ANTÁRTIDA: A ÚLTIMA FRONTEIRA PARA A EXPLORAÇÃO DO PETRÓLEO? 

A Antártida ocupa uma área total com cerca de 14 milhões de km² e é considerado o continente mais gelado do nosso planeta. Pode até não parecer, mas, há cerca de 65 milhões de anos a Antártida, a Austrália e a Nova Guiné formavam um único bloco de terras e possuía um clima entre o tropical e o subtropical. Também existiu por muito tempo uma ponte de terra que fazia a ligação com a América do Sul. 

Só para relembrar, a América do Sul, a Antártida, a África, a Ilha de Madagascar, a Índia, a Austrália, a Nova Zelândia e Papua Nova Guiné, entre outras ilhas menores, formavam um único supercontinente – Gondwana. Há cerca de 160 milhões de anos Gondwana começou a se fragmentar e os seus “pedaços” começaram a ser espalhados pelos quatro cantos do mundo por conta de forças tectônicas (pesquise Tectônica Global). 

Essa extensa região formada pela Antártida e a Austrália era coberta por densas florestas, com muitos lagos e rios, abrigando uma diversificada flora e fauna, especialmente de marsupiais. Essa situação começou a mudar há cerca de 40 milhões de anos quando a área correspondente a Antártida se separou do resto do bloco e passou a conviver com o gelo. 

Por volta de 23 milhões de anos atrás surgiu a Passagem de Drake, um trecho de oceano que separa a América do Sul da Antártida. Essa mudança levou ao aparecimento da Corrente Circumpolar Antártica, que passou a bloquear as correntes de água quente que vinham das áreas tropicais e levou o continente a ficar com 98% de sua superfície coberta por um grosso manto de gelo. 

Como resultado dessa longa e tumultuada história geológica e biológica, a Antártida possui enormes reservas de petróleo em seu subsolo. Para ser mais preciso, especialistas estimam a existência de um volume de 200 bilhões de barris de petróleo “perdidos” por lá. Muita gente gostaria de explorar todo esse óleo.  

Para a felicidade geral de todos essa exploração de petróleo no bioma Antártico, juntamente com a mineração, foi proibida pelo Tratado da Antártida, um acordo internacional assinado em 1959 pelos países que reclamavam a posse de partes continentais da região. Pelo acordo, o território só pode ser usado para pesquisas científicas. 

Conforme já tratamos em outras postagens, a exploração do petróleo é uma atividade altamente complexa e que envolve enormes riscos ao meio ambiente. Um exemplo desse tipo de risco que é sempre lembrado é o acidente com o navio petroleiro Exxon Valdez no Alasca em 1989

O Alasca é o maior Estado norte-americano e tem a maior parte do seu território dentro do Círculo Polar Ártico, uma região com características muito similares a Antártida. Apesar da grande pressão internacional, o norte-americanos vem mantendo a exploração de petróleo em áreas não protegidas no Alasca há várias décadas. 

A polêmica começou no final da década de 1960, quando foi descoberta a maior reserva de petróleo dos Estados Unidos no Extremo Norte do Alasca. Desde então, as grandes companhias petrolíferas dos Estados Unidos começaram a encontrar brechas na legislação a fim de explorar todo esse óleo. Até o momento, áreas protegidas e parques nacionais tem conseguido ficar livre dessa exploração 

Um dos principais terminais para o escoamento da produção petrolífera do Alasca era o Porto de Valdez, localizado no Sul do Estado. Foi dali que partiu o petroleiro Exxon Valdez no dia 24 de março de 1989. Após ser carregado com mais de 400 mil toneladas de petróleo, O Exxon Valdez saiu do Porto e se dirigiu para as águas abertas do Oceano Pacífico através do complicado Golfo do Alasca. 

Passavam poucos minutos da meia noite quando a embarcação atingiu um bloco de recifes submersos, o que rasgou o casco simples do petroleiro (os atuais navios petroleiros são construídos com um casco “duplo”) e teve início um grande vazamento de óleo nas águas oceânicas. Ao longo das oito semanas seguintes ao acidente, uma grande mancha de óleo foi espalhada pelas fortes correntes oceânicas através de mais de 750 km, afetando aproximadamente 2 mil km da costa irregular do Sul do Alasca. Algumas das praias atingidas ficaram cobertas com uma grossa camada de piche com até 90 cm de espessura.     

