O cobre foi, muito provavelmente, o primeiro metal utilizado pela humanidade. Estudos arqueológicos indicam que o cobre começou a ser minerado e trabalhado por agrupamentos humanos por volta do ano 9.000 a.C. Durante vários milênios, todas as ferramentas e armas metálicas produzidas pela humanidade foram feitas com cobre. Por volta do ano 2.000 a.C., os egípcios passaram a adicionar pequenas quantidades de estanho durante a fundição do cobre e, assim, passaram a produzir peças em bronze, um metal mais duro que o cobre puro. Com o aprimoramento da fundição do ferro, uma tecnologia que surgiu por volta do ano 1.200 a.C., o cobre passou a ocupar um papel secundário na vida humana.
Foi somente a partir de meados do século XIX, com o início das primeiras aplicações da eletricidade na vida humana, que o cobre voltou a ter importância significativa, graças às suas excelentes características de condução de corrente elétrica. Sistemas de redes telegráficas, seguidos posteriormente de redes telefônicas e de distribuição de energia elétrica, passaram a ser implantados em todo o mundo. Essa súbita valorização do cobre levou a uma intensa busca por fontes minerais e colocou no mapa mundial um país isolado da América do Sul – o Chile.
A mineração acabou se transformando na principal atividade econômica do país e o cobre é principal produto exportado pelo Chile. Cerca de 60% das receitas externas do país vem da venda do cobre. No Norte do país são encontradas algumas das maiores reservas mundiais de cobre, calculadas em mais de 115 milhões de toneladas. Oo Chile responde atualmente por mais de 10% da produção mundial do metal. Uma das mais famosas minas a céu aberto do mundo, Chuquicamata, fica na região, ocupando uma extensão de 4,5 km e uma largura de 3,5 km – a profundidade é superior a 900 metros.
Outro produto de destaque na mineração chilena é o salitre, também conhecido como nitrato, um mineral que tem múltiplas aplicações, que vão da produção de fertilizantes até seu uso para a produção da pólvora. A multiplicação de conflitos e das guerras de independência em diversos cantos do mundo ao longo do século XIX, aumentou grandemente o uso do salitre para fins militares. A intensa disputa pelas minas de salitre na região do Deserto do Atacama levou Chile, Bolívia e Peru à uma guerra territorial, episódio que ficou conhecido com o nome de Guerra do Pacífico e se desenrolou entre 1879 e 1883. A Bolívia foi a grande derrotada nesse conflito, perdendo uma importante faixa do seu território e sua saída para o Oceano Pacífico.
Apesar da imensa importância e do grande volume das atividades de mineração no Chile, seus impactos ambientais são bem diferentes daqueles vistos em outras partes do mundo. A razão para isso é a falta crônica de água no Norte do país e, lembrando, a mineração do cobre é uma atividade que necessita de grandes volumes de água. O Chile tem uma geografia única, com a Cordilheira dos Andes ocupando toda a faixa Leste do país de Norte a Sul – praticamente todos os rios têm suas nascentes na Cordilheira, de onde a água de degelo de glaciares escorre lentamente e forma pequenos cursos de água. Na região do Atacama, considerado como um dos desertos mais secos e quentes do mundo, essa água criada pelo degelo dos Andes se evapora rapidamente. Uma combinação de relevo, ventos e correntes marinhas impede a chegada das chuvas, que são raríssimas no Atacama e nas regiões circunvizinhas.
Um exemplo do uso da água na mineração é a lavagem do material escavado para separação dos minérios. De acordo com informações da Comissão Chilena do Cobre, se estima um consumo próximo de 27 mil litros de água por segundo na mineração do cobre no ano de 2021, um consumo superior ao da cidade de São Paulo com seus mais de 11 milhões de habitantes. No caso no salitre, um minério que se formou na superfície e se encontra praticamente puro do solo, não há necessidade do uso de volumes tão grandes de água.
Conforme já tratamos em postagens anteriores, o aquecimento global vem provocando uma redução sistemática dos glaciares de montanhas em todo o mundo – a Cordilheira dos Andes não é exceção. Diversas fontes de água e rios chilenos vem apresentando redução sensível dos seus caudais, um problema que já está causando preocupação em muita gente. Diversos grupos ambientalistas têm aumentado sua pressão sobre empresas mineradoras, exigindo mudanças em seus processos de produção, com vistas a economia de água. Uma das opções em estudo pelas empresas é o uso de água dessalinizada em um futuro bem próximo – já para o mesmo ano de 2021, a expectativa das empresas de mineração do Chile é a de usar mais de 9 mil litros de água dessalinizada por segundo em seus processos.
Além dos conflitos gerados pela intensa disputa pelos recursos hídricos, a mineração no Norte do Chile tem um longo histórico de desrespeito aos direitos dos trabalhadores. Durante várias décadas, esses trabalhadores foram recrutados em aldeias indígenas no Chile, Argentina, Bolívia e Peru. Entre os abusos se incluem baixos salários, jornadas de trabalho exaustivas, além de condições de trabalho inseguras, um problema que é agravado pela grande frequência de terremotos no país. Para citar um caso de 2010, um grupo de 33 mineiros ficou preso por mais de dois meses na mina San José, soterrados a uma profundidade de 688 metros. Graças a um grande esforço internacional, todos os mineiros foram resgatados com vida.
Um dos casos mais dramáticos da história da mineração mundial, que muita gente faz questão de esquecer, ocorreu na cidade de Iquique, no Norte do Chile, em 1907. Trabalhadores das minas de salitre da região iniciaram um movimento grevista em função das péssimas condições de trabalho e, especialmente, contra o pagamento dos salários em fichas, algo que também era muito comum nos seringais brasileiros na época. Essas fichas só podiam ser trocadas em armazéns da própria mina, onde os produtos e alimentos eram vendidos a preços exorbitantes, Milhares de mineiros se dirigiram para a cidade de Iquique (vide foto), onde se concentraram na Escola Santa Maria.
Inflexíveis em suas reivindicações, os mineiros prometeram manter a greve até que conseguissem negociar com os patrões. Ao invés de negociar, as empresas optaram em pedir ajuda ao Governo do Chile, que ao invés de negociadores, mandou o exército para a cidade. Com um impasse nas negociações, os militares partiram para o confronto – mais de 5 mil mineiros desarmados sucumbiram ao fogo das metralhadoras. Em 1970, o grupo musical chileno Quilapayn lançou uma cantata popular – Santa Maria de Iquique, onde narra em versos musicais o drama dos mineiros do salitre.
Além de destruir o meio ambiente, a mineração também destrói vidas.
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