OS RISCOS DE UMA CRISE MUNDIAL DE ALIMENTOS

Na última terça-feira, dia 7 de fevereiro, a cidade de São Paulo e boa parte da Região Metropolitana enfrentaram uma chuva recorde – em 3 horas choveu o volume esperado para 10 dias.  

Bem por acaso, eu estou trabalhando numa obra de reparo da piscina de uma cobertura na Região dos Jardins. Meu pessoal havia esvaziado completamente a piscina um pouco antes da chuva e, no dia seguinte, havia uma lâmina de água de 10 cm. Ou seja, o volume de chuva naquele ponto foi de 100 mm, um valor elevadíssimo. 

Sempre que uma chuva com essa intensidade atinge a Região Metropolitana, existe um aumento quase que generalizado nos preços das verduras e de muitos legumes consumidos pela população. Essa produção fica localizada no Cinturão Verde, uma região de produção agrícola em municípios vizinhos. A chuva destrói as plantas, o que faz com que os preços disparem. 

Além de chuva em excesso, plantações sofrem pesadas perdas com secas e ondas de calor, com geadas e frio fora de época, com ataques de pragas como gafanhotos, entre outros eventos associados a problemas climáticos e ambientais. 

Não é segredo para qualquer leitor bem informado a imensa quantidade de problemas climáticos que estão pipocando por todos os cantos do planeta. Ondas de calor extremo em regiões da América do Norte, da Europa e da Ásia. Outras regiões estão sofrendo com secas severas ou com ondas de frio extremo. 

Grande parte desses problemas decorrem do aumento das temperaturas do planeta, mais conhecido genericamente como as mudanças climáticas globais. Entre outros problemas, essas mudanças climáticas estão afetando a produção de alimentos em várias partes do mundo. 

Um outro problema importante que também está afetando a produção de alimentos é a crise energética. Um exemplo fácil – tratores e máquinas agrícolas, além dos caminhões usados para o transporte da produção, utilizam, majoritariamente, motores diesel. Se o preço desse combustível sobe, há um impacto direto nos custos e no volume de produção dos campos. 

O aumento dos custos energéticos também tem impacto nos custos de produção de insumos importantes para a agricultura – fertilizantes, calcário, pesticidas, maquinários e implementos agrícolas, entre outros. Isso também vai encarecer e até mesmo desestimular a produção. 

Falando de fertilizantes, precisamos falar do imbróglio criado após a invasão da Ucrânia pela Rússia, esta última uma importante produtora de diversos tipos de fertilizantes. Muitos países impuseram pesadas sanções contra a Rússia, o que, entre outras coisas, fechou o acesso de boa parte do mundo aos fertilizantes fabricados no país. 

Essa invasão também comprometeu um importante celeiro agrícola do mundo – a Ucrânia. Grande parte dos países da Europa dependia das exportações de alimentos da Ucrânia para equilibrar a demanda de suas populações, a começar pelo trigo. Não custa lembrar que Rússia e Ucrânia respondiam por quase 1/3 da produção mundial de trigo até um ano atrás. 

Completando o “pacote” de problemas, precisamos lembrar da pandemia da Covid-19, que paralisou a economia mundial por mais de um ano e que, ainda hoje, está causando problemas em todo o mundo. Muitos países ficaram sem mão de obra no campo e a produção de importantes culturas sofreu uma forte retração. 

O somatório de todos esses problemas pode estar levando o mundo a uma grande crise alimentar já a partir desse ano de 2023. De acordo com informações da FAO – Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, o preço real dos alimentos sofreu um aumento de 28% entre os anos de 2020 e 2021, e de, pelo memos, 20% em 2022. Aliás, os preços atingiram o nível mais alto desde 1960. 

Segundo a FAO, a parcela da população mundial em situação de insegurança alimentar aguda saltou de 135 milhões em 2019, para 345 milhões atualmente. Além disso, 845 milhões de pessoas carece de uma alimentação adequada. A situação é mais crítica na África e na Ásia. 

Entre as regiões com maiores problemas destacam-se o Chifre da África, onde se incluem territórios da Somália, Etiópia, Eritréia e Djibuti, região que sofre os efeitos de uma seca avassaladora, o Afeganistão e o Paquistão, onde grandes áreas foram devastadas por enchentes, além de zonas em guerra como a Síria.  

Mesmo em países com grande produção de alimentos como o Brasil, Argentina e Estados Unidos, há grandes problemas. Na Argentina, por exemplo, mais de metade da população foi colocada numa condição de pobreza absoluta por problemas de gestão econômica do país e não consegue comprar alimentos em quantidade suficiente. 

Aqui no Brasil a população vê os preços dos alimentos aumentarem por causa da forte demanda internacional por carnes, soja e milho, o que reduziu o poder de compra. Já nos Estados Unidos há uma série de quebras de safras por causa do clima e também problemas generalizados na logística – os norte-americanos até tem dinheiro em mãos, mas estão encontrando supermercados com muitas prateleiras vazias. 

Trocando em miúdos – a coisa está ficando feia e todos nós teremos dificuldades pontuais ou até mesmo críticas no acesso a diversos tipos de alimentos. E, de acordo com as leis de mercado, se a oferta de algum produto cai os preços sobem. 

Ao longo das próximas postagens vamos apresentar alguns dos diversos problemas que estão sendo enfrentados pelos produtores de importantes alimentos e tentar avaliar os impactos que isso gerará para os consumidores a médio e longo prazo. 

Até lá! 

VEJA NOSSO CANAL NO YOUTUBE – CLIQUE AQUI

Publicidade

2 Comments

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s