A empresa Exxon, uma das maiores companhias petrolíferas do mundo e dona da embarcação, foi obrigada a mobilizar um verdadeiro exército para a contenção do vazamento e limpeza ambiental. Foram 11 mil homens, 1.400 embarcações, 85 aviões e milhares de máquinas e equipamentos para uso na sucção do óleo e lavagem de rochas. Os trabalhos se estenderiam até 1992, com um custo total na casa de US$ 2 bilhões.  

Entre as mais tristes lembranças desse acidente ficaram as imagens de animais cobertos de óleo sendo resgatados pelas equipes de limpeza. Esses animais eram lavados com solventes para a remoção do óleo e eram encaminhados para centros de tratamento intensivo e recuperação, coordenados por médicos veterinários e biólogos.  

Apesar de todos os cuidados médicos, os índices de mortalidade eram altíssimos.  De acordo com estimativas oficiais, a tragédia provocou a morte de mais de 260 mil aves marinhas, 2.800 lontras-marinhas, 250 águias e 22 orcas, além de dezenas de milhares de peixes, crustáceos e moluscos marinhos. 

Esse único exemplo mostra o tamanho dos riscos envolvidos numa eventual liberação da exploração de petróleo na Antártida. E os problemas não param por aí – o continente também é rico em reservas minerais além de carvão. 

Talvez algum dos leitores esteja se perguntando qual seria um país que se arriscaria numa eventual aventura de iniciar a mineração e a exploração de petróleo em uma terra tão inóspita. Eu posso dar a minha opinião sobre um provável candidato – a Argentina. 

O país reivindica ainda hoje uma grande área do continente Antártico, uma demanda que foi apenas “congelada” após a assinatura do Tratado da Antártida. Se qualquer um consultar um mapa da Argentina vai constatar que uma extensa área triangular do continente gelado aparece com a indicação de Antártida Argentina. 

Dificuldades técnicas para fazer esse tipo de exploração sob condições climáticas tão extremas poderiam ser resolvidas em poucos anos com pesados investimentos em novas tecnologias e materiais. Também já existem navios construídos especialmente para navegar nas águas geladas da região. Portanto, bastaria apenas uma brecha no Tratado para essa exploração ser iniciada. 

Em tempos de grandes preocupações com o aquecimento global e com a destruição de florestas tropicais, é importante que se lembre da preservação do inigualável continente Antártico. 

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OS GRAVES ACIDENTES COM PLATAFORMAS DE EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO NO MAR

Quando falamos de exploração do petróleo costumamos lembrar, quase que imediatamente, de imagens de enormes torres de perfuração e equipamentos de bombeamento do óleo em áreas desérticas de países do Oriente Médio e do Norte da África, regiões que foram as pioneiras nesse tipo de exploração. 

Ao longo de todo o século XX, a exploração de petróleo e do gás natural avançou por diferentes regiões do planeta. Atualmente, o petróleo e o gás são explorados na tundra ártica do Alasca, nas estepes intermináveis da Rússia, no meio de florestas como a Amazônica e também em plataformas marítimas como as do Mar do Norte, Golfo do México ou ainda no Pré-Sal do litoral do Brasil. 

Assim como acontece com alguma frequência em áreas de exploração em terra, grandes acidentes com derramamentos de óleo também costumam ocorrer nas plataformas marítimas. Pelas características muito peculiares desse tipo de instalação, esses acidentes costumam fazer muitas vítimas, além de provocar grandes vazamentos de óleo no mar. 

Aqui no Brasil, onde a maior parte da produção de petróleo é offshore, ou seja, é feita em plataformas marítimas, já tivemos alguns acidentes bastante graves. Só para esclarecer, 93,75% da produção brasileira de petróleo vem de plataformas marítimas, sendo 72,25% da camada pré-sal e 21,5% da camada pós-sal. 

O acidente mais grave em termos de perdas de vidas humanas em uma plataforma de exploração de petróleo no mar aqui no Brasil ocorreu em agosto de 1984, quando morreram 37 trabalhadores da plataforma Anchova da Petrobras, que operava na Bacia de Campos, litoral do Estado do Rio de Janeiro. 

