
O Azerbaijão é um daqueles países sobre o qual a maioria dos leitores deve conhecer quase nada. Existe inclusive uma brincadeira, de gosto bastante discutível, de se chamar esses países distantes e desconhecidos de “fim-do-mundistão”.
Os azeris ou azerbaijanos são um grupo étnico de língua turcomana da Ásia Central, com grande presença no Noroeste do Irã e, majoritariamente, na República do Azerbaijão, país que fica na Região do Cáucaso. O nome do país é uma combinação de azeri com o sufixo de origem persa stan, usado para designar “terra”, ou seja – a terra dos azeris.
O desconhecimento do Azerbaijão é bastante fácil de explicar – até 1991, o país fazia parte da URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Antes disso foi alvo da cobiça dos impérios da Pérsia, da Rússia e, por fim, do Império Otomano.
No início do século XX o Azerbaijão produzia metade do petróleo consumido no mundo. Petróleo e gás são recursos abundantes na Região do Cáucaso. Aliás, existem relatos de viajantes desde a antiguidade clássica que falavam de poços de gás em chamas nessa região.
As fronteiras atuais da terra dos azeris foram demarcadas em 1828, quando os Impérios Russo e Otomano assinaram o Tratado de Turkmenchay. Do lado russo surgiria o atual Azerbaijão; do outro lado, os azeris passaram a ter seu território primeiro sob controle do Império Otomano e depois pela Pérsia, atual Irã.
A exploração do petróleo em larga escala no Azerbaijão começou na década de 1870. Essa indústria cresceu fortemente em volume e importância até o início da Primeira Guerra Mundial. Com a ascensão dos bolcheviques na Rússia a partir de 1917, o Azerbaijão, a Armênia e a Geórgia foram unidos para formar a República Socialista Federativa Soviética Transcaucasiana, que durou até 1936.
Desde o fim da URSS, o Azerbaijão vem buscando a sua inserção no mercado internacional, feito tornado possível graças as suas imensas reservas de petróleo e gás. Cerca de 90% das exportações do país se referem a vendas de petróleo e gás, principalmente para os países europeus.
Desde o início do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, a Europa passou a olhar para o Azerbaijão com um “carinho” todo especial. O principal interesse dos europeus, é claro, é o gás natural do país e do seu enorme potencial para substituir a Rússia como principal fornecedor do combustível.
O Azerbaijão e a Turquia possuem excelentes relações culturais e comerciais. As línguas turca e azeri são muito próximas (algo muito similar ao que acontece entre o português e o espanhol), o que fez os dois países serem muito próximos ao longo da história. Os dois países também compartilham uma grande população que professa a fé islâmica.
Um importante sistema de oleodutos e gasodutos já existentes nesses dois países, e que também cruzam o território da Geórgia, permite o transporte do petróleo e do gás natural na direção da Europa. Em 2022, um volume total de 21 bilhões de metros cúbicos de gás natural azerbaijano será fornecido para a Europa. Esse volume é cerca de 31% maior do que as exportações feitas em 2021.
No último mês de julho, inclusive, a chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, visitou o Azerbaijão e teve reuniões com o Governo do país. A meta da União Europeia é aumentar consideravelmente as compras e as importações de gás natural do país, se livrando, em definitivo, da dependência do gás da Rússia.
Essa possibilidade, que é comercialmente interessante para ambos os lados, esbarra em problemas técnicos – os sistemas de gasodutos, e também de oleodutos, existentes já atingiram seu limite de capacidade. Novos sistemas para o transporte desses combustíveis precisarão ser construídos, o que vai necessitar de pesados investimentos, além de muito tempo, algo que os países da Europa não têm.
Existe um outro problema nessa equação – é preciso combinar com os russos, literalmente. Mesmo após o colapso da URSS, a Rússia fez questão de manter sua influência sobre as ex-Repúblicas Soviéticas. A região do Cáucaso não escapou dessa política.
A concorrência do gás natural e do petróleo do Azerbaijão sempre incomodou a Rússia, que sempre movimentou as “pedras” do tabuleiro do Cáucaso a seu favor. Com a interrupção das suas exportações do combustível para a Europa, é bastante improvável que os russos fiquem passivos diante do aumento dessas exportações Azerbaijão para os países europeus.
Ainda é cedo para se afirmar que o gás natural do Cáucaso e, mais especificamenete, do Azerbaijão será a salvação energética da Europa. Porém, é nítida a invasão desse combustível por todo o continente nesse momento.
Também é essencial lembrar que a Turquia faz parte da OTAN – Organização do Tratado do Atlântico Norte, força militar criada após a Segunda Guerra Mundial para se contrapor ao crescimento da URSS.
A Turquia tem todo o interesse, tanto comercial como estratégico, de permitir a passagem do gás natural e do petróleo do Azerbaijão através do seu território em direção a Europa, o que deverá ajudar bastante no processo. Vamos esperar para ver o que o futuro nos trará.
Apesar do gás natural ser um combustível de origem fóssil, sua queima é bem menos danosa ao meio ambiente. Logo, continuar usando esse combustível para gerar energia elétrica e em usos industriais é bem mais saudável para o meio ambiente mundial.
Torçamos para que as coisas caminhem bem.
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