
Quem acompanha as notícias da área de aviação com certeza já ouviu falar de Alice, um avião experimental para até 9 passageiros que tem um diferencial muito particular – os dois motores da aeronave são alimentados 100% por energia elétrica.
Aqui no Brasil, os estudos para o desenvolvimento de aeronaves sustentáveis também vão muito bem, obrigado. A fabricante brasileira Embraer está trabalhando em toda uma linha de novos aviões com propulsão elétrica/hidrogênio – a ENERGIA FAMILY.
Esses e muitos outros projetos em desenvolvimento em todo o mundo buscam tecnologias aeronáuticas com baixas emissões de carbono, num primeiro momento, passando depois para aviões com emissões zero. Existe aqui um problema de tempo – os projetos mais promissores só deverão estar voando comercialmente a partir de década de 2030.
Se para os pesquisadores e empresas dos diversos setores da aviação a busca por emissões de gases de efeito estufa cada vez menores é uma questão de sobrevivência – os consumidores estão pressionando muito, para os líderes mundiais “altamente preocupados” com o meio ambiente, as coisas não estão tão mal assim. Falo da farra dos jatinhos executivos, destaque nas redes sociais desses últimos dias.
Desde o último dia 6 de novembro, líderes mundiais, empresários, representantes de ONGs ligadas ao meio ambiente, entre muitos outros convidados, estão reunidos em Sharm el-Sheikh, uma cidade turística localizada entre o deserto da Península do Sinai e o Mar Vermelho no Egito, para as reuniões da COP – 27ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas.
Relembrando, a COP – Conferência das Partes, ou Conference of the Parties em inglês, foi adotada em 1992, logo após a conferência do Rio de Janeiro, como o órgão supremo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima. Os países signatários da Convenção ratificaram o acordo em 1994, e passaram a se reunir anualmente a partir de 1995.
O que deveria ser um “celeiro” de grandes ideias e boas notícias para todos aqueles que estão preocupados com o futuro do planeta, infelizmente acabou se transformando numa fonte de mau exemplo para o mundo. O aeroporto da cidade egípcia está com seus pátios completamente abarrotados de jatos executivos usados pelos “líderes” do evento.
De acordo com uma reportagem do jornal New York Post, mais de 400 jatos executivos pousaram no aeroporto local nos últimos dias. A rede de notícias britânica BBC News também comentou sobre esse fato usando dados do FlightRadar24, um aplicativo que mostra, em tempo real, o tráfego aéreo em todo o mundo.
De acordo com algumas informações preliminares, esse número de jatos privados usados pelos participantes da COP27 já representa o dobro do número desses aviões usados para transportar os participantes da COP26, que foi realizada no final de 2021 em Glasgow, na Escócia.
A situação está sendo considerada tão surreal que grupos de ativistas ambientais fizerem protestos nas pistas do aeroporto egípcio (vide foto). E a grita desse pessoal faz todo o sentido – jatos executivos poluem de 5 a 14 vezes mais que os aviões comerciais que transportam centenas de pessoas a cada viagem.
Para que todos tenham uma ideia clara do que estou falando – de acordo com um estudo divulgado em 2020, os jatos executivos ou privados lançaram um volume total de 34 milhões de toneladas métricas de carbono na atmosfera em 2016. Esse volume é maior do que as emissões de muitos países pequenos em um ano.
Um outro dado interessante – um voo de 4 horas de um jato executivo emite o mesmo volume de gases de efeito estufa que um cidadão europeu médio ao longo de um ano. Fica bastante difícil aceitar que governantes e líderes mundiais, que pedem a você para andar de bicicleta, façam suas viagens às custas de tamanha queima de combustíveis fósseis.
Um exemplo de jatinho executivo favorito dos ricos e famosos é o Gulfstream IV. Muitos desses aviões podem vistos neste momento em Sharm el-Sheikh. De acordo com um estudo de 2017, do Institute for Policy Studies, uma pequena viagem de um desses aviões emite quase que o dobro de carbono na atmosfera que um americano médio ao longo de um ano.
Todos sabemos que tempo é dinheiro – governantes e grandes empresários não podem perder seu tempo enfrentando filas em aeroportos para viagens em jatos comerciais de carreira. Porém, a tecnologia atual permite que sejam feitas reuniões virtuais – a recente pandemia da Covid-19 mostrou o quanto essa facilidade foi importante.
O grande problema é que no virtual não dá para tirar aquela foto em grupo, que sairá na capa de jornais e de sites de notícias em todo o mundo, mostrando para o público o quanto esse pessoal está preocupado com a saúde do planeta e com o seu futuro.
Enquanto isso, continue andando com a sua bicicleta, em trens e em ônibus (de preferência elétricos ou movidos com biocombustíveis), pois as suas emissões de carbono e de gases de efeito estufa é que são as responsáveis pelo aquecimento global.
Haja “cara de pau”, como dizemos aqui em casa…
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