Os leitores que têm mais de quarenta anos devem lembrar do gravíssimo acidente com o navio petroleiro Exxon Valdez em 1989. Após ser carregado com petróleo e sair do Porto de Valdez, que fica no Sul do Estado americano do Alasca, o navio Exxon Valdez colidiu com rochas subterrâneas na Enseada do Príncipe Guilherme, no Golfo do Alasca. O acidente abriu um grande rasgo no casco da embarcação, através do qual vazaram entre 257 mil e 759 mil barris de petróleo. Uma gigantesca mancha de óleo atingiu as costas da região, provocando o maior desastre ambiental por derramamento de petróleo até então. Vamos entender o acidente:
O Alasca é o maior Estado norte-americano, com uma área de mais de 1,7 milhão de km². Para efeito de comparação, o Amazonas, o maior Estado brasileiro, tem uma área de 1,56 milhão de km². Até 1867, o Alasca era um território da Rússia, quando foi comprado pelo Governo dos Estados Unidos. Nos últimos anos do século XIX, com a descoberta de reservas de ouro, a região viveu a chamada “Corrida do Ouro”, o que atraiu um grande número de aventureiros para então Território do Alasca. Em poucos anos, com o esgotamento das reservas de ouro, o gelado Alasca acabou sendo praticamente esquecido pela maioria dos norte-americanos.
A grande virada na história do Alasca veio em 1968, quando a maior reserva de óleo cru dos Estados Unidos foi descoberta. Desde então, a exploração do petróleo se transformou na espinha dorsal da economia do Estado, respondendo por cerca de 80% das receitas financeiras e pela geração da maior parte dos empregos locais. Em 1977, foi inaugurado um oleoduto com 1.300 km de extensão, ligando a Baía de Prudhoe, a maior região produtora de petróleo, ao terminal petrolífero do Porto de Valdez, no Sul do Estado, através do qual toda a produção “alaskan” de óleo é exportada.
O intenso tráfego de navios petroleiros no Golfo do Alasca mudaria radicalmente no dia 24 de março de 1989. Após ser carregado com mais de 400 mil toneladas de petróleo, O Exxon Valdez saiu do Porto e se dirigiu para as águas abertas do Oceano Pacífico através do complicado Golfo do Alasca. Segundo os relatórios da época, o capitão do navio, Joseph Hazelwood, abandonou o comando da embarcação e foi para a sua cabine preencher “alguns documentos” – as investigações demonstraram que os tais “documentos” eram na verdade uma garrafa de whisky. O comando da embarcação de 330 metros de comprimento foi deixado sob a responsabilidade de um tripulante com pouca experiência.
Passavam poucos minutos da meia noite quando a irresponsabilidade do capitão cobraria um alto preço – a embarcação atingiu um bloco de recifes submersos, o que rasgou o casco simples do petroleiro (os atuais navios petroleiros são construídos com um casco “duplo”) e teve início um grande vazamento de óleo nas águas oceânicas. Ao longo das oito semanas seguintes ao acidente, uma grande mancha de óleo foi espalhada pelas fortes correntes oceânicas através de mais de 750 km, afetando aproximadamente 2 mil km da costa irregular do Sul do Alasca. Algumas das praias atingidas ficaram cobertas com uma grossa camada de piche com até 90 cm de espessura.
A empresa Exxon, uma das maiores companhias petrolíferas do mundo e dona da embarcação, foi obrigada a mobilizar um verdadeiro exército para a contenção do vazamento e limpeza ambiental. Foram 11 mil homens, 1.400 embarcações, 85 aviões e milhares de máquinas e equipamentos para uso na sucção do óleo e lavagem de rochas. Os trabalhos se estenderiam até 1992, com um custo total na casa de US$ 2 bilhões.
Entre as trágicas imagens que passaram a ocupar grandes espaços nos telejornais e causaram extrema indignação ao mundo, destacam-se os animais resgatados com os corpos completamente cobertos com petróleo. Esses animais eram lavados com solventes para a remoção do óleo e eram encaminhados para centros de tratamento intensivo e recuperação, coordenados por médicos veterinários e biólogos. Apesar de todos os cuidados médicos, os índices de mortalidade eram altíssimos. De acordo com estimativas oficiais, a tragédia provocou a morte de mais de 260 mil aves marinhas, 2.800 lontras-marinhas, 250 águias e 22 orcas, além de dezenas de milhares de peixes, crustáceos e moluscos marinhos.
Após o acidente, todas as atividades ligadas à pesca, a segunda atividade econômica mais importante do Alasca, foram paralisadas no Sul do Estado, afetando diretamente uma população de 32 mil pessoas ligadas direta e indiretamente ao setor. Após um longo e tumultuado processo judicial, a empresa Exxon foi condenada a pagar uma indenização total de US$ 5 bilhões, valor que seria dividido entre todas as pessoas afetadas pelo desastre. Após recorrer da decisão em todas as instâncias da Justiça norte-americana, a Exxon teve uma apelação aceita pela Suprema Corte e as indenizações foram reduzidas para US$ 500 milhões.
Passados 30 anos, o derramamento de óleo no Sul do Estado do Alasca ainda afeta a vida de milhares de pescadores da região. A produtividade pesqueira da região não é mais a mesma – os volumes de salmão, bacalhau, pollock e caranguejos, as espécies de maior importância comercial das águas da região, ainda são inferiores aos números de antes do vazamento. A captura de várias espécies de crustáceos e moluscos que vivem no fundo oceânico e que estão sujeitas à contaminação por resíduos remanescentes de petróleo continuam proibidas. Para estes pescadores, esse acidente acabou saindo “muito barato” para os cofres da Exxon.
A tragédia com o navio petroleiro Exxon Valdez teve um conjunto de desdobramentos, provocando uma série de mudanças na legislação ambiental dos Estados Unidos. As normas de segurança para a extração, processamento e transporte de petróleo e seus derivados ficaram mais rigorosas, sendo inclusive proibido o uso de petroleiros de casco simples – essa norma acabou sendo adotada pelos principais países do mundo. As multas e indenizações a serem pagas pelos infratores também aumentaram substancialmente – no acidente com a plataforma Deepwater Horizon no Golfo do México em 2010, a empresa responsável, a BP –British Petroleum, teve de arcar com multas da ordem de US$ 20 bilhões.
O Exxon Valdez conseguiu ser resgatado e passou por uma grande reforma, sendo depois transferido para operações na Ásia, continente onde as regras para o transporte de petróleo eram bem menos rigorosas que nos Estados Unidos. Para não chamar a atenção, o navio foi rebatizado com o nome de Mediterranean. Em 2007, o navio passou por uma grande reforma e foi transformado em navio graneleiro para o transporte de minerais, quando recebeu um novo nome – Dong Fang Ocean, uma mistura de chinês e inglês que significa algo como “Oceano Oriental”.
Em 2011, o navio foi retirado do serviço e vendido como sucata para uma empresa da Índia. Em 2012, a trágica história do Exxon Valdez chegou ao final – o navio foi completamente desmontado num processo que durou 4 meses e parte dos seus equipamentos e maquinarias passaram a ser utilizados por outras embarcações; a sucata foi encaminhada para reprocessamento em usinas siderúrgicas locais.
Um detalhe irônico da história do Exxon Valdez é que, nos seus últimos anos de atividade, ele singrou os mares da Ásia com o singelo nome de Oriental Nicety, que pode ser traduzido como “Escrúpulo Oriental”.
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[…] O DRAMÁTICO ACIDENTE COM O NAVIO PETROLEIRO EXXON VALDEZ NO ALASCA EM 1989 […]
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