GOVERNO DOS ESTADOS UNIDOS LIBERA O PLANTIO EM ÁREAS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL

A Justiça da Alemanha liberou há poucos dias atrás a supressão da vegetação de uma floresta com de 5,5 mil hectares na região de Lützerath, no Estado da Renânia do Norte-Vestfália, o coração industrial da Alemanha. Conforme apresentamos em uma postagem anterior, essa floresta se formou há aproximadamente 12 mil anos. 

Os solos dessa região são ricos em lignite ou o carvão marrom, um combustível fóssil altamente poluente, porém, essencial num momento em que o país vive uma crise energética sem precedentes. Com o conflito entre a Rússia e a Ucrânia, a Alemanha poderá perder mais de 55% do seu fornecimento de gás – então, vale tudo para manter a economia da “locomotiva da Europa” em movimento. 

Além das questões energéticas, o conflito entre os dois países eslavos representa uma dupla ameaça para a produção e o fornecimento de alimentos no mundo. Em primeiro lugar pela grande produção de fertilizantes na Rússia e na Bielorrússia, seu Estado aliado. O Brasil, citando um exemplo, é um dos grandes produtores de alimentos do mundo e um grande dependente dessas importações. 

Também é preciso lembrar que tanto a Rússia quanto a Ucrânia são grandes produtores de grãos e outros produtos de origem vegetal como é o caso do óleo de semente de girassol. Para se ter uma ideia do tamanho do problema – os dois países respondem juntos por 30% da produção mundial de trigo. A commodity subiu muito nos últimos meses e há sérios riscos de desabastecimento no mercado mundial. 

Governos de todo o mundo tem buscado outras alternativas e os países produtores de grãos como o Brasil vem sendo estimulados a aumentar suas respectivas produções. Recentemente, a diretora-geral da OMC – Organização Mundial do Comércio, a nigeriana Ngozi Okonjo-Iweala, esteve aqui no nosso país e fez questão de destacar a importância do Brasil como produtor mundial de alimentos. 

A segurança alimentar do mundo virou uma prioridade política em vários países e tema frequente do discurso de muitos políticos. Infelizmente, como vem sendo observado no setor energético, a exemplo da derrubada da floresta milenar na Alemanha, o aumento da produção de alimentos tem se voltado contra a preservação ambiental. 

Um exemplo preocupante vem dos Estados Unidos – depois de muita pressão por parte dos produtores rurais, o USDA – Departamento de Agricultura norte-americano, vai permitir o uso de áreas ambientalmente sensíveis para o plantio de alimentos. Entre as justificativas estão a necessidade de se aumentar a produção e garantir a segurança alimentar do mundo. 

O USDA possui um programa de estímulo à criação de áreas de conservação (CRP – Conservation Reserve Program), onde os produtores participantes recebem um valor em dinheiro do Governo Federal. Essa “autorização” permitirá que os produtores que estejam no seu último ano de contrato utilizem essas áreas de conservação. 

Os contratos duram entre 10 e 15 anos e visam principalmente áreas sensíveis como encostas de morros, matas ciliares e áreas no entorno de nascentes. A adesão é voluntária e o produtor se compromete a proteger essas áreas. Os valores pagos pelo Governo são proporcionais ao tamanho da área preservada. 

Em tempos de forte demanda por grãos e alimentos, onde os preços dos produtos estão com forte alta, deixa de ser interessante aos produtores receber os valores contratados com o USDA. Aliás, foram as associações de produtores rurais norte-americanos as maiores lobistas a favor dessa mudança nas “regras do jogo”. 

Na mesma balada, o USDA também anunciou a flexibilização de programas de incentivo à qualidade ambiental e também no manejo e conservação. Segundo as autoridades do país, essas flexibilizações nas regras ambientais são provisórias e deverão durar enquanto reinar o clima de insegurança alimentar no mundo. 

Fazendo uma analogia com a agricultura brasileira, essas mudanças nas regras seria o equivalente a liberar o uso das áreas de preservação permanente nas propriedades rurais brasileiras conforme determina o Código Florestal Brasileiro. Só para lembrar – em áreas do Cerrado, por exemplo, a área a ser preservada equivale a 50% do tamanho da propriedade rural; na Amazônia, essa área corresponde a 80% da área total da propriedade. 

Imaginem qual seria a reação de países como a França, um grande produtor agrícola, a uma decisão nessa linha pelas autoridades aqui do Brasil. Em 2020, durante as famosas queimadas na região Amazônica naquele ano, o Presidente da França – Emmanuel Macron, chegou a ameaçar o Brasil com ataques de armas nucleares caso a destruição da floresta não cessasse. 

Será que Macron e outros líderes internacionais que falaram grosso com o Brasil vão ameaçar o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, por esse afrouxamento nas regras ambientais? 

Fica a pergunta no ar… 

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3 Comments

  1. […] Outro país que está, literalmente, ardendo nas últimas semanas é a Itália. Aliás, a próxima postagem será totalmente dedicada ao país. O vale do rio Pó, a maior bacia hidrográfica italiana e grande região de produção agropecuária, está sendo castigado por uma forte seca, a maior dos últimos 70 anos. Metade da produção agrícola está ameaçada, uma péssima notícia em tempos de carência de alimentos no mundo.  […]

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