Em meio as notícias preocupantes que nos falam das manchas de petróleo que estão atingindo as praias da Região Nordeste, uma notícia semelhante passou desapercebida da maior parte da população: quatro praias do Estado de Tabasco, no México, foram tomadas por manchas de petróleo. O caso dessas misteriosas manchas de petróleo lembra muito o caso das nossas praias nordestinas – ninguém sabe a origem do óleo. A situação mexicana é muito preocupante – o Estado de Tabasco fica ao lado da Península de Yucután, o “paraíso caribenho do turismo”, onde fica a famosa cidade de Cancún. Em 2018, Cancún recebeu 4,2 milhões de visitantes, o que injetou cerca de US$ 21,3 bilhões na economia local, números que dão uma ideia das preocupações do Governo mexicano com essa tragédia ambiental.
As preocupações dos mexicanos são bem fundamentadas – com uma área de aproximadamente 1,6 milhão de km², o Golfo do México possui grandes reservas de petróleo, onde estão instaladas centenas de plataformas de exploração. Somente as empresas americanas produzem cerca de 1,9 milhão de barris de petróleo/dia nas águas da região, o que corresponde a 15% da produção total dos Estados Unidos. Além dos riscos de acidentes nas operações das plataformas de exploração, no carregamento de navios tanques e em vazamentos dos sistemas de oleodutos, que podem resultar em grandes vazamentos de óleo, a região do Golfo do México enfrenta tempestades e furacões cada vez mais fortes a cada ano.
O maior acidente com petróleo no Golfo do México aconteceu em 2010, quando a plataforma Deepwater Horizon da empresa BP – British Petroleum explodiu e afundou. No acidente, 22 trabalhadores ficaram feridos e 11 morreram (vide foto). Com o naufrágio da plataforma, três dutos de óleo localizados a uma profundidade de 1.525 metros começaram a vazar, lançando cerca de 800 mil litros de petróleo por dia nas águas do Golfo do México. Esse vazamento durou 87 dias e lançou uma mancha de óleo que se espalhou por 1.500 km do litoral Sul dos Estados Unidos.
A plataforma Deepwater Horizon operava a cerca de 80 km da costa do Estado da Lousiania, a região atingida com maior intensidade pelo vazamento. A mancha contínua de óleo que se formou após o acidente cobria uma área equivalente a onze vezes o tamanho da cidade do Rio de Janeiro. Diferente do vazamento de um navio tanque, que transporta um volume finito de petróleo, o vazamento que se seguiu ao colapso dessa plataforma era contínuo, com o óleo jorrando diretamente dos poços abertos no fundo oceânico.
A importante região do Delta do rio Mississipi foi uma das áreas mais impactadas por esse grande vazamento de petróleo. Essa região é formada por pântanos com vegetação densa, conhecidos localmente como Bayou, e abriga cerca de 40% dos pântanos e manguezais dos Estados Unidos, número que nos dá uma ideia da sua importância ambiental para a flora e a fauna locais.
Uma espécie local que foi seriamente ameaçada pelas manchas de óleo foi pelicano-marrom, ave ameaçada de extinção e símbolo do Estado da Louisiania. Essas aves precisam mergulhar para capturar os peixes e crustáceos que formam a sua dieta e acabavam ficando com as penas cobertas de óleo, o que as impede de regular a temperatura corporal, podendo resultar na morte dos animais por hipotermia.
Equipes especializadas de resgate passaram a recolher as aves contaminadas, que passavam depois por uma lavagem com doses de solventes para a remoção do óleo e eram encaminhadas para áreas de recuperação. Apesar desses esforços, muitas aves que estavam escondidas em meio a densa vegetação do Bayou acabaram morrendo por falta de socorro.
O Golfo do México também é o refúgio de inúmeras espécies migratórias como baleias e cachalotes, que migram para a região durante o inverno, buscando suas águas quentes para procriar. O Golfo também possui uma grande fauna local com peixes, golfinhos e quatro espécies de tartarugas-marinhas. Todas essas espécies foram afetadas pelos vazamentos de petróleo, embora seja bastante difícil de quantificar as perdas de indivíduos e os impactos da contaminação no longo prazo.
