
Começo essa postagem explicando que o título não é nenhuma pegadinha. Não vamos falar de nenhum esquema de corrupção ou de desvio de dinheiro público envolvendo algum grupo político que seja denominado como as “onças”. Vamos falar mesmo de felinos de grande porte, mais especificamente de onças-pardas (Puma concolor), também conhecidas como pumas, suçuaranas e leão-baio.
Chácaras e sítios da região do Altiplano Leste de Brasília estão sendo invadidos por onças-pardas, que estão atacando e matando animais domésticos como galinhas, carneiros e cabras – até mesmo cavalos já foram atacados. Esse é um problema que está diretamente ligada à fragmentação de habitats sobre o qual tratamos na postagem anterior.
Segundo informações da Associação dos Produtores Rurais do Altiplano Leste, esses ataques vêm acontecendo desde novembro do ano passado. A confirmação que os ataques tem partido de onças-pardas se deu em janeiro último, quando câmeras de segurança de uma propriedade filmou o animal.
O Batalhão Ambiental da PMDF – Polícia Militar do Distrito Federal, afirma que só foi notificada do problema em meados de fevereiro. Desde então, o Batalhão começou a instalar câmeras fotográficas com sensores de presenças para determinar as áreas onde o animal (ou animais) estão circulando. O objetivo dos militares é capturar o animal vivo e com segurança.
Brasília, a nova Capital Federal de nosso país, começou a ser construída em meados da década de 1950, tendo sido inaugurada oficialmente em 1960. A cidade foi um marco da ocupação do Cerrado brasileiro, região que acabou sendo transformada na grande fronteira agrícola do país nas últimas décadas.
O começo da degradação ambiental do Cerrado em grande escala se deu em meados da década de 1970, época em que a EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias, lançou as primeiras de grãos – destaque para a soja, adaptados para as condições de solos e clima do Cerrado.
O Cerrado ocupa aproximadamente 2 milhões de km2 do território brasileiro. O bioma está presente em dez Estados brasileiros – Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Piauí, Maranhão, Tocantins, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, além de ocupar pequenas áreas do Paraguai e da Bolívia.
O bioma tem como uma de suas principais características a presença de solos ácidos e de pouca fertilidade, o que sempre foi um entrave para a sua ocupação. Na década de 1950, foram desenvolvidas técnicas para a aplicação de calcário nesses solos – a calagem, o que passou a permitir a correção da acidez. Com o advento das sementes adaptadas ao Cerrado, a agricultura no bioma não parou mais de crescer.
A vegetação nativa do Cerrado é altamente adaptada às condições ambientais do bioma. As plantas possuem sistemas de raízes extremamente longos, o que permite captar a água que se acumula em lençóis e aquíferos profundos. O Clima no bioma possui duas estações bem definidas – um verão quente e seco, e um inverno quente e chuvoso.
De acordo com os levantamentos mais recentes, mais de 40% da vegetação nativa do Cerrado já desapareceu por causa do vigoroso avanço das frentes agrícolas. Algumas fontes afirmam que esse grau de devastação já comprometeu metade da vegetação nativa do bioma.
É aqui que começam os problemas com os animais nativos do bioma, como é o caso das onças-pardas. Com a devastação da vegetação, ocorre uma diminuição das populações de animais que eram predados pelas onças. Com a falta de alimentos, os animais se arriscam entrando em fazendas e chácaras em busca de animais domésticos.
Um dos sitiantes da região relatou que onze galinhas desaparecem de sua propriedade apenas no começo de janeiro. Outra propriedade teve dois carneiros mortos; um aras informou que dois pequenos potros foram atacados. Todos esses ataques demonstram que as onças-pardas estão buscando comida.
Para os moradores da região, o problema vai muito além da perda de animais domésticos – é uma questão de segurança. Uma onça-parda adulta pode atingir um comprimento de cerca de 2,4 metros um peso próximo aos 100 kg. Encontrar um animal desse tamanho durante uma caminhada ou em seu quintal é algo assustador, principalmente para quem tem crianças pequenas em casa.
O Distrito Federal não está sozinho nessa questão. Tem sido cada mais frequente os relatos de onças-pardas andando em cidades por todo o país. Há relatos de visitas desses animais inclusive em cidades da Região Metropolitana de São Paulo, a mais densamente povoada do Brasil. Há coisa de uns dois anos atrás um animal dessa espécie foi capturado dentro de uma fábrica em Itapecerica da Serra, munícipio limítrofe com São Paulo.
Quando a captura desses animais é feita por policiais dos Batalhões Ambientais, são usadas redes e/ou dardos tranquilizantes para sedar o animal. Normalmente, o animal passa por um exame geral feito por um médico veterinário e depois é encaminhado para ser solto dentro de alguma área de proteção ou reserva ambiental.
Em muitos casos, infelizmente, os moradores se valem de armas de fogo para abater os animais em nome da segurança de suas famílias. Não custa lembrar que as onças-pardas estão ameaçadas de extinção e todo e qualquer esforço para salvar esses animais é sempre bem-vindo.
Vamos torcer pela captura segura desse animal (ou animais) que estão assustando os moradores do Altiplano Leste de Brasília e que as autoridades consigam levá-los para uma das reservas naturais da região. E que isso aconteça antes que algum valentão resolva o problema a bala…