No dia do acidente cerca de 50 trabalhadores estavam de plantão na plataforma quando ouve uma explosão seguida de um incêndio. Seguindo os procedimentos de evacuação de emergência, esses trabalhadores se dirigiram rapidamente para as baleeiras, um tipo de embarcação usada nessas operações. 

Devido a uma falha no sistema de liberação dos cabos, uma das baleeiras despencou de uma altura de 18 metros, se chocando com muita velocidade contra a água. O saldo dessa queda foram 37 trabalhadores mortos e 23 feridos, sendo que esse é considerado até hoje o maior acidente de trabalho da Petrobrás. O incêndio na plataforma levou 16 horas para ser debelado. 

Outro acidente do tipo aconteceu em julho de 2001, levando ao naufrágio da plataforma P-36 que também operava na Bacia de Campos. Aconteceram duas explosões, uma num tanque de óleo e outra num tanque de gás, num momento em que 175 trabalhadores estavam a bordo.  

A plataforma sofreu danos graves e adernou cerca de 16 graus devido ao alagamento de parte de suas estruturas (vide foto). Equipes de emergência trabalharam durante 5 dias tentando salvar a plataforma, que acabou não podendo ser salva e naufragou – 11 membros da equipe de emergência acabaram morrendo. 

Além das irreparáveis perdas de vidas humanas e de um prejuízo de quase US$ 1 bilhão (em valores atualizados), a P-36 levou para o fundo do oceano um reservatório com cerca de 1500 toneladas de petróleo, que acabou vazando para o mar. 

Um acidente muito parecido com o da P-36 levou ao naufrágio a plataforma norueguesa Alexander Kielland em 1980, no Mar do Norte. A origem do problema, entretanto, foi o colapso estrutural de um dos braços de sustentação da plataforma. Outros setores da estrutura acabaram se rompendo, levando a plataforma a adernar cerca de 35 graus. Além dos enormes vazamentos de petróleo que se sucederam, falhas no comando de evacuação resultaram na morte de 123 dos 212 trabalhadores que estavam a bordo. 

Um dos maiores acidentes já registrados em uma plataforma marítima de petróleo ocorreu no Golfo do México em 2010, quando a plataforma Deepwater Horizon da empresa BP British Petroleum explodiu e afundou. A tragédia deixou 22 trabalhadores feridos e 11 mortos. 

Com o naufrágio da plataforma, três dutos de óleo localizados a uma profundidade de 1.525 metros começaram a vazar, lançando cerca de 800 mil litros de petróleo por dia nas águas do Golfo do México. Esse vazamento durou 87 dias e lançou uma mancha de óleo que se espalhou por 1.500 km do litoral Sul dos Estados Unidos.  

A plataforma Deepwater Horizon operava a cerca de 80 km da costa do Estado da Lousiana, a região atingida com maior intensidade pelo vazamento. A mancha contínua de óleo que se formou após o acidente cobriu uma área equivalente a onze vezes o tamanho da cidade do Rio de Janeiro.  

Diferente do vazamento de um navio tanque, que transporta um volume finito de petróleo, o vazamento que se seguiu ao colapso dessa plataforma era contínuo, com o óleo jorrando diretamente dos poços abertos no fundo oceânico.  

A importante região do Delta do rio Mississipi foi uma das áreas mais impactadas por esse grande vazamento de petróleo. Essa região é formada por pântanos com vegetação densa, conhecidos localmente como Bayou, e abriga cerca de 40% dos pântanos e manguezais dos Estados Unidos, número que nos dá uma ideia da sua importância ambiental para a flora e a fauna locais.   

Uma espécie local que foi seriamente ameaçada pelas manchas de óleo foi pelicano-marrom, ave ameaçada de extinção e símbolo do Estado da Louisiana. Essas aves precisam mergulhar para capturar os peixes e crustáceos que formam a sua dieta e acabavam ficando com as penas cobertas de óleo, o que as impede de regular a temperatura corporal, podendo resultar na morte dos animais por hipotermia.   

Como fica bem fácil de notar, esse tipo de acidente costuma ser fatal tanto para os trabalhadores quanto para o meio ambiente. 

