
Água, Vida & Cia é um blog que surgiu há pouco mais de seis anos com o objetivo de apresentar os inúmeros problemas ambientais nas áreas de saneamento básico e dos recursos hídricos. Falamos muito da poluição e do descaso com nossos rios, da falta de infraestrutura para o controle de águas pluviais em nossas cidades, da sofrível situação do saneamento básico – especialmente da falta de sistemas de coleta e tratamento de esgotos, entre muitos outros problemas.
De algum tempo para cá o blog começou a falar bastante dos problemas associados às mudanças climáticas. O problema foi negado sisitematicamente por muitos líderes mundiais ao longo de muitos anos. Porém, o aumento das temperaturas em todo o planeta passou a mostrar todos os seus efeitos danosos nesses últimos dois ou três anos, ficando difícil ficar inerte diante de tamanha enxurrada de más notícias.
A maior parte dos problemas que estão pipocando no mundo hoje estão ligados a fortes ondas de calor, secas, perdas de safras agrícolas, aumento da frequência e da intensidade de tempestades, incêndios florestais, entre outras questões desse tipo.
Problemas exclusivamente sociais ligados aos efeitos das mudanças climáticas eram raros em nossas postagens, algo que possivelmente deverá mudar ao longo do tempo. Cada vez mais, problemas ambientais estão afetando diretamente a vida de cidadãos em todo o mundo e será importante tratarmos disso por aqui.
Uma notícia preocupante, divulgada ontem, dia 9 de novembro, ilustra bem a que ponto chegamos. De acordo com o boletim ONU News, um informativo online da ONU – Organização das Nações Unidas, jovens em todo o mundo estão reconsiderando a ideia de formar uma família e ter filhos por conta dos problemas decorrentes das mudanças climática.
Pesquisa feita pelo UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância, entrevistou 240 mil pessoas em todo o mundo para chegar a essa conclusão. A situação é mais crítica no Norte da África e na África Subsaariana.
A nível global, dois em cada cinco jovens entrevistados disseram que os impactos gerados pelas mudanças climáticas estão afetando seus desejos de formar uma família. No Oriente Médio e no Norte da África esse percentual sobre para 44% e na África Subsaariana é de 43%.
Nas duas regiões africanas os jovens relataram que tem sofrido inúmeros choques climáticos e, mais do que em qualquer outra parte do mundo, afirmaram que esses choques afetaram seu acesso a fontes de água e de alimentos, além de comprometer a renda de suas famílias. O pessimismo criado por essas situações impacta diretamente nos planos de vida desses jovens.
Em 2021, a revista médica inglesa The Lancet publicou uma pesquisa semelhante, onde foram entrevistados 10 mil jovens em todo o mundo. O estudo concluiu que 39% dos jovens se sentiam hesitantes quanto a questão de ter filhos, um percentual bastante próximo do que foi apurado pela pesquisa do UNICEF.
Outras conclusões importantes da pesquisa:
Mais da metade dos entrevistados a nível global afirmaram que sofreram com seca e calor extremo. A poluição do ar afeta um quarto dos entrevistados e outro quarto disse ter sofrido com inundações. Um em cada seis entrevistados presenciou tempestades severas ou ciclones frequentes e 10% incêndios florestais.
Aproximadamente 40% mencionou ter acesso menor a alimentos por conta das mudanças climáticas. Os maiores percentuais dessa afirmação ficaram por conta de jovens da África Subsaariana, seguidos pelo Oriente Médio e Norte da África com 52% e 31%, respectivamente.
Ao menos um quarto dos entrevistados afirmou que a fonte de renda de suas famílias foi impactada de alguma forma pelas mudanças climáticas. Mais uma vez, as regiões mais afetadas por esse problema foram o Oriente Médio, o Norte da África e a África Subsaariana, com percentuais acima de 30%.
Outra reclamação frequente é a dificuldade no acesso a água potável, drama citado por 20% dos entrevistados. O Oriente Médio e o Norte da África lideram esse problema, com 35% das citações, seguido pelo Leste Asiático e Pacífico, com 30% das citações.
Finalizando, cerca de 60% dos entrevistados consideram a possibilidade de mudar de cidade ou de país por conta das mudanças climáticas. Essa questão foi citada por cerca de 70% dos jovens do Oriente Médio e do Norte da África, seguidos por 66% de citações na América Latina e no Caribe.
Como é bem fácil de ver nos números, o quadro mostrado por essa pesquisa mostra o tamanho do pessimismo dos jovens ante um futuro que será marcado pelos efeitos das mudanças no clima, falta de água e dificuldades cada vez maiores no acesso aos alimentos.
Em uma série de postagens recentes publicadas aqui no blog mostramos algumas das dificuldades vividas por populações na África em questões como escassez de água, destruição de florestas, degradação de solos agrícolas e redução contínua da capacidade de produção de alimentos em muitos países.
Diante desse tipo de cenários não é de se estranhar que os jovens africanos sejam os mais pessimistas em relação ao seu próprio futuro e e também da humanidade com um todo.
VEJA NOSSO CANAL NO YOUTUBE – CLIQUE AQUI