
Nas duas últimas postagens aqui do blog falamos sobre os famigerados e poluentes combustíveis de origem fóssil. Esses combustíveis incluem os derivados de petróleo, o carvão mineral e o gás natural, fontes de energia fundamentais para muitos países.
Um dos combustíveis fósseis mais abundantes e mais consumidos em todo o mundo é o carvão mineral. Em alguns países, citando como exemplo a Índia e a China, parte considerável da geração de energia elétrica vem dessa fonte. Apesar de toda a sua importância, a queima do carvão mineral é uma das maiores fontes de poluição da atmosfera do planeta.
Uma pergunta que muitos dos leitores já deve ter feito para alguém – se o carvão mineral é um combustível tão importante assim, por que é que não vemos um uso tão grande dele aqui no Brasil?
A resposta é bem simples – o nosso país possui poucas reservas de carvão mineral e o tipo desse carvão encontrado por aqui é de baixa qualidade. Vamos entender isso.
O carvão mineral se formou a partir de grandes áreas de florestas que foram soterradas por diferentes processos naturais há muitos milhões de anos atrás. A madeira das árvores sofreu mudanças na sua composição química, agregando grandes quantidades de carbono em sua composição. Essa mudança química deu ao carvão um grande potencial para gerar muito calor durante a queima.
Para entendermos isso de uma forma bem resumida, precisamos voltar aos tempos do antigo supercontinente de Gondwana. Essa grande massa de terra era formada pelos atuais territórios da América do Sul, África, Antártida, ilha de Madagascar, Índia, Austrália, Nova Zelândia e outras ilhas menores. Há cerca de 160 milhões de anos, Gondwana começou a se fragmentar e os seus “pedaços” foram espalhados por todos os lados do mundo por forças tectônicas.
Antes do início desse grande colapso, a maior parte do território de Gondwana era coberto por um grande deserto, que se estendia por grande parte do que é o atual território brasileiro. Como desertos são, essencialmente, terras onde existe muita pouca vegetação, não houve um grande volume de “matéria prima” que pudesse ser transformada em carvão mineral aqui em nossas terras. Para completar, as condições geológicas do nosso território também não favoreceram a formação de grandes reservas de carvão de boa qualidade.
A única região do Brasil onde encontramos reservas de carvão com boa viabilidade econômica para exploração é no Sul do país, mais precisamente em algumas áreas de Santa Catarina, do Rio Grande do Sul e do Paraná. Se qualquer um dos leitores fizer uma rápida pesquisa, verá que um dos grandes centros produtores desse combustível é a região de Tubarão, no Leste catarinense.
A falta de carvão mineral sempre foi um problema para o Brasil. Um exemplo rápido que podemos citar foram as primeiras tentativas de se produzir eletricidade em centrais termelétricas a carvão na cidade do Rio de Janeiro ainda no final do século XIX. As empresas donas dos empreendimentos acabaram falindo pouco tempo depois da inauguração devido aos altos custos do carvão, produto que naquela época era 100% importado.
Um outro exemplo interessante é o caso de Minas Gerais, Estado onde abundam jazidas de minérios como o ferro. Durante o século XVIII, Minas Gerais foi um grande produtor de ouro. Alguns historiadores afirmam que perto de 1 milhão de toneladas de ouro foram extraídas das Minas Gerais e levadas para Portugal naqueles tempos.
Qualquer tipo de processamento ou beneficiamento de metais requer uma fonte poderosa de calor – falamos aqui de fornos e altos-fornos. Sem dispor de carvão mineral para queimar, nossos ancestrais foram obrigados a improvisar e se valeram de carvão de origem vegetal, o mesmo que é usado para fazer o churrasco do fim de semana.
Para que todos tenham uma ideia do impacto do uso do carvão vegetal em Minas Gerais: aos tempos da chegada da expedição descobridora de Pedro Álvares Cabral em 1500, o território onde se encontra hoje o Estado de Minas Gerais tinha perto de 47% de sua superfície coberta com vegetação de Mata Atlântica, o equivale a mais de 282 mil km² de matas do bioma.
Em pouco mais de três séculos e depois de vários ciclos econômicos, a Mata Atlântica hoje está restrita a 10,2% da superfície do território mineiro, ocupando pouco mais de 50 mil km². Os outros 230 mil km² foram, em grande parte, transformados em carvão vegetal para uso nas atividades ligadas à metalurgia.
O lado positivo dessa falta de carvão mineral em nossas terras é que fomos obrigados a nos voltar para os recursos hídricos disponíveis para a geração de energia elétrica. Como consequência direta dessa escolha forçada, a maior parte da energia elétrica usada atualmente no Brasil vem de centrais hidrelétricas.
E não existem centrais termelétricas a carvão aqui no Brasil?
Sim, mas são muito poucas. A imensa maioria dessas unidades geradoras foi construída para funcionar em momentos de falta de água nos reservatórios de usinas hidrelétricas. De acordo com informações do SIN – Sistema Interligado Nacional, existem apenas 8 centrais termelétricas a carvão em operação no Brasil.
Mais de 80% de toda a energia elétrica gerada aqui no Brasil vem de fontes renováveis. Perto de 60% dessa energia é gerada em fontes hidráulicas, 11% em fontes eólicas e cerca de 8% em plantas fotovoltaicas. Para efeito de comparação, 60% da energia elétrica utilizada na Índia vem de termelétricas a carvão.
E tudo isso se deu graças a falta de carvão mineral em nosso território. Meio que “na marra” fomos forçados a criar uma das estruturas de geração de energia elétrica mais sustentáveis do planeta.
Entretanto, com nada é perfeito nesse mundo, ainda precisamos queimar grandes volumes de carvão mineral em nossas siderúrgicas. Parte desse carvão vem das minas do Sul do país e parte é importada.
Enquanto não inventarem uma nova fonte de energia sustentável e não poluente que gere altas temperaturas para uso nesses fornos, vamos precisar continuar queimando a nossa cota de carvão, o que perto do que queimam outros países é bem pouco.
Como eu sempre digo para os meus amigos, nada mal para um país que tem fama de devastar e queimar florestas…
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