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A EXPLORAÇÃO DO PETRÓLEO E AS FLORESTAS

Nas últimas postagens estamos falando dos combustíveis fósseis, especialmente do petróleo e seus derivados, além do carvão mineral. Esses são os combustíveis mais utilizados em todo o mundo e respondem por grande parte das emissões de GEE – Gases de Efeito Estufa. 

Em uma recente pesquisa internacional feita pela Climate Action Against Disinformation ou Ação Contra Desinformação Climática, para distribuição junto aos organizadores da COP27 – Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, descobriu-se que grande parte da população mundial acredita que esses combustíveis fósseis são renováveis, algo que está muito longe da verdade. 

Conforme já comentamos em diversas postagens, os combustíveis fósseis começam a criar problemas para o meio ambiente no momento de sua exploração. Gostaria de fazer alguns comentários sobre esses impactos em áreas de floresta. 

Vou começar falando dos graves e recorrentes vazamentos de petróleo no trecho equatoriano da Floresta Amazônica. De acordo com dados do Ministério do Meio Ambiente do Equador e que foram analisados pela Amazon Frontlines, um grupo internacional que luta na defesa dos direitos dos povos indígenas, ocorreram 1.169 vazamentos de petróleo no país entre 2005 e 2015. Cerca de 81% desses vazamentos ocorreram na Floresta Amazônica, onde foram perdidos cerca de 350 mil barris de petróleo.   

A Floresta Amazônica possui aproximadamente 120 mil km2 de área no Equador, o que corresponde a quase metade do território do país. As agressões ambientais no bioma incluem o “pacote clássico”: desmatamentos de áreas para implantação de campos agrícolas, queimadas, retirada de madeira – destaque aqui para a madeira de balsa, extração mineral e garimpos ilegais, além do plantio e produção de narcóticos como a cocaína, a exemplo do que ocorre em áreas da Amazônia em outros países Andinos.  

O país, entretanto, tem um grande diferencial quando se fala em agressões ambientais ao bioma Amazônico – o Equador é um grande produtor de petróleo. A extração comercial de petróleo na Amazônia equatoriana começou na década de 1960, apresentando um forte crescimento na década de 1970, quando grandes petrolíferas internacionais como a Shell e a Texaco começaram a operar no país. Cerca de 68% da área da Amazônia equatoriana está sob concessão para a exploração petrolífera e se estimam em mais de 4 mil poços de petróleo na região.  

Um exemplo dos muitos acidentes com petróleo na região foi o que ocorreu em abril de 2020, quando uma tubulação do SOTE – Sistema Oleoduto Transequatoriano, foi atingida por um deslizamento de terra e provocou o vazamento de um volume entre 4 mil e 15 mil barris de petróleo (existem divergências nas fontes de informação). 

Esse vazamento ocorreu entre as províncias de Sucumbios Napo, e a mancha de óleo atingiu os rios Cocal Napo. Esse foi considerado o maior vazamento de petróleo no Equador nos últimos 15 anos. Ao menos 2 mil famílias indígenas e outros 120 mil ribeirinhos ficaram sem acesso a fontes de água potável, além de sofrerem com a restrição à pesca, uma das principais fontes de proteína dessas populações.  

O oleoduto SOTE tem cerca de 500 km de extensão e está em operação desde 1972. Esse sistema permite o transporte do óleo cru desde as áreas de produção na Floresta Amazônica até os portos localizados no Oceano Pacífico, atravessando a Cordilheira dos Andes. Essa é uma região com forte atividade sísmica, o que resulta em frequentes acidentes e danos nas tubulações. 

Um outro país onde a exploração do petróleo causa enormes problemas em áreas florestais é a Nigéria, o país mais populoso da África e o segundo maior produtor de petróleo do continente. De acordo com informações da OPEP – Organização dos Países Produtores de Petróleo, o país produz aproximadamente 1,8 milhões de barris de petróleo/dia 

A Nigéria é a maior economia da África e tem uma população com cerca de 190 milhões de habitantes. O país é habitado por mais de 250 grupos étnicos, divididos em dois grandes blocos religiosos – muçulmanos ao Norte e cristãos ao Sul, além de diversas minorias praticantes de religiões tradicionais africanas como jgbo (ou Ibo) e iorubá. Esses diferentes grupos religiosos vivem em um estado de tensão permanente, o que é agravado pela extrema pobreza em que vive a grande maioria dos nigerianos.   

