
O nosso planeta, a Terra, é uma gigantesca “máquina” movida a energia solar. Uma forma simples de enxergarmos isso é observando o ciclo da água. O calor do sol provoca a evaporação da água dos oceanos, produzindo a água doce e potável que sustenta todas as formas de vida do planeta.
Para que todos tenham uma ideia da ordem de grandeza desse fenômeno – essa gigantesca massa de vapores de água tem um volume total calculado em 383.000 km³ a cada ano. Esse vapor é espalhado pelos ventos por toda a superfície do planeta e uma parte considerável, cerca de 30%, é precipitada sobre os solos dos continentes e ilhas na forma de chuva, neve e granizo. Todas as reservas de água potável do mundo surgem daí.
As gotas de chuva ou os flocos de neve que eventualmente estejam caindo sobre a sua casa no exato momento em você está lendo esta postagem surgiram por conta do calor do sol em algum ponto da superfície da Terra a milhares de quilômetros de sua casa. Esse magnífico mecanismo funciona dessa mesma maneira há milhões de anos ininterruptamente.
Desde os tempos antigos, quando começaram a surgir as grandes forjas para a produção de metais, esse mecanismo de dispersão de grandes massas de vapor ao redor do planeta começou a ser contaminado com poluentes. Um exemplo disso são as grandes manchas de fuligem que foram encontradas por glaciologistas em seus estudos nas geleiras do Ártico. Segundo as avaliações, essa fuligem tem mais de 2 mil anos e veio de grandes forjas do antigo Império Romano.
Após o início da Revolução Industrial em meados do século XVIII, o lançamento de poluentes na atmosfera não parou mais de crescer e sua dispersão foi crescendo cada vez mais. Estudos recentes indicam que alguns tipos de poluentes químicos como o polifluoralquil e perfluoralquil estão presentes, literalmente, em todos os lugares do nosso planeta.
Essas substâncias sintéticas são conhecidas pela sigla PFAS, em inglês, e são usadas na fabricação de produtos inocentes como panelas com revestimento antiaderente, roupas impermeáveis, embalagens de produtos, tintas, papéis e também em espumas usadas no combate a incêndios.
Os especialistas apelidam essas substâncias de “produtos químicos eternos” por causa de sua persistência no meio ambiente. No total existem cerca de 4.500 compostos desse tipo que são formados a partir do flúor e que estão presentes em quase todas as residências do planeta.
A contaminação do ar com esses compostos começa nas indústrias que utilizam essas substâncias nas suas linhas de produção. Em muitos casos os produtos são aplicados na forma de spray como tintas e/ou impermeabilizantes, o que deixa um grande número de resíduo em suspensão no ar. Os compostos também podem ser lançados na atmosfera durante a queima de resíduos de produtos descartados.
Outra forma de contaminação se dá através da água – resíduos de produtos que utilizam esses compostos podem estar sendo carreados por rios e córregos até chegar aos oceanos – o vapor gerado pelo calor do sol pode estar carregando pequenas partículas desses compostos químicos para as nuvens, seguindo assim para os mais diferentes cantos do mundo.
Uma vez suspensas na atmosfera, as partículas desses compostos são levadas a grandes distâncias pelas correntes de ventos e acabam sendo precipitadas de volta a superfície junto com as gotas das chuvas ou com os flocos de neve. Amostras de PFAS vem sendo encontradas nos confins mais remotos do planeta como a Antártida.
Os diferentes tipos de precipitações, conforme já tratamos em postagens aqui do blog, formam as diferentes fontes de água doce do planeta e é aqui que mora o perigo – toda essa água já vem contaminada com esses compostos químicos. Ainda não existem estudos conclusivos, mas os cientistas acreditam que essas substâncias podem representar grandes riscos à saúde humana.
Diferentemente de outras substâncias consideradas perigosas – cito como exemplo o arsênico, não existem legislações nos países que estabeleçam os limites máximos para a presença de PFAS na água tratada que é servida para as populações. Medições feitas em diferentes países mostram que a quantidade dessas substâncias na água está aumentando. Outros estudos também mostram que a contaminação dos solos com esses compostos também está crescendo.
Muitos especialistas e cientistas de diferentes institutos de pesquisas por todo o mundo recomendam que se criem mecanismos para limitar a produção e o uso desses compostos químicos até que se concluam os estudos sobre os riscos que eles representam para a saúde humana. O argumento usado é simples – já não existe praticamente nenhum lugar em todo o planeta que esteja livre de resíduos dos PFAS.
Um exemplo a ser seguido é o do CFC – Clorofluorcarbono, um composto químico que foi usado por várias décadas como gás refrigerante para geladeiras e sistemas de ar condicionado, além de propelente em aerossóis de produtos de beleza, desodorantes e perfumes. Os cientistas descobriram que o CFC estava destruindo a camada de ozônio do planeta e seu uso foi proibido. Rapidamente as indústrias descobriram outros compostos químicos que produziam o mesmo efeito sem causar danos ao meio ambiente.
É de se imaginar que esforços semelhantes possam ser feitos pelas indústrias para se encontrar alternativas ao PFAS que sejam inertes ao meio ambiente. Por via das dúvidas, é bom que todos fiquem de olho nas pesquisas sobre os possíveis problemas causados por essas substâncias – podemos estar sendo envenenados dia após dia por esses compostos em cada copo de água que bebemos.