Em uma publicação recente, relembramos a tragédia que destruiu, literalmente, o Mar de Aral na Ásia Central. A construção de gigantescos canais de irrigação e a retirada de quantidades cada vez maiores de água para irrigação de plantações, especialmente de algodão, transformou completamente os solos desérticos das antigas Repúblicas Socialistas da Ásia Central. Com volumes de água cada vez menores chegando ao Mar de Aral e com as perdas de água por evaporação, o espelho d’água foi drasticamente reduzido e restou muita pouca coisa daquele que já foi um dos maiores lagos do mundo.
Com o desmantelamento da União Soviética no final da década de 1980, o antigo sistema de planejamento central que colocava alguma ordem entre os países da região da Ásia Central ruiu e teve início uma fase de “salve suas cotas de água quem puder”. Começou assim uma ferrenha luta entre o Cazaquistão, Uzbequistão, Turcomenistão, Tadjiquistão e Quirguistão pelo Amu Daria e Syr Daria, os grandes e únicos rios da região, que passaram a ter suas águas disputadas litro a litro por esses países.
A razão da tensão entre os países é muito simples: as áreas beneficiadas com os gigantescos projetos de irrigação criados durante o regime soviético trouxeram uma prosperidade econômica sem precedentes para países de clima desértico e semidesértico e com solos de baixa fertilidade. A produção agrícola em áreas irrigadas é, ao lado da mineração e da exploração de petróleo e gás, a atividade econômica mais importante das Repúblicas da Ásia Central e também a maior geradora de empregos – em épocas de colheita, alguns destes países chegam a utilizar a mão de obra de um terço da população, inclusive crianças, adolescentes e mão de obra escrava, o que gera grandes protestos na comunidade internacional. O Uzbequistão é um exemplo: a agricultura irrigada transformou o pequeno país no segundo maior produtor mundial de algodão – a cultura é responsável por 14% das exportações do país. As regiões beneficiadas com a irrigação, concentradas no sul do país, não morrem de amores pela região norte onde fica o trecho do Mar de Aral em território uzbeque.
A partir da expansão do Império Russo em direção à Ásia Central no início do século XIX, Moscou passou a interferir no modo de vida nômade dos povos da região com o objetivo de fixá-los à terra e desenvolver atividades agrícolas em larga escala – data do final deste século as primeiras iniciativas de implantação de sistemas de agricultura irrigada. A dificuldade dos pastores nômades na adaptação à vida sedentária e ao trabalho com a terra estimulou o governo russo a incentivar a migração maciça de agricultores de outras regiões do seu vasto território para a Ásia Central; essa prática se estendeu ao período da União Soviética, quando a região era vista como o futuro “celeiro das Repúblicas Soviéticas” e os povos locais resistiam à política das fazendas coletivas.
A partir do final da década de 1920 foi a iniciada a construção dos grandes e ineficientes canais de irrigação e de drenagem, que despejavam imensas quantidades de água nos solos salinos das estepes, possibilitando o início da produção de trigo, cevada, milho e algodão. Em 1953, o líder da União Soviética, Nikita Khrushchev, criou o ambicioso projeto das “Terras Virgens” com o objetivo de transformar as pastagens da Ásia Central em campos agricultáveis, o que levaria a uma expansão colossal dos canais de irrigação e ao uso quase que total das águas dos rios Amu Daria e Syr Daria (vide foto) e ao colapso do Mar de Aral em meados da década de 1980. Se você acessar softwares como o Google Earth para visualizar a partir do espaço a região da Ásia Central, vai observar as extensas manchas verdes das plantações irrigadas ao largo das linhas retas dos canais – se fosse possível observar a mesma região décadas atrás com essa mesma ferramenta, se veriam apenas as terras áridas de desertos e estepes.
Alijados de sua cultura, modo de vida tradicional e, em muitos casos, até mesmo de suas línguas maternas – o russo foi imposto como língua oficial, os povos das Repúblicas da Ásia Central foram obrigados ao trabalho em fazendas coletivas ao longo dos sistemas de irrigação implantados. Cidades e grandes infraestruturas de rodovias, ferrovias e sistemas de energia e de abastecimento de água foram implantados nessas regiões, numa economia que se tornou dependente da água para a irrigação – não há acordo possível de ser imaginado por esses povos e países que os leve a abrir mão de suas cotas de água em prol da região do Mar de Aral ou de outros povos a jusante dos rios Amu Daria e Syr Daria.