As atividades de exploração, refino e exportação de petróleo respondem atualmente por 40% do PIB – Produto Interno Bruto, da Nigéria e pela geração de cerca de 80% das arrecadações de impostos do Governo local. Pode-se afirmar, sem sombra de dúvidas, que essa grande nação africana é movida, literalmente, a base do petróleo.   

Se, por um lado, a indústria petrolífera é tão importante para o país, ela é, ao mesmo tempo, a principal responsável pela degradação de importantes recursos naturais da Nigéria. Vazamentos de petróleo ocorrem sistematicamente no país há mais de 50 anos, com uma relativa conivência e falta de providencias das autoridades locais.  

De acordo com cálculos de organizações ambientalistas, cerca de 10 milhões de barris de petróleo vazaram de dutos e de unidades de processamento de petróleo do país nas últimas décadas, atingindo e contaminando matas, rios e cursos d’água do território – a importante região do Delta do Rio Niger é uma das áreas mais atingidas.   

Outro problema gravíssimo no país e que responde por parte expressiva dos vazamentos é o roubo de petróleo, uma das atividades criminosas que mais crescem na Nigéria. As autoridades locais calculam que cerca de 10% da produção local de petróleo é roubada por esses grupos, que se valem de desvios (os famosos “gatos”) feitos nas tubulações dos oleodutos.   

Além de gerar enormes riscos para as populações que vivem em áreas próximas dos grandes reservatórios e sistemas de oleodutos, o que já provocou inúmeros vazamentos e incêndios com dezenas de vítimas fatais, esses roubos desencadeiam uma série de problemas ambientais. O petróleo roubado é “refinado” em estruturas improvisadas no meio das matas, sem os mínimos procedimentos de segurança.  

Além dos inevitáveis vazamentos e incêndios, subprodutos mais densos do refino do petróleo como o óleo combustível e piche são descartados no meio ambiente por falta de mercado – os produtos mais interessantes para esses grupos são a gasolina, o óleo diesel e o querosene, que são vendidos clandestinamente por todos os cantos do país. 

Esses são apenas dois exemplos dos males criados pela exploração do petróleo para áreas de florestas – existem inúmeros outros casos por todos os cantos do mundo, problemas que parecem não encontrar eco entre as autoridades desses países. 

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A CAMBALEANTE INDÚSTRIA PETROLÍFERA DA VENEZUELA 

A Venezuela, país que faz fronteira com a Região Norte do Brasil possui as maiores reservas confirmadas de petróleo do mundo. De acordo com algumas estimativas, o país sul-americano concentra cerca de 17,5% de todas as reservas de petróleo conhecidas do mundo. Em números mais precisos falamos de algo na cada dos 308 bilhões de barris, um volume que poderia abastecer todo o consumo mundial por 8,4 anos. 

Entretanto, conforme comentamos na postagem anterior, uma coisa é ter grandes volumes de petróleo acumulados sob os seus pés – outra coisa bastante diferente é ter capacidade para extrair, transportar e ganhar muito dinheiro com esse petróleo. No caso da Venezuela, a produção entrou em colapso há muitos anos. 

De acordo com dados da OPEP – Organização dos Países Produtores e Exportadores de Petróleo, a Venezuela detinha uma produção de 3,18 milhões de barris/dia de petróleo até 1998, ano em que Hugo Chaves assumiu a presidência do país. 

Chaves instituiu na Venezuela um confuso regime de governo chamado de Bolivarianismo, um tipo de socialismo sul-americano bastante piorado. Desde então, a produção de petróleo no país começou a cair progressivamente. Nos últimos dois anos, com ajuda de técnicos e de capital do Irã, o país conseguiu melhorar um pouco os níveis de produção, estando bem longe dos volumes de duas décadas atrás. 

Um dos grandes problemas da produção petrolífera venezuelana foi a “companheirização” da PDVSA, a companhia petrolífera estatal da Venezuela. Diretores e gerentes da companhia passaram a garantir suas nomeações em função de cargos que ocupavam nos partidos políticos que apoiam o Governo ou, simplesmente, por laços de amizade com altas autoridades do país. 

