
Uma postagem rápida.
Ao longo de toda essa quinta-feira, dia 17 de fevereiro, equipes trabalharam no resgate às vítimas dos desmoronamentos de encostas em Petrópolis. Foram registrados um total de 148 desmoronamentos na cidade. O número de vítimas fatais até o início da noite chegou a 117 e o número de pessoas desaparecidas pode chegar a 100 pessoas.
Os trabalhos de limpeza e recuperação também prosseguiram por todos os cantos da cidade. Casas destruídas, ruas cobertas de lama, pontos de alagamentos, carros que foram arrastados pelas fortes enxurradas e que se amontam pelas ruas, ônibus caídos em rios – o cenário lembra um campo de guerra. Voltou a chover no final da tarde, o que assustou muita gente e forçou a interrupção dos trabalhos de busca e salvamento.
Lojas e outros estabelecimentos comerciais que conseguiram abrir suas portas ficaram lotados. Há falta de diversos produtos. Muitas lojas tiveram seus estoques invadidos pelas águas e serão necessários vários dias até que haja uma regularização dos serviços.
De acordo com informações divulgadas pela Defesa Civil, a cidade de Petrópolis recebeu um volume de chuvas da ordem de 300 mm ao longo de 6 horas a partir do início da noite do dia 15 de fevereiro. Isso significa que cada metro quadrado do território da cidade foi atingido por 300 litros de água ao longo desse período de tempo.
Em 2010, quando trabalhava na cidade de Porto Velho em Rondônia, eu acompanhei uma chuva fortíssima – foram 246 mm ao longo de pouco menos de 4 horas. Esse volume de chuva provocou enchentes generalizadas por toda a cidade, atingindo mais de um metro em algumas avenidas. A cidade é bem plana e está relativamente bem preparada para suportar as fortes chuvas da região.
O que aconteceu em Petrópolis foi uma chuva de proporções amazônicas, porém caindo em terrenos com encostas muito íngremes, um fator que faz com que as águas da chuva ganhem energia e velocidade. Uma cena impressionante que foi veiculada nos noticiários e redes sociais mostrou dois ônibus que foram arrastados para a calha de um rio pelas fortes enxurradas. Isso demonstra o potencial destruidor dessas chuvas e explica o rastro de destruição que ficou para trás.
Enquanto a luta das equipes de resgate em busca de possíveis sobreviventes soterrados prosseguia e a população se esforçava para tentar se recuperar dos estragos causados pelo temporal, a guerra de narrativas entre as autoridades na busca de um possível responsável pela tragédia esquentava.
Uma dessas narrativas afirma que o Governo do Estado do Rio de Janeiro gastou apenas 60% dos recursos orçamentários destinados a obras de contenção de encostas foram usados. Outras narrativas afirmam que grupos de vereadores da cidade estimularam a criação de bairros populares em áreas de risco, muitas das quais vieram ao chão com essa forte tempestade.
Infelizmente, e mais uma vez, essa briga entre autoridades chegou tarde para as dezenas de vítimas fatais e também para as centenas de desabrigados. A ocupação desordenada das encostas de Petrópolis vem sendo um processo contínuo nas últimas décadas, algo que acontece diante dos olhos da Prefeitura e do Governo do Estado.
Em 2011 e 2013, sem contar outros eventos de menor porte, as chuvas provocaram grandes tragédias na cidade e em toda a Região Serrana do Rio de Janeiro. Em cada uma dessas tragédias ouvimos discursos de autoridades lamentando as fatalidades e prometendo ações para remediar os problemas de ocupação irregular das encostas. Nem é preciso lembrar que muito pouca coisa foi feita. Muito pior: o avanço da mancha urbana nos morros continuou.
O momento é de tristeza e de muita indignação. Existem coisas urgentes e inadiáveis a serem feitas – localizar, identificar e enterrar dignamente os mortos, tratar os feridos, providenciar abrigo para os desalojados, além de recuperar, da melhor maneira possível, a infraestrutura da cidade. Passada essa fase crítica, será preciso cobrar as autoridades locais e estaduais pelos feitos e mal feitos na cidade.
Já passou da hora de se resolver ou, no mínimo, de se minimizar os problemas urbanos e os riscos nas encostas de Petrópolis e de outras cidades da região.