A EXPLORAÇÃO DO PETRÓLEO E AS FLORESTAS

Nas últimas postagens estamos falando dos combustíveis fósseis, especialmente do petróleo e seus derivados, além do carvão mineral. Esses são os combustíveis mais utilizados em todo o mundo e respondem por grande parte das emissões de GEE – Gases de Efeito Estufa. 

Em uma recente pesquisa internacional feita pela Climate Action Against Disinformation ou Ação Contra Desinformação Climática, para distribuição junto aos organizadores da COP27 – Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, descobriu-se que grande parte da população mundial acredita que esses combustíveis fósseis são renováveis, algo que está muito longe da verdade. 

Conforme já comentamos em diversas postagens, os combustíveis fósseis começam a criar problemas para o meio ambiente no momento de sua exploração. Gostaria de fazer alguns comentários sobre esses impactos em áreas de floresta. 

Vou começar falando dos graves e recorrentes vazamentos de petróleo no trecho equatoriano da Floresta Amazônica. De acordo com dados do Ministério do Meio Ambiente do Equador e que foram analisados pela Amazon Frontlines, um grupo internacional que luta na defesa dos direitos dos povos indígenas, ocorreram 1.169 vazamentos de petróleo no país entre 2005 e 2015. Cerca de 81% desses vazamentos ocorreram na Floresta Amazônica, onde foram perdidos cerca de 350 mil barris de petróleo.   

A Floresta Amazônica possui aproximadamente 120 mil km2 de área no Equador, o que corresponde a quase metade do território do país. As agressões ambientais no bioma incluem o “pacote clássico”: desmatamentos de áreas para implantação de campos agrícolas, queimadas, retirada de madeira – destaque aqui para a madeira de balsa, extração mineral e garimpos ilegais, além do plantio e produção de narcóticos como a cocaína, a exemplo do que ocorre em áreas da Amazônia em outros países Andinos.  

O país, entretanto, tem um grande diferencial quando se fala em agressões ambientais ao bioma Amazônico – o Equador é um grande produtor de petróleo. A extração comercial de petróleo na Amazônia equatoriana começou na década de 1960, apresentando um forte crescimento na década de 1970, quando grandes petrolíferas internacionais como a Shell e a Texaco começaram a operar no país. Cerca de 68% da área da Amazônia equatoriana está sob concessão para a exploração petrolífera e se estimam em mais de 4 mil poços de petróleo na região.  

Um exemplo dos muitos acidentes com petróleo na região foi o que ocorreu em abril de 2020, quando uma tubulação do SOTE – Sistema Oleoduto Transequatoriano, foi atingida por um deslizamento de terra e provocou o vazamento de um volume entre 4 mil e 15 mil barris de petróleo (existem divergências nas fontes de informação). 

Esse vazamento ocorreu entre as províncias de Sucumbios Napo, e a mancha de óleo atingiu os rios Cocal Napo. Esse foi considerado o maior vazamento de petróleo no Equador nos últimos 15 anos. Ao menos 2 mil famílias indígenas e outros 120 mil ribeirinhos ficaram sem acesso a fontes de água potável, além de sofrerem com a restrição à pesca, uma das principais fontes de proteína dessas populações.  

O oleoduto SOTE tem cerca de 500 km de extensão e está em operação desde 1972. Esse sistema permite o transporte do óleo cru desde as áreas de produção na Floresta Amazônica até os portos localizados no Oceano Pacífico, atravessando a Cordilheira dos Andes. Essa é uma região com forte atividade sísmica, o que resulta em frequentes acidentes e danos nas tubulações. 

Um outro país onde a exploração do petróleo causa enormes problemas em áreas florestais é a Nigéria, o país mais populoso da África e o segundo maior produtor de petróleo do continente. De acordo com informações da OPEP – Organização dos Países Produtores de Petróleo, o país produz aproximadamente 1,8 milhões de barris de petróleo/dia 

A Nigéria é a maior economia da África e tem uma população com cerca de 190 milhões de habitantes. O país é habitado por mais de 250 grupos étnicos, divididos em dois grandes blocos religiosos – muçulmanos ao Norte e cristãos ao Sul, além de diversas minorias praticantes de religiões tradicionais africanas como jgbo (ou Ibo) e iorubá. Esses diferentes grupos religiosos vivem em um estado de tensão permanente, o que é agravado pela extrema pobreza em que vive a grande maioria dos nigerianos.   

As atividades de exploração, refino e exportação de petróleo respondem atualmente por 40% do PIB – Produto Interno Bruto, da Nigéria e pela geração de cerca de 80% das arrecadações de impostos do Governo local. Pode-se afirmar, sem sombra de dúvidas, que essa grande nação africana é movida, literalmente, a base do petróleo.   

Se, por um lado, a indústria petrolífera é tão importante para o país, ela é, ao mesmo tempo, a principal responsável pela degradação de importantes recursos naturais da Nigéria. Vazamentos de petróleo ocorrem sistematicamente no país há mais de 50 anos, com uma relativa conivência e falta de providencias das autoridades locais.  

De acordo com cálculos de organizações ambientalistas, cerca de 10 milhões de barris de petróleo vazaram de dutos e de unidades de processamento de petróleo do país nas últimas décadas, atingindo e contaminando matas, rios e cursos d’água do território – a importante região do Delta do Rio Niger é uma das áreas mais atingidas.   

Outro problema gravíssimo no país e que responde por parte expressiva dos vazamentos é o roubo de petróleo, uma das atividades criminosas que mais crescem na Nigéria. As autoridades locais calculam que cerca de 10% da produção local de petróleo é roubada por esses grupos, que se valem de desvios (os famosos “gatos”) feitos nas tubulações dos oleodutos.   

Além de gerar enormes riscos para as populações que vivem em áreas próximas dos grandes reservatórios e sistemas de oleodutos, o que já provocou inúmeros vazamentos e incêndios com dezenas de vítimas fatais, esses roubos desencadeiam uma série de problemas ambientais. O petróleo roubado é “refinado” em estruturas improvisadas no meio das matas, sem os mínimos procedimentos de segurança.  

Além dos inevitáveis vazamentos e incêndios, subprodutos mais densos do refino do petróleo como o óleo combustível e piche são descartados no meio ambiente por falta de mercado – os produtos mais interessantes para esses grupos são a gasolina, o óleo diesel e o querosene, que são vendidos clandestinamente por todos os cantos do país. 

Esses são apenas dois exemplos dos males criados pela exploração do petróleo para áreas de florestas – existem inúmeros outros casos por todos os cantos do mundo, problemas que parecem não encontrar eco entre as autoridades desses países. 

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