
O trecho colombiano da Floresta Amazônica ocupa uma área total de mais de 480 mil km², o que corresponde a cerca de 42% do território do país vizinho. Considerando que o bioma Amazônico ocupa uma área com aproximadamente 5,5 milhões de km² (existem estimativas que falam de até 7 milhões de km², cifra que inclui áreas de transição entre biomas), a Colômbia abriga cerca de 9% da Floresta Amazônica.
Muito de fala na imprensa internacional das queimadas e da devastação ambiental na Amazônia brasileira, porém, muitos parecem desconhecer o fato que 40% da floresta está inserida dentro do território de países vizinhos. Além da Colômbia, entram na lista Bolívia, Equador, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa. Em cada um desses países, em maior ou menor escala, existem inúmeros problemas ambientais.
Na Colômbia, guardadas as devidas proporções, os problemas ambientais são até mais graves do que os que ocorrem no Brasil. Além da expansão das frentes agrícolas convencionais, da exploração madeireira e da criação de pastagens para o gado, o país vem sofrendo já há várias décadas com o domínio de extensas áreas do seu território por grupos revolucionários armados, como é o caso das FARC – Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (vide foto). Esses grupos associaram seus objetivos revolucionários com o narcotráfico.
A origem dos grupos revolucionários armados da Colômbia remonta ao final da década de 1940, época em que o país entrou num forte ciclo de tensões políticas. Em abril de 1948, o candidato liberal à presidência da república – Jorge Eliécer Gaitán foi assassinado, desencadeando em um período de distúrbios e tensões sociais conhecidos como “La Violencia”. Esses distúrbios se espalharam por todo o país e resultaram num saldo de, pelo menos, 180 mil colombianos mortos até o início da década de 1950.
Ao longo das décadas seguintes, foram surgindo vários grupos armados de oposição política, grupos esses que foram conquistando seus próprios territórios, especialmente dentro da Floresta Amazônica. Pouco a pouco, esses grupos perceberam que o controle da produção e da exportação de cocaína seria uma importante fonte de financiamento para as suas atividades revolucionárias.
Há cerca de cinco anos, sem nos prendermos a muitos detalhes, o Governo central da Colômbia e vários desses grupos armados chegaram a um acordo de paz, onde se imaginava estabelecer um clima de normalidade em todo o país. Infelizmente, não foi exatamente o que aconteceu.
Inúmeros guerrilheiros “desempregados” passaram a organizar seus próprios grupos de narcotráfico e passaram a controlar pequenos territórios por toda a Amazônia colombiana. Esses grupos organizam desmatamentos e nessas áreas implantam cultivos de coca, planta nativa da Cordilheira dos Andes e da qual se extrai a valiosa cocaína.
O Ministério Público da Colômbia afirma que esses grupos se concentram na região Sul do país e, desde 2016, eles vêm praticando um desmatamento bastante acelerado de extensas áreas da Floresta Amazônica. Segundo informações do IDEAM – Instituto de Hidrología, Meteorología y Estudios Ambientales, da Colômbia, os desmatamentos na Amazônia colombiana aumentaram cerca de 76% em apenas dois anos, passando de cerca de 123 mil hectares em 2015 para 219 mil hectares em 2017.
As áreas desmatadas são usadas para a introdução de cultivos de coca, para pecuária extensiva e também para a construção de unidades para o refino e processamento das folhas de coca para obtenção da cocaína. De acordo com informações coletados por jornalistas estrangeiros, muitos latifundiários se valem da associação com os narcotraficantes e estão pagando os camponeses para derrubar trechos da floresta para ampliar suas fazendas.
A coca (Erythroxylum coca) é uma planta arbustiva originária de terrenos elevados da Cordilheira dos Andes na Bolívia e no Peru. As folhas da coca possuem substancias com propriedades analgésicas que aplacam a fome e a fadiga. Os indígenas da região conhecem as propriedades da planta desde a antiguidade e tem o hábito de mascar suas folhas.
Até o início da década de 1990, a Colômbia respondia por menos de 15% da produção mundial de folhas de coca. A partir dos primeiros anos da década de 2000, a produção cresceu muito, com o país chegando a concentrar 80% de toda a produção de cocaína do mundo.
De acordo com estimativas do UNIDOC, Escritório das Nações Unidas contra as Drogas e o Crime, a produção de coca na Colômbia emprega mais de 60 mil famílias no país. A produção de cocaína pura é estimada em mais de 1.200 toneladas/ano.
Os cultivos estão concentrados nos departamentos de Norte de Santander, na região Nordeste; Nariño, Putumayo e Cauca, na região Sudoeste; e Antioquia, no Noroeste. A UNIDOC estima que 48% das áreas de cultivo de coca no país esteja concentrada em áreas protegidas dentro da Floresta Amazônica, especialmente em parques nacionais e reservas indígenas.
De acordo com estimativas da ONU – Organização das Nações Unidas, o narcotráfico internacional movimenta mais de US$ 320 bilhões a cada ano, um valor que corresponde a 1% do PIB – Produto Interno Bruto, mundial. A cocaína é uma das grandes “estrelas”, tendo os Estados Unidos e países da União Europeia como grandes mercados consumidores. Esse comércio ilícito gera ao menos US$ 35 bilhões ao ano apenas no mercado norte-americano.
É o enorme poderio paramilitar e econômico dessa “indústria” que está por trás de grande parte da devastação ambiental da Floresta Amazônica na Colômbia. De acordo com a publicação “Coca: Desmatamento, contaminação e pobreza” da PNC – Policía Nacional de Colômbia, “a produção de drogas destrói no país uma média de 40.531 hectares de florestas por ano, ou seja, cerca de 111 hectares por dia, onde 80 por cento das espécies de árvores analisadas só existem nesse bioma”.
Essa degradação ambiental também se reflete na destruição de habitats, onde são afetadas uma infinidade de espécies animais: são “600 aves, 170 répteis, 100 anfíbios e mais de 600 peixes”. Além da perda de floresta para o plantio da coca, as operações de refino para a obtenção da cocaína usam grandes volumes de produtos químicos, cujos resíduos são despejados nos rios.
Para o refino da cocaína são utilizados acetona, querosene, ácido sulfúrico, cal, carbureto e tolueno. Segundo os especialistas, a produção de cada quilograma da pasta básica de cocaína gera entre 400 e 600 gramas de resíduos químicos.
Continuaremos a falar dos problemas na Amazônia colombiana na próxima postagem.
[…] A DEVASTAÇÃO DA FLORESTA AMAZÔNICA – NA COLÔMBIA […]
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[…] um diferencial importante: grande parte dos desmatamentos e das agressões ambientais ao bioma são comandados por grupos armados ligados aos diferentes movimentos revolucionários do […]
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[…] oito países (Bolívia, Equador, Peru, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guina Francesa), onde também existem enormes agressões ambientais, porém, nunca são lembrados por governos estrangeiros, artistas e […]
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[…] trecho colombiano da Floresta Amazônica ocupa uma área total de mais de 480 mil km², o que corresponde a cerca de 42% do território do […]
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[…] A Floresta Amazônica possui aproximadamente 120 mil km2 de área no Equador, o que corresponde a quase metade do território do país. As agressões ambientais no bioma incluem o “pacote clássico”: desmatamentos de áreas para implantação de campos agrícolas, queimadas, retirada de madeira – destaque aqui para a madeira de balsa, extração mineral e garimpos ilegais, além do plantio e produção de narcóticos como a cocaína, a exemplo do que ocorre em áreas da Amazônia em outros países Andinos. […]
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