CHINA: UM GIGANTE ECONÔMICO “ALIMENTADO” A CARVÃO

A China possui enormes reservas minerais, onde se destacam os grandes volumes de carvão. As maiores reservas desse combustível fóssil são encontradas no Norte do país – as estimativas indicam que a província de Shanxi possui metade das reservas de carvão do país. Também se destacam com importantes reservas as províncias de Heilongjiang, Liaoning, Jilin, Hebei e Shandong

De acordo com dados de 2018, a China ocupava a primeira posição mundial na produção de carvão com um volume total de 3,5 bilhões de toneladas. Mesmo com essa produção fabulosa, o país também ocupava a posição de maior importador mundial desse combustível com um volume de 285 milhões de toneladas. Os principais fornecedores há época eram a Indonésia e a Austrália. 

Todo esse imenso volume de carvão alimenta uma parte considerável da economia chinesa – aliás, não é exagero afirmar que o dragão gigante da Ásia é alimentado a carvão. A queima do combustível gera a energia necessária para impulsionar siderúrgicas, indústrias, centrais termelétricas para a geração de energia elétrica, além de prover aquecimento para centenas de milhões de residências no rigoroso inverno local. 

Até o ano de 2014, cerca de 80% de toda a energia elétrica gerada na China provinha de centrais termelétricas a carvão, 17% de centrais hidrelétricas e o restante de outras fontes como usinas nucleares. Nesse ano foi estabelecido um plano de ação emergencial para a redução da poluição atmosférica no país.  

Foram estabelecidas reduções de 15% nas emissões de dióxido de enxofre e óxidos de nitrogênio em relação aos níveis de 2015 e estabelecido que as 80 maiores cidades do país tenham 80% dos dias com bons níveis de qualidade do ar. Um dos mecanismos para se conseguir essa redução nas emissões passou a ser a substituição do carvão pelo gás natural. Apesar dessa redução, o carvão ainda continuou reinando como a principal fonte energética da China. 

O “ponto fora da curva” para a economia da China e do mundo como um todo começou no final de 2019, época em que começaram a surgir as primeiras notícias da pandemia da Covid-19. A cidade de Wuhan na província de Hubei na China é considerada como o berço da pandemia que paralisou o mundo a partir do início de 2020. 

Sem maiores conhecimentos sobre a doença e seus mecanismos de disseminação, dos tipos de tratamentos e também dos medicamentos que poderiam ser usados no tratamento das vítimas, Governos de grande parte do mundo passaram a adotar políticas de restrição da circulação de pessoas e de produtos – o famoso “fique em casa – a economia a gente vê depois”. 

Sem nos atermos muito a detalhes desse verdadeiro “samba do crioulo doido” que a maioria dos leitores conhece muito bem, as economias dos países entraram num ciclo contínuo de “desligamento” – sem produção e com a redução drástica do comércio mundial, a demanda por combustíveis caiu bastante, o que resultou numa importante redução da produção de petróleo, gás e carvão

Nesses últimos meses, com o arrefecimento da pandemia da Covid-19, a economia mundial passou a apresentar sinais de rápido aquecimento, com um aumento brusco do consumo de combustíveis. Com a produção e a distribuição totalmente desorganizadas, os preços do petróleo, do gás natural e do carvão dispararam no mercado internacional. A economia chinesa está sofrendo como nenhuma outra com a falta de combustíveis, principalmente para a geração de energia elétrica. 

A China caminha a passos rápidos para se tornar a maior economia do mundo. Porém, ao contrário do que todos nós estamos acostumados aqui em nosso país e em países do Ocidente, a economia chinesa possui um planejamento central. Todas as necessidades de produção da economia – matérias primas, recursos energéticos, obras de infraestrutura, sistemas de transporte, entre outros, dependem do trabalho de planejadores do Governo Central. 

Para se calcular a necessidade de combustíveis em um determinado período, esses planejadores avaliam toda a demanda pelas indústrias, usinas termelétricas, sistemas de transporte, entre outras necessidades. Uma vez determinado volume necessário, é dada uma ordem de produção para as empresas de mineração e para os sistemas de importação, transporte e distribuição dos combustíveis por todo o país. Todo o processo demanda vários meses para seu planejamento e execução. 

A paralização da economia mundial por quase dois anos comprometeu todo esse planejamento estatal e agora, com o brusco reaquecimento da economia mundial, a máquina chinesa está com dificuldades para retomar o ritmo normal. Está faltando gás natural, petróleo e, principalmente, carvão para saciar o apetite energético do dragão chinês, produtos que além de raros estão caros. Serão necessários vários meses, talvez anos, para o mercado mundial se normalizar. 

A poluição criada em toda a China por essa fabulosa queima de carvão e de outros combustíveis fósseis gera inúmeros problemas de saúde nas populações, especialmente das grandes cidades (que no país são muitas). Em grandes regiões metropolitanas como Pequim, Hebei e Tianjin já foram detectados níveis de poluição do ar por partículas resultantes da queima de combustíveis fósseis em níveis até 40 vezes acima do máximo recomendado pela OMS – Organização Mundial da Saúde. 

De acordo com a OMS, a quantidade de partículas microscópicas de poluentes com tamanho até 2,5 micrômetros – conhecidas como PM2.5, deve ser no máximo da ordem de 25 microgramas por metro cúbico de ar. Estudos conjuntos feitos por universidades americanas e chinesas indicam que a intensa poluição do ar nas grandes cidades da China resulta em 177 mil mortes prematuras a cada ano

A redução forçada das emissões de poluentes na China durante esse período da pandemia da Covid-19 salvou milhares de vidas. De acordo com algumas projeções, cerca de 4 mil crianças e 73 mil adultos com idade acima de 70 anos tiveram suas vidas poupadas devido a redução da poluição do ar em grandes cidades chinesas nos primeiros meses da pandemia. Esses números deverão ser bem maiores quando todo o período for devidamente avaliado

Será uma questão de uns poucos meses até que o fornecimento carvão e de outros combustíveis fósseis seja normalizado em toda a China. Muitas das usinas termelétricas movidas a carvão que até hoje estavam sendo mantidas desativadas provavelmente voltarão a operar, dando um folego extra nessa reativação da economia da China. O poderoso dragão chinês voltará a esbanjar saúde em breve. 

Já o povo, esse voltará a sofrer com os dramáticos efeitos da gravíssima poluição do ar nas grandes cidades chinesas. Lamentável! 

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