OS PREJUÍZOS PROVOCADOS PELA DEGRADAÇÃO AMBIENTAL E PELAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS NA ÍNDIA

FILE PHOTO: A man pedals his cycle rickshaw during monsoon rains in New Delhi

Ao longo das últimas postagens, apresentamos alguns dos graves problemas ambientais da Índia. Essa grande nação asiática vem apresentando um dos maiores índices de crescimento econômico do mundo, porém, grande parte desse crescimento se dá a partir da degradação ambiental. E como não existe “almoço grátis” (There is no free lunch), uma frase de origem popular que foi adotada pelos economistas e que expressa a ideia de que é impossível conseguir algo sem dar nada em troca, toda essa degradação ambiental tem um custo econômico. 

Segundo um estudo feito pelo Banco Mundial há alguns anos atrás, a poluição e as agressões ambientais custam anualmente cerca de US$ 80 bilhões ou cerca de 6% do PIB – Produto Interno Bruto, da Índia. A degradação e poluição das fontes de água e a poluição do ar das grandes cidades do país foram os grandes destaques desse estudo. Nas palavras de um dos economistas do Banco Mundial durante a apresentação desse relatório: “Cerca de 23% da mortalidade infantil e 2,5% de todas as mortes de adultos no país podem ser atribuídos à degradação ambiental”. 

Os efeitos das mudanças climáticas regionais que já estão acontecendo no país poderão tornar essa conta ainda muito mais salgada. Vamos entender isso:

Relembrando o que apresentamos em postagens anteriores, Nova Déli, a capital do país, é a cidade com a maior poluição do ar em todo o mundo. Muito pior – 14 das 15 cidades com o ar mais poluído do mundo estão na Índia. De acordo com estudos realizados pela Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, um indiano médio que vive nessas cidades terá uma expectativa de vida 10,2 anos menor do que uma pessoa que vive em ambientes com uma atmosfera mais saudável. Isso sem falar nos problemas de abastecimento de água e despejo de esgotos, da degradação das florestas, da má gestão dos resíduos sólidos, da mineração e uso do carvão mineral entre outros problemas ambientais graves. 

Além desse grande conjunto de problemas, a Índia está começando a sofrer com maior intensidade os problemas criados pelo aumento das temperaturas no planeta. O Oceano Índico, conforme já apresentamos em postagens anteriores, é o que tem se mostrado mais susceptível às mudanças do clima mundial. O derretimento de grandes massas de gelo no Continente Antártico tem alterado suas correntes marinhas e tem se observado um gradual aumento na temperatura das águas do Oceano Índico. Essas mudanças estão provocando alterações nos ciclos de chuvas na África, com algumas regiões apresentando fortes secas e outras têm chuvas em excesso

No Golfo de Bengala se observa um gradual aumento do nível do oceano – as águas salgadas avançam cada vez mais continente a dentro, aumentando a salinização em alguns rios e nas águas do lençol freático em Bangladesh. A extensa região alagável do Delta do Rio Ganges, conhecida localmente como Sundarbans, está cada vez mais ameaçada. Essa região possui a maior concentração de manguezais arbóreos do mundo, com uma área superior a 10 mil km² entre a Índia e Bangladesh. Calcutá, uma das maiores cidades da Índia, está encravada no Oeste dessa região e já sofre com as mudanças climáticas locais

Calcutá, ou Kolkota na língua bengali, tem cerca de 14 milhões de habitantes em sua Região Metropolitana, ocupando a terceira posição entre as áreas urbanas com maior população da Índia, atrás de Nova Déli e de Mumbai. Calcutá foi fundada em 1690 e, durante muito tempo, foi a cidade mais importante da Índia, tendo sido inclusive a capital da Índia Britânica entre 1833 e 1912. A posição estratégica da cidade, localizada em um dos braços principais do Delta do Rio Ganges, oferecia uma fácil ligação entre as águas do Oceano Índico e as terras ao longo do Ganges, o rio mais importante e sagrado da Índia. 

As terras do Delta do rio Ganges sempre foram classificadas entre as mais férteis do mundo e, durante séculos, formaram um dos celeiros da antiga Índia (atualmente, a maior parte dessas terras estão em Bangladesh). Durante o período das Chuvas da Monção, grandes volumes de sedimentos são carreados desde as terras altas da bacia hidrográfica do Ganges, fertilizando naturalmente os solos e garantindo abundantes colheitas. De alguns anos para cá, infelizmente, mudanças climáticas regionais têm provocado um avanço cada vez maior de águas do mar através dos inúmeros canais do Delta (o que é chamado de língua salina), o que está salinizando águas e solos, e vem prejudicado sistematicamente as colheitas. 

A elevação do nível do Oceano Índico também tem provocado um aumento na intensidade das enchentes e das tempestades que atingem toda essa região, causando a perda de muitas casas e vidas. Os desalojados do lado indiano dos Sundarbans, sem contar com melhores condições para recomeçar suas vidas, migram em massa para a Região Metropolitana de Calcutá.  

Antigas áreas de várzea e terrenos baixos nas margens dos rios acabaram sendo transformadas em grandes favelas, com milhares de casas improvisadas sendo construídas sobre palafitas, que são estacas de madeira encravadas nos terrenos pantanosos. Cerca de um terço da população de Calcutá vive nessas favelas. 

A cidade de Calcutá tem uma altitude média entre 1,5 e 9 metros acima do nível do mar e, em razão disso, sempre foi assolada por enchentes durante as Chuvas da Monção. Durante esses períodos, as ruas, avenidas e terrenos mais próximos dos rios e canais apresentavam uma pequena lâmina de água, algo que não representava grandes problemas. Com a recente elevação do nível do mar, a cidade passou a conviver com enchentes severas e generalizadas na época das chuvas. Os moradores das regiões das favelas são os que mais sofrem com essas enchentes. 

Outro gravíssimo problema para as populações da Região Metropolitana de Calcutá são as águas fortemente poluídas do rio Ganges. Além de comprometer o abastecimento da população, essas águas também carregam quantidades fabulosas de lixo, lodo e entulhos, que cobrem o fundo dos canais, lagos e áreas de várzea com uma grossa camada de sujeira, deixando cada vez menos espaço para acomodar os excedentes de água do período das chuvas. Sem espaços para acomodar a água, a cidade se vê invadida por enchentes cada vez mais catastróficas. 

E os problemas não param – de acordo com estudos da Universidade de Calcutá em Hazra, entre 1955 e 2015, a cidade apresentou o triplo de dias com tempestades torrenciais (com chuvas acima de 100 mm) quando comparado à primeira metade do século XX. Isso significa que, além de uma grave piora na capacidade de drenagem das águas por causa do assoreamento de rios e canais e aumento do nível do Oceano Índico, a região de Calcutá também está sofrendo com o aumento da incidência de fortes chuvas. 

De acordo com projeções da OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, a se manterem as emissões dos gases causadores do efeito estufa e das mudanças climáticas globais, até 2070, Calcutá poderá ser uma das cidades com populações mais expostas às inundações costeiras do mundo. Muita gente poderá ser forçada a se mudar para outras regiões com terrenos mais altos ou distantes da costa – imaginem os custos sociais e financeiros dessa mudança.

Quem viver, verá! 

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