AVES MIGRATÓRIAS DA AMÉRICA DO NORTE ESTÃO FICANDO MENORES POR CONTA DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS 

Estudos realizados por pesquisadores de universidades dos Estados Unidos chegaram a uma constatação surpreendente: as aves migratórias da América do Norte estão encolhendo por conta das mudanças climáticas. E isso não é tudo – a mudança está afetando mais as aves que tem cérebros menores. 

A principal fonte de pesquisa foram os dados coletados pelo Museu Field da cidade de Chicago. Desde a década de 1970, esse museu vem coletando e catalogando pássaros que morrem ao se chocar contra as vidraças dos grandes arranha-céus da cidade. Os dados incluem informações de 70 mil pássaros coletados entre 1978 e 2016. 

A cidade de Chicago fica no caminho de diversas rotas migratórias de aves que, todos os anos, viajam do Canadá para a América Latina em busca de um clima mais quente e de alimentos ante a chegada do rigoroso inverno local. Muitas dessas aves acabam encontrando a morte ao se chocarem contra as cortinas de vidro dos prédios. 

O estudo comparativo do tamanho e peso de aves da mesma espécie ao longo do tempo mostrou que os animais estão ficando menores com o passar do tempo. Segundo os pesquisadores, essa diminuição de tamanho é uma resposta direta às mudanças climáticas – com temperaturas ambientais mais altas, as aves não precisam ter corpos tão grandes. Corpos grandes, que conservam melhor o calor, são fundamentais para a sobrevivência das aves em locais muito frios. 

Outra constatação interessante – a envergadura das asas dessas aves também pode estar aumentando. Corpos menores tendem a gerar menos energia para o voo a longas distancias nas migrações e o aumento das asas é uma forma de se aumentar a eficiência do voo dessas aves. 

Os estudos também indicam que muitos animais estão desenvolvendo bicos e penas maiores, características que permitem uma melhor regulação da temperatura corporal. O ouvido das aves também está ficando mais sensível. Estudos similares feitos com morcegos, musaranhos e até com seres humanos também vem sugerindo mudanças morfológicas por causa das mudanças climáticas. 

Um exemplo rápido: populações humanas que vivem em regiões com clima quente e úmido tendem a ter um nariz maior do que habitantes de regiões frias e secas, onde um nariz mais estreito ajuda a umedecer e aquecer o ar antes dele descer para os pulmões. Essa mudança morfológica foi o resultado de dezenas de milhares de anos de adaptação dos diferentes povos ao clima de suas respectivas regiões. Caso uma região fria comece a ficar quente, há uma tendência de se repetir essa mudança nos narizes de seus habitantes

Um detalhe polemico desses estudos faz referência as aves com cérebros maiores em relação ao tamanho do corpo que, segundo as análises, estão encolhendo menos que as aves com cérebros menores. Não existe um consenso entre os pesquisadores sobre isso. 

Segundo conclusões de pesquisadores da Universidade de Washington, aves com cérebros maiores possuem uma maior flexibilidade e estabilidade comportamental, além de uma maior capacidade de aprendizado, o que contribui para uma maior expectativa de vida. 

Esse conjunto de características permite que essas aves encontrem micro habitats com temperaturas mais baixas, o que estaria evitando a necessidade de redução do volume corporal. Muitos pesquisadores não acreditam nessa explicação e estão buscando outras respostas. 

As aves formam um dos grupos animais de maior êxito evolutivo na história natural. Elas são encontradas em todos os continentes – inclusive na gélida Antártida, além de ilhas completamente isoladas no meio dos grandes oceanos. Em cada um desses diferentes habitats, as aves se adaptaram ao longo de milhões de anos para viver em climas e vegetações dos mais diversos. Mudanças ambientais bruscas podem ser fatais para esses animais. 

Um grande exemplo do sucesso evolutivo desses animais foram as moas da Nova Zelândia, um grupo de aves que era formado por nove espécies de seis gêneros. Essas aves não voavam e as duas maiores espécies, a Dinornis robustus e a Dinornis novaezelandiae podiam atingir uma altura de 3,6 metros com o pescoço estendido e um peso de 230 kg. Esses animais reinaram absolutos nessas ilhas por dezenas de milhões de anos. 

Quando os polinésios desembarcaram nas ilhas neozelandezas por volta do ano 1280, estima-se que existiam ali cerca de 58 mil moas. No ano 1440, todas as moas já haviam desaparecido devido à caça excessiva. Esses animais não conseguiram se adaptar rapidamente às mudanças ambientais criadas pela chegada dos seres humanos. 

Um destino semelhante, desgraçadamente, parece estar reservado ao kakapo, uma espécie de papagaio da Nova Zelândia que não voa e que chega a pesar até 4 kg. Essa ave tinha como único predador natural a águia-de-haast, uma espécie local que também foi levada à extinção pelos maoris por volta do ano 1400. A caça para o aproveitamento das penas (que felizmente já foi abolida há muito tempo) e a introdução de espécies invasoras como raposas, ratos e gatos domésticos vem dizimando gradativamente a espécie. 

Outras espécies de aves extremamente adaptadas para uma vida em condições ambientais muito específicas são os pinguins. Essas aves perderam a capacidade de voar ao longo de seu processo evolutivo, porém, se adaptaram como nenhuma outra a uma vida semiaquática. As diferentes espécies de pinguins são praticamente exclusivas do Hemisfério Sul, a exceção de pinguins-de-Humbolt que vivem nas Ilhas Galápagos. 

As maiores populações dessas aves são encontradas no continente Antártico, onde os animais se adaptaram perfeitamente a condições climáticas extremas, suportando temperaturas inferiores a –20 C. Tente imaginar quais serão as consequências do gradual aquecimento que já se verifica nas águas e terras da Antártica para esses animais… 

Todas essas mudanças morfológicas que estão sendo observadas nessas aves migratórias são uma resposta evolutiva natural às mudanças ambientais. A questão que fica em aberto – haverá tempo hábil para mudanças bruscas em tão pouco tempo? 

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