
A província de KwaZulu-Natal, na costa Leste da África do Sul, completou uma semana sob fortes chuvas. A província vizinha, Eastern Cape, também está sofrendo com as chuvas. De acordo com os comunicados oficiais, as fortes inundações destruíram cerca de 4 mil casas, 13,5 mil pessoas estão desabrigadas e já foram contabilizados perto de 400 mortos. Há notícias que falam de dezenas de desaparecidos.
Uma das regiões mais afetadas é o entorno de Durban, importante cidade portuária da África do Sul com uma população de 3,5 milhões de habitantes. Diversas pontes da região metropolitana foram destruídas pela força da correnteza dos rios, deixando bairros e vilas completamente isolados.
Essas regiões estão sem os serviços de eletricidade e de abastecimento de água. A população também está com dificuldades para encontrar alimentos – os poucos estoques disponíveis foram atingidos por enchentes e estragaram. De acordo com os relatos da população, essa situação é inédita na história da cidade.
O exército sul-africano foi mobilizado e está usando helicópteros para auxiliar no resgate e atendimento das vítimas. Mais de 4,5 mil policiais também foram convocados para auxiliar nas operações de resgate. As equipes estão enfrentando grandes dificuldades no acesso a regiões remotas por causas dos danos provocados nas estradas pelas chuvas – trechos inteiros de estradas foram carregados pelas enchentes.
A África do Sul possui uma área total de 1,22 milhão de km² e ocupa todo o extremo Sul do continente africano. O país tem uma população de quase 60 milhões de habitantes, população essa que normalmente sofre por causa dos recursos hídricos limitados do país.
Grande parte do território sul-africano é ocupada por áreas desérticas como o Kalahari, onde as temperaturas podem chegar aos 50° C, e por planaltos secos como o Karoo, além de áreas de savanas, bioma muito parecido com o nosso Cerrado. Somente na faixa Leste do país, ao longo da divisa com Moçambique, onde predomina o clima subtropical com chuvas mais regulares, é que uma vegetação mais densa sobrevive. É nessa região onde se localiza a província de KwaZulu-Natal.
Comparando a grosso modo o território da África do Sul com o Brasil, o país teria a maior de sua superfície coberta pela Caatinga Nordestina e pelo Cerrado, com uma faixa semelhante à Mata Atlântica no Leste ao largo da costa do Oceano Índico.
O clima da África do Sul, aliás, é diretamente influenciado pelo Oceano Índico. Historicamente, o país sempre foi poupado de tempestades mais fortes e de furacões, fenômenos climáticos relativamente comuns em regiões mais ao Leste da África como Moçambique e a Ilha de Madagascar. Entretanto, as intensas mudanças climáticas observadas no Oceano Índico ao longo das últimas décadas estão alterando bastante os padrões de chuva no país.
Toda a região Austral e Leste da África vem sofrendo alterações climáticas ao longo das últimas décadas, que se refletem especialmente em alterações nos padrões das chuvas. Essas mudanças, inclusive, também estão afetando o Sul e Sudeste da Ásia, regiões marcadas pelas chamadas Chuvas da Monção. A África do Sul vem sofrendo com chuvas abaixo da média e secas em várias regiões, especialmente na Província do Cabo Ocidental, onde fica a Cidade do Cabo.
Estudos conduzidos desde 1980 demonstram que o volume de chuvas no Sul e no Leste da África diminuiu em, pelo menos, 15%, ao mesmo tempo que o número de pessoas subalimentadas mais do que duplicou – em algumas regiões, a redução no volume de chuvas pode chegar a 48%. E a origem desta redução das chuvas está ligada ao aumento da temperatura das águas do Oceano Índico, problema que não se limita ao continente africano, mas a todos os países asiáticos localizados ao longo da extensa orla deste oceano.
As medições sistemáticas da temperatura das águas do Oceano Índico começaram em 1880. Nos últimos anos, estas medições têm encontrado aumentos sucessivos nas temperaturas das águas: em 2010, foi observado um aumento de 0,70° C em relação à média histórica; em 2011, a temperatura média caiu um pouco e mostrou um aumento de 0,58° C; em 2012, o aumento foi de 0,62° C e em 2013, o aumento foi de 0,67° C. Nos anos seguintes, foram registrados recordes sucessivos de aumento da temperatura: 0,74° C em 2014, 0,90° C em 2015 e 0,94° C em 2016.
De todos os grandes oceanos do planeta, o Índico é o que, proporcionalmente, mais sofre com as interferências das mudanças climáticas na Antártida. O derretimento de grandes massas de gelo no Polo Sul tem provocado alterações nas correntes marítimas do Oceano Índico que, combinadas com o aumento da temperatura das águas, tem reflexos diretos na formação e no deslocamento das massas de umidade que atingem a África e a Ásia – algumas áreas estão sofrendo com chuvas abaixo da média e outras com volumes muito acima da média histórica.
As perspectivas para o futuro não são nada animadoras – os estudos indicam que essa tendência de redução ou aumento das chuvas persistirá e até se intensificará, uma vez que o aquecimento das águas do Oceano Índico é um fenômeno que está ligado diretamente ao aquecimento global, que tende a aumentar cada vez mais. Essas fortes chuvas que estão castigando o Leste da África do Sul, muito provavelmente, estão associadas ao aquecimento das águas do Oceano Índico.
Essas mudanças climáticas regionais estão forçando os países a investir cada vez mais em sistemas alternativos de produção de água como a transposição de outras bacias hidrográficas, em sistemas de dessalinização da água do mar e também em sistemas de água de reuso – depender exclusivamente das chuvas será uma aposta cada vez mais arriscada. Também serão necessários pesados investimentos em infraestrutura para proteger cidades com Durban de enchentes e deslizamentos de encostas.
Para minimizar os problemas que estão sendo criados pela escassez cada vez maior de chuvas, a África do Sul vem investindo pesadamente na construção de sistemas para a dessalinização da água do mar. Um desses projetos fica na região de Strandfontein, nas proximidades da Cidade do Cabo. Estão sendo construídas três usinas de dessalinização com capacidade para a produção de mais de 20 milhões de litros de água potável a cada dia. Parte do sistema já se encontra em operação.
Um outro projeto piloto bem interessante de uma usina de dessalinização está em andamento em Witsand, uma cidade costeira a cerca de 250 km da Cidade do Cabo. O projeto está sendo implantado por uma empresa francesa e vai utilizar a técnica de osmose reversa. A planta terá capacidade para desaminizar um volume diário de 100 mil litros de água, o suficiente para atender metade das necessidades da pequena cidade. O diferencial dessa usina será o uso da energia de uma usina solar nas redondezas, com uma potência instalada de 70 kW.
As mudanças climáticas estão aí, batendo em nossas portas todos os dias, e não há jeito de fugir delas. Precisamos todos nos adaptar o mais rápido possível
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