Com essa “estrutura de comando”, a PDVSA passou a sofrer com a perda de eficiência em suas operações, além de vivenciar um forte e progressivo sucateamento de suas instalações, tanto de exploração quanto de refino de petróleo. Cerca de 20 anos após o início do regime Bolivariano, a produção de petróleo da Venezuela caiu para pouco mais de 500 mil barris/dia. 

De acordo com fontes do Governo do país, a produção de petróleo na Venezuela voltou a crescer e está oscilando entre 800 mil e 1 milhão de barris/dia. Para analistas internacionais, entretanto, essa produção deve estar na casa dos 600 mil barris/dia. 

Entre as razões das dificuldades para um crescimento mais acentuado da produção de petróleo no país destacam-se as péssimas condições da maioria dos poços de petróleo na Venezuela. Com a incompetente administração da PDVSA, muitos equipamentos das plataformas no Lago Maracaibo e também nos poços em terra quebraram e os sítios foram abandonados. Motores elétricos, fios e cabos, tubulações e tudo mais que tinha algum valor foi roubado e vendido como sucata pela população empobrecida. 

Outra dificuldade do país é a falta de nafta, um derivado de petróleo que é usado como solvente. As reservas de petróleo da Venezuela são formadas por um óleo extremamente denso e quase “sólido”. A nafta precisa ser injetada nos poços para diluir o petróleo e permitir o bombeamento até a superfície. 

O maior fornecedor de nafta para a Venezuela eram os Estados Unidos, país que também figurava como o maior comprador internacional do produto. Elevado a posição de grande inimigo da Venezuela pelo regime Bolivariano, os Estados Unidos deixaram de fornecer nafta para os venezuelanos e muito pior, criaram uma série de sanções internacionais contra a venda de petróleo pelo país. 

De acordo com analistas internacionais, a Venezuela tem conseguido importar nafta, condensados e óleo bruto leve do Irã “por baixo dos panos”. Esses produtos estão sendo injetados nos poucos poços produtivos que restarem no país e, uma vez misturados ao óleo pesado, tem permitido a extração de maiores volumes de petróleo. 

Todas essas operações de transporte e comercialização de produtos entre o Irã e a Venezuela estão sendo feitas de forma clandestina e fora do controle das grandes potencias internacionais. Navios de transporte, citando um único exemplo, fazem as rotas marítimas com os transponders desligados. Esse equipamento, de uso obrigatório na navegação aérea e marítima, permite o rastreamento e o acompanhamento dos veículos via satélite pelas autoridades. 

Um exemplo dos problemas criados por essas operações de transporte clandestino de petróleo e seus derivados foram as grandes manchas de óleo que surgiram ao longo de uma extensa faixa do litoral do Nordeste Brasileiro em 2019. Conforme apresentamos em postagens anteriores, essas manchas se espalharam entre o litoral do Maranhão e o Sul da Bahia. 

Testes de laboratório feitos em amostras colhidas em diferentes praias mostraram que a origem desse óleo eram poços da Venezuela (a composição química do petróleo permite a identificação do “DNA” da região onde ele foi extraído). Investigações da Marinha do Brasil identificaram um navio de bandeira gregacomo o responsável pelo transporte desse petróleo. Nenhuma empresa ou autoridade dos países envolvidos sofreu qualquer tipo de condenação até o momento. 

Um dos lados mais dramáticos da crise vivida pela indústria petrolífera da Venezuela pode ser visto no Lago de Maracaibo, um dos antigos grandes centros de produção do país. Esse lago fica na região Noroeste da Venezuela e ocupa uma área de 13,2 mil km² ou o equivalente a metade do território do Estado de Alagoas. 

Tecnicamente falando, o Lago de Maracaibo é uma grande baía interna de água salobra, conectada ao Golfo da Venezuela através de um canal com 55 km de extensão, o Estreito Tablazo. As águas protegidas do Lago de Maracaibo transformaram a região num dos mais importantes biomas da Venezuela.  