A grande ironia dessa intensa disputa regional pelas águas desses rios para a irrigação das lavouras é que a sobrevivência do Amu Daria e do Syr Daria está ameaçada pelo aquecimento global: esses rios nascem a partir do derretimento de geleiras no alto das Montanhas Himalaias – o aumento da temperatura do planeta ameaça destruir essas geleiras e fazer secar a fonte de água desses rios.
[…] AMU DARIA E SYR DARIA: AS ÁGUAS DA DISCÓRDIA NA ÁSIA CENTRAL […]
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[…] no rio Nilo, no Lago Chade e no Delta do rio Okavango, em diferentes partes da África; nos rios Amu Daria e Syr Daria na Ásia Central; no rio Mekong no Sudeste asiático, entre muitas outras regiões pelo mundo […]
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[…] as nascentes de alguns dos mais importantes rios da Ásia: Mekong, Indus, Bramaputra, Irauádi, Amu Daria e Syr Daria, Yangtzé (Rio Azul), Huang He (Rio Amarelo), além do famoso e importantíssimo rio […]
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[…] poderá comprometer as nascentes de rios importantes como o Indo, Ganges, Bramaputra, Irauádi, Amu Daria e Syr Daria, Yang-Tsé (Rio Azul), Huang-Ho (Rio Amarelo) e o Mekong. Cerca de 2 bilhões de pessoas na Ásia […]
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[…] pessoas que dependem da água de grandes rios como o Ganges, o Indus, o Brahmaputra, o Mekong, o Amu Daria e o Syr Daria, e o Yangtzé, entre muitos outros – todos esses grandes rios tem suas nascentes alimentadas […]
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[…] bacia hidrográfica endorreica (sem saída), que recebia os caudais de dois grandes rios – o Amu Daria e o Syr Daria. Estes caudalosos rios nascem na Cordilheira do Himalaia, distante 2.000 quilômetros do lago. O […]
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[…] UM DOS GRANDES CRIME… em AMU DARIA E SYR DARIA: AS ÁGUA… […]
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[…] e desérticos em campos agrícolas. Esses canais passaram a drenar a maior parte da água dos rios Amu Daria e Syr Daria, os dois formadores do Mar de Aral, que praticamente […]
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[…] depressão entre o Cazaquistão e Uzbequistão. As águas que alimentavam esse lago vinham dos rios Amu Daria e Syr Daria, rios com nascentes nas Montanhas Himalaias. Nas línguas locais, Aral significa “ilhas” […]
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[…] dois principais rios da Ásia Central, o Amu Daria e o Syr Daria, também têm suas nascentes alimentadas por geleiras nas Montanhas Himalaias. As águas desses […]
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[…] A história da Ásia Central passou por uma enorme reviravolta após a Revolução Bolchevique de 1917. Os países da região, que já viviam sob a influência da Rússia desde o século XIX, foram integrados a URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Com a implantação do sistema comunista e com o planejamento central da economia, as planícies da região passaram a ser vistas como potenciais produtoras de alimentos e de algodão para o bloco comunista. Essa produção utilizaria sistemas de agricultura irrigada e as fontes de água seriam os caudalosos rios Amu Daria e Syr Daria. […]
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[…] China temos os rios Yangtzé e o Huang He ou Huang Ho. Não podemos nos esquecer do Amu Daria e do Syr Daria, os mais importantes rios da Ásia Central e principais formadores do Mar de Aral. Todos esses rios […]
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[…] destruição do Mar de Aral está diretamente associada a super exploração das águas dos rios Amu Daria e Syr Daria pelas repúblicas da Ásia Central da antiga URSS – União das Repúblicas Socialistas […]
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[…] mais importantes rios da África Austral – o Okavango, poderá ter um futuro muito parecido com os rios Amu Daria e Syr Daria caso alguns projetos de irrigação sejam levados a cabo pelo Governo de […]
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[…] onde já chegou a ocupar uma área com 68 mil km². Seus principais formadores são os rios Amu Daria e Syr Daria. Durante a época do regime comunista na antiga URSS – União das Repúblicas Socialistas […]
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