
Foi divulgada há alguns dias atrás uma pesquisa internacional feita pela Climate Action Against Disinformation ou Ação Contra Desinformação Climática, numa tradução livre, que teve como objetivo mensurar o impacto das notícias falsas, as chamadas fake news, na percepção dos cidadãos sobre o meio ambiente. Os resultados foram entregues aos organizadores da COP27.
Uma das informações mais surpreendentes e importantes dessa pesquisa é que, para 40% dos brasileiros, combustíveis fósseis como a gasolina e o óleo diesel são considerados como energias limpas. Muito pior – pessoas de outros países, onde a mesma pesquisa foi feita, tem uma percepção semelhante.
Na Índia, 57% da população tem essa mesma percepção. Nos Estados Unidos são 39% e na Austrália 34%. Na Alemanha e no Reino Unido os índiceS são um pouco mais baixos – 25% e 14%, respectivamente.
Para quem está habituado a acompanhar notícias sérias sobre os problemas ligados às mudanças climáticas e ao aquecimento global, como é o caso dos leitores desse blog, essa percepção beira o absurdo. Mas as notícias não param por aí:
- 44% dos brasileiros não acreditam que ações humanas sejam as causas das mudanças climáticas;
- 29% acreditam que “um número grande de cientistas não se entende sobre as causas das mudanças climáticas”;
- Para outros 24%, os dados sobre as temperaturas globais ou não são confiáveis ou são manipulados e
- 15% não acreditam que a produção de combustíveis fósseis cause problemas de saúde nas pessoas.
Na opinião dos pesquisadores envolvidos, “esses resultados da pesquisa refletem como as crenças predominantes de desinformação climática estão em todo o mundo. Há uma grande lacuna entre a percepção do público e da ciência em questões básicas, como a responsabilidade humana pela mudança climática.”
Um estudo recente feito pelo Greenpeace dos Estados Unidos em parceria com as organizações Avaaz e Friends of the Earth mostrou que parte substancial dessa percepção errônea da população tem como origem erros e informações falsas espalhadas pelas redes sociais.
Segundo esses grupos, as grandes empresas desse setor falham ao não conseguir coibir a veiculação desse tipo de notícia. Segundo a avaliação desses grupos, o Twiter teve a pior nota – 5 de um total de 27 pontos possíveis. Facebook e Tik Tok tiveram notas 9 e 7, respectivamente, enquanto o Pinterest alcançou uma nota 14.
Por mais interessantes que sejam essas informações – é preciso acender uma luz de alerta entre os educadores ambientais e produtores de conteúdoS na área, a discussão é bem mais ampla. Quem ou qual entidade passará a ter a responsabilidade de filtrar as informações que circulam nas redes sociais, decidindo o que é ou não verdade.
Nós brasileiros acabamos de sair de um tumultuado processo eleitoral, onde o combate às chamadas fake news teve papel de protagonismo. Inúmeras peças publicitárias de candidatos a cargos públicos foram consideradas ”fake news” e retiradas do ar. Vários sites e blogs de candidatos tiveram o mesmo fim.
O direito brasileiro e, acredito eu, grande parte das legislações dos países, não apresenta uma definição clara do que são essas ditas fake news – qualquer decisão judicial a esse respeito acabará sendo subjetiva.
Outra dificuldade séria será a criação de uma “entidade suprema” com poderes para censurar (a palavra é essa mesmo) toda e qualquer notícia falsa sobre problemas ligados às mudanças climáticas. Quem tem autoridade para fazer isso hoje em dia?
A internet, e por extensão as redes sociais, é controlada a nível mundial por um pequeno número de empresas – Google, Apple, Microsoft, entre outras, a imensa maioria de origem norte-americana. Qualquer que venha a ser essa “entidade suprema”, é certo que ela tenderá a defender os interesses de empresas e cidadãos dos Estados Unidos – quem não for yanke poderá ter sérios problemas.
Pessoalmente, como educador ambiental que sou, acho que o melhor caminho para combater a desinformação é a boa informação. Modéstia à parte, é o que tentamos fazer nas postagens diárias aqui do blog – apresentar conteúdos relevantes e bem fundamentados sobre os problemas ambientais; cada leitor que use essas informações da melhor maneira possível.
De qualquer maneira, foi importante saber que grande parte dos cidadãos tem essa ideia errada sobre os combustíveis fósseis – vamos ter de publicar novas postagens mostrando o que realmente está acontecendo no mundo da energia.
A vida é sempre um eterno aprendizado – tanto para quem procura ensinar quanto para aqueles que buscam aprender.
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