Com o colapso da produção petrolífera no país, a maioria das plataformas de perfuração no Lago de Maracaibo foi abandonada. Com a falta de manutenção adequada ou simplesmente por causa do roubo de peças e de equipamentos, muitas dessas plataformas apresentam vazamentos generalizados de óleo em tubulações, oleodutos subaquáticos, bombas e tanques.  

As poucas operações de carregamento que ainda ocorrem na região envolvem antigos navios petroleiros “piratas” e com tripulações com baixo treinamento, o que tem levado a inúmeros derramamentos de óleo nas águas. As antigas águas azuis e calmas do Lago de Maracaibo hoje estão tomadas por manchas de óleo, o que está destruindo a fauna aquática e afetando as populações que dependem da pesca. 

Moral da história – não basta ter grandes reservas de petróleo para se tornar rico como um Qatar, uma Arábia Saudita ou os Emirados Árabes Unidos. É preciso ter competência para explorar adequadamente os recursos e ganhar muito dinheiro com ele. 

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OS GRANDES E RICOS PAÍSES PRODUTORES DE PETRÓLEO E A VENEZUELA

O petróleo, conforme comentamos em postagens anteriores, é um dos combustíveis fósseis mais consumidos do mundo, seguido bem de perto pelo carvão mineral. Estimativas afirmam que o mundo consome cerca de 100 milhões de barris de petróleo a cada dia. Considerando-se que cada barril equivale a aproximadamente 159 litros, são 15,9 bilhões de litros de petróleo a cada dia. 

Especialistas afirmam que cerca de 1,4 bilhão de automóveis, veículos comerciais leves e caminhões estão em circulação nos quatro cantos do mundo. Esse total não inclui motocicletas, tratores e máquinas agrícolas, sistemas de geração de energia elétrica, aviões, locomotivas e outros equipamentos com motores de combustão interna. Todas essas “máquinas” são ávidas consumidoras de combustíveis fósseis derivados do petróleo.

Além das suas inúmeras aplicações como combustíveis, o petróleo tem outras importantes aplicações. Um exemplo são as matérias primas utilizadas na fabricação dos mais diferentes tipos de compostos plásticos. Dê uma rápida olhada na sua geladeira e nos armários de sua casa para conferir a enorme quantidade de embalagens plásticas que você tem por aí. 

Se existe mercado para um produto é certo que surgirão inúmeras pessoas, empresas e países interessados em vender esse produto. Falo aqui de produtos prontos como eletrodomésticos, carros, alimentos, roupas, entre muitos outros. Também temos as matérias primas ou commodities como grãos, minérios e combustíveis. 

O maior produtor mundial de petróleo atualmente são os Estados Unidos, país que responde por cerca de 18% da produção mundial. Na segunda posição vem a Arábia Saudita, com uma produção de cerca de 12,5% da produção mundial e a Rússia com uma participação de 12,1%. O Brasil responde por cerca de 3,4% da produção mundial. A lista dos grandes produtores de petróleo também inclui a China, o Canadá, o Iraque, o Kuwait, os Emirados Árabes Unidos, entre muitas outras nações que ganham muito dinheiro com esse produto. 

Em termos de reservas confirmadas de petróleo a Venezuela é o grande destaque. O país conta com algo da ordem de 303,8 bilhões de barris ou 17,5% das reservas mundiais. A Arábia Saudita vem colada na segunda posição, com cerca de 297,5 bilhões de barris ou 17,2% das reservas mundiais. As similaridades, entretanto, param por aí. 

Ser dono de grandes reservas de petróleo é uma coisa – conseguir extrair esse petróleo e ganhar muito dinheiro com isso é outra coisa. Essa é justamente a situação da Venezuela, país que durante várias décadas foi o mais rico da América do Sul e que vive atualmente em uma profunda crise econômica e social. 

A história de sucesso da antiga Venezuela começou no início do século XX, quando foram descobertas as primeiras reservas de petróleo no país. A exploração comercial do petróleo começou em 1922 e a atividade acabou se transformando na espinha dorsal da economia do país. Os estudos geológicos que se seguiram comprovaram que a Venezuela era dona das maiores reservas de petróleo e gás do mundo. Essas reservas se concentram na região do Lago Maracaibo e na bacia hidrográfica do rio Orinoco (ou Orenoco).  

