da Lua”, como são mais conhecidas, poderão perder completamente suas geleiras já em 2030. Essa situação não é muito diferente nas geleiras dos montes Quênia e Kilimanjaro, que ficam relativamente próximos.
Conforme já tratamos em diversas postagens aqui do blog, as geleiras das altas montanhas ou glaciares concentram importantes nascentes de rios. A neve que se acumula durante o período do inverno derrete gradativamente ao longo de todo o ano e a água resultante forma as nascentes de inúmeros rios que vão correr pelas planícies mais baixas. A perda maciça de massa em geleiras é uma das grandes ameaças à sobrevivência de importantes rios e ao abastecimento de bilhões de pessoas em todo o mundo.
As ameaças que existem em terra também se espalham pelas águas dos mares que circundam a África. O aumento das temperaturas está afetando gravemente os bancos de corais, o que tem reflexos diretos nas populações de peixes e outras espécies marinhas. A ONU estima que mais de 12 milhões de pescadores do continente serão diretamente afetados pela redução dos estoques pesqueiros.
Como se vê os problemas e os desafios são enormes em toda a África. Vamos falar mais sobre isso nas próximas postagens.
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[…] uma série de postagens recentes publicadas aqui no blog mostramos algumas das dificuldades vividas por populações na África em questões […]
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