O óleo também afetou profundamente a produção de crustáceos do Delta do Mississipi, principalmente os caranguejos, camarões e lagostins, iguarias famosas da culinária cajun da Louisiania. Criadores de camarão em cativeiro tiveram de suspender as suas atividades, o que causou prejuízos milionários. O Estado da Louisiania é o maior produtor de camarões dos Estados Unidos.
De acordo com estudos coordenados pela Virginia Tech University dos Estados Unidos e publicados em 2017, o vazamento de petróleo da plataforma causou prejuízos aos recursos naturais da região calculados em mais de US$ 17 bilhões. A BP declarou ter gasto cerca de US$ 14 bilhões nos trabalhos de limpeza e mitigação dos efeitos do vazamento. A empresa também foi condenada pela Justiça do Estado da Louisiania em 2016 a pagar uma multa de US$ 20,8 bilhões por danos econômicos e ambientais. De acordo com informações da British Petroleum, os danos globais do acidente representaram perdas de US$ 53 bilhões aos cofres da empresa.
Além dos danos ambientais e econômicos contabilizados na região do Golfo do México, existem danos difusos e incalculáveis que podem ter atingido uma extensa área que vai do Estreito da Flórida até o Mar Báltico e a Islândia, em território da Europa. As águas quentes do Golfo do México formam uma forte corrente marítima, conhecida como Corrente do Golfo (ou Gulf Stream, em inglês), e que segue através do Atlântico Norte na direção da Europa. Grandes quantidades de óleo podem ter sido espalhadas por essa corrente oceânica e podem estar criando problemas ainda não detectados em diversos ecossistemas. Ou seja, os problemas decorrentes desse vazamento podem ser muito maior do que se imagina até agora.
Até então, o maior acidente com vazamento de petróleo em território americano havia sido o naufrágio do navio petroleiro Exxon Valdez em 1989, que trataremos na próxima postagem. Nesse acidente, o navio colidiu com rochas submersas, que resultaram em um grande rasgo no casco da embarcação – um volume entre 257 mil e 759 mil barris de petróleo vazou no mar e contaminou uma extensa área do litoral do Estado do Alasca.
Passados quase dez anos desde o acidente com a plataforma Deepwater Horizon, as consequências ao meio ambiente ainda são sentidas pelas populações. Pescadores locais afirmam que a atual produção pesqueira nas águas do Golfo do México é menor do que em anos anteriores. Ecologistas também afirmam que populações locais de aves, peixes, mamíferos aquáticos e de tartarugas-marinhas, que foram duramente afetadas pela tragédia ambiental, ainda não recuperaram o número total de indivíduos que viviam nos ecossistemas locais de antes do acidente.
Esse acidente no Golfo do México é apenas mais um dos trágicos capítulos da exploração do petróleo em alto mar e dos acidentes que podem acontecer, com todas as suas consequências previsíveis e imprevisíveis.
[…] organismos que precisam receber luz solar para sobreviver. Somado a outros problemas como os resíduos flutuantes de óleo nas águas, essa poluição está destruindo gradativamente parte importante da produção […]
CurtirCurtir
[…] e com o carreamento de resíduos sólidos – veja a postagem sobre a ilha de plásticos, com vazamentos de petróleo, com a destruição de áreas florestais e de mangues, entre muitos outros problemas ambientais. […]
CurtirCurtir
[…] organismos que precisam receber luz solar para sobreviver. Somado a outros problemas como os resíduos flutuantes de óleo nas águas, essa poluição está destruindo gradativamente parte importante da […]
CurtirCurtir
[…] registrados em uma plataforma marítima de petróleo ocorreu no Golfo do México em 2010, quando a plataforma Deepwater Horizon da empresa BP – British Petroleum explodiu e afundou. A tragédia deixou 22 trabalhadores feridos […]
CurtirCurtir
[…] organismos que precisam receber luz solar para sobreviver. Somado a outros problemas como os resíduos flutuantes de óleo nas águas, essa poluição está destruindo gradativamente parte importante da produção de […]
CurtirCurtir