Durante várias décadas, a exploração do petróleo na Venezuela foi feita exclusivamente por empresas estrangeiras, onde os lucros com as vendas do produto eram desproporcionalmente divididos com o Governo do país. Em 1973, uma votação determinou a nacionalização da indústria petrolífera e em 1976 foi criada a PDVSA – Petróleos de Venezuela, estatal que passou a comandar a exploração, refino e as exportações do petróleo e seus derivados.   

PDVSA cresceu rápido e em poucos anos se transformou em uma das maiores empresas petrolíferas do mundo, se tornando cada vez mais independente do Governo. Na década de 1990, a empresa iniciou um processo de abertura do capital e atração de investidores estrangeiros, como forma de aumentar consolidar o seu crescimento e sua posição no mercado mundial.   

Em 1999, com a eleição de Hugo Chávez para a Presidência da República, a PDVSA inverteu sua curva de crescimento e iniciou um forte e gradual processo de declínio. Chávez, que em 1992 comandou um frustrado golpe de estado, implantou o chamado Bolivarianismo na Venezuela, uma espécie de socialismo sul-americano piorado. Entre outras medidas populistas, o Governo passou a limitar os investimentos e a participação de grupos estrangeiros na PDVSA a partir de 2001, além de criar todos os tipos de empecilhos para a atuação de empresas estrangeiras no país.    

Apesar do forte processo de desindustrialização e da necessidade cada vez maior de importação de alimentos e bens de consumo de todos os tipos, os altos preços do petróleo no mercado internacional permitiam a prática de fortes políticas para a redução da pobreza e de intervenção do Estado na economia do país. O Governo da Venezuela “surfou nessa onda” enquanto pode. O barril de petróleo, que no ano de 2008 chegou a valer perto de US$ 160.00, despencou bruscamente para pouco mais de US$ 40.00 em 2009. Sem essas receitas externas do petróleo que irrigavam e nutriam a economia, a Venezuela iniciou sua caminhada rumo ao colapso atual.   

Além da queda nos preços internacionais, a Venezuela já vinha sofrendo uma redução sistemática da produção de petróleo, onde o problema estava na má gestão da PDVSA, que passou a ser comandada por “companheiros” Bolivarianos. No início da década de 2000, a Venezuela apresentava uma produção diária de mais de 3 milhões de barris de petróleo – em 2020, a produção mal superou a marca de 500 mil barris/dia e, atualmente, a produção do país oscila entre 800 mil e 1 milhão de barris/dia segundo informações pouco confiáveis do Governo local   

As unidades de extração e produção de petróleo também vêm diminuindo gradativamente – no início de 2016, o país dispunha de 70 plataformas de exploração de petróleo e, hoje, são pouco mais de 20 unidades. Essa queda brusca da produção e exportação do petróleo e seus derivados está ligada diretamente às sanções econômicas internacionais enfrentadas pela Venezuela.   

Sem os recursos gerados pela venda do petróleo, a economia da Venezuela entrou numa espécie de espiral decrescente. A população do país começou a sofrer com o desemprego e com a falta dos produtos mais essenciais – faltam desde alimentos até papel higiênico nos mercados. Mais de 4 milhões de venezuelanos já fugiram do país em busca das mínimas condições de vida – centenas de milhares desses refugiados vieram para o Brasil. O Regime Bolivariano do país, é claro, passou a jogar a culpa da crise no colo das “grandes nações imperialistas do mundo”, em especial os Estados Unidos.  

Além de afetar a vida de toda a população, essa crise econômica também passou a representar dificuldades para a importação da nafta pela Venezuela, um produto químico essencial para a produção local de petróleo. O petróleo bruto venezuelano é muito denso, apresentando uma consistência quase sólida. Para tornar o produto viscoso e fluído para o bombeamento em tubulações e oleodutos, o petróleo venezuelano precisa receber a adição de diluentes químicos como a nafta. O maior fornecedor de nafta para a Venezuela eram os Estados Unidos, país que também ocupava a posição de maior comprador de petróleo da Venezuela e que acabou alçado à condição de grande inimigo do país pelo regime Bolivariano.   

São os altos e baixos, ou melhor, os ricos e os pobres do mundo do petróleo. 

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