
Até o final do mês de abril, quando se encerrará a temporada das chuvas na Região Centro-Sul do país, os reservatórios das usinas hidrelétricas que formam o Subsistema Sudeste/Centro-Oeste deverão atingir a marca de 85,7% de sua capacidade, o maior nível de armazenamento dos últimos 12 anos.
Essa é a expectativa do ONS – Operador Nacional do Sistema Elétrico, já comemorando a melhor temporada de chuvas dessas regiões dos últimos anos. De acordo com o órgão, choveu na hora certa e nos lugares certos, o que garantirá o pleno funcionamento das usinas hidrelétricas e o abastecimento de energia elétrica da população com folga até a chegada da nova temporada de chuvas.
O nível do reservatório da Usina Hidrelétrica de Furnas, citando um exemplo, apresentava 99,2% de sua capacidade no dia 2 de abril. Outro importante reservatório da região, o da Usina Hidrelétrica de Ilha Solteira apresentava no mesmo dia o nível de 90,74%.
Outro caso bastante significativo é o do reservatório de Serra Mesa, no rio Tocantins, que atingiu a marca de 79,47% no dia 2 de abril. Essa é a primeira vez desde a conclusão das obras desse reservatório em 1998, que o seu nível de armazenamento atinge um nível tão alto.
As boas chuvas no Centro-Sul também se refletem em outras regiões, como é o que está acontecendo no rio São Francisco. Os principais rios formadores do Velho Chico ficam em áreas de Cerrado nos Estados de Minas Gerais e Goiás. No baixo curso do rio, o Reservatório de Três Marias está com 94,55%, praticamente o mesmo volume armazenado em Sobradinho, em pleno Semiárido Nordestino.
É importante lembrar que há exatos dois anos atrás o país enfrentou uma grave crise hídrica nessas regiões e os níveis desses mesmos reservatórios estava com menos da metade do volume de armazenamento de hoje. Naquele momento, a grande maioria das centrais termelétricas do país estavam operando a plena carga para evitar a todo custo um racionamento de energia elétrica.
De acordo com informações da CEEE – Câmara de Comercialização de Energia Elétrica, mais de 62% da energia elétrica produzida no Brasil vem de fontes hidráulicas. De acordo com dados de 2020, eram 875 usinas hidrelétricas, CGH – Centrais Geradoras Hidrelétricas e PCH – Pequenas Centrais Hidrelétricas.
A segunda maior fonte geradora de energia elétrica do país são as centrais eólicas, que já respondem por mais de 800 parques em operação, especialmente nas Regiões Nordeste e Sul. Também é importante citar que 12% da geração de energia elétrica no país vem de fontes fotovoltaicas. Essas três fontes respondem por mais de 83% de toda a energia elétrica gerada no Brasil, uma das matrizes mais sustentáveis de todo o mundo.
Esse sistema é complementado por um conjunto de mais de 400 usinas termelétricas, unidades que são acionadas em situações emergenciais. Esse sistema passou a ser implementado depois do famigerado “Apagão” de 2001.
Quem é um pouco mais velho vai se lembrar desse momento de nossa história, quando uma seca descomunal atingiu grande área do país, o que afetou mortalmente o nível dos reservatórios das mais importantes usinas hidrelétricas e afetou fortemente a geração. Sem contar com fontes alternativas para a geração de eletricidade, foi decretado um “draconiano” racionamento de energia elétrica no país, uma medida que causou enormes problemas econômicos e que resultou em mudanças políticas no país.
Além da falta de chuvas, a geração de energia elétrica no Brasil amargava àquela altura mais de uma década de falta de investimentos em geração e distribuição de energia elétrica. Um plano de racionamento de energia elétrica precisou ser elaborado às pressas e impôs uma redução obrigatória de 20% no consumo de energia para quase todas as regiões brasileiras.
A única exceção foi Região Sul, que contava com reservatórios cheios, porém, não existiam linhas de transmissão que permitissem a distribuição dos excedentes de energia gerados para o restante do país.
Para conseguir apoio da população às medidas de racionamento, o Governo Federal estipulou uma série de benefícios para os consumidores que conseguissem cumprir a meta e também se especulou criar punições para quem não conseguisse, o que, felizmente, acabou não sendo implementado. No dia 7 de dezembro de 2001 choveu fortemente em grande parte do país, o que contribuiu para uma sensível alta no nível de vários reservatórios.
Em 19 de fevereiro de 2002 o racionamento de energia elétrica foi suspenso, mas não os estragos políticos e econômicos. De acordo com uma auditoria realizada pelo TCU – Tribunal de Contas da União, em 2009, o “apagão” do Sistema Elétrico Brasileiro causou um prejuízo ao Tesouro de R$ 45,2 bilhões em valores há época. Alguns cálculos indicam que essas perdas foram de R$ 320,00 para cada brasileiro.
Desde aqueles tempos complicados desse racionamento de energia elétrica, notícias sobre as altas e baixas nos níveis dos reservatórios das usinas hidrelétricas passaram a ser relevantes para a maioria dos brasileiros. Esse ano, felizmente, as notícias são ótimas e, pelo menos até o final do ano, ninguém precisará ficar preocupado com o fornecimento de energia elétrica.
Outro motivo para se comemorar é que não existem maiores riscos de vermos as bandeiras tarifárias nas contas de energia elétrica deste ano. Para quem nunca reparou, as concessionárias de energia elétrica incluem nas contas de energia essas bandeiras (vermelha e amarela), que nada mais são que tarifas extras, para forçar a redução do consumo de energia elétrica em períodos de reservatórios de usinas hidrelétricas com baixos níveis.
Em meio a tantas incertezas econômicas nos tempos em que estamos vivendo, quando muito de fala em uma grande recessão econômica mundial, essa é uma notícia que nós brasileiros temos que comemorar muito!
Olá, Fernando! Estou tentando entrar em contato com você para falar de um trabalho sobre jornalismo ambiental. Não consegui encontrar seu e-mail, você pode me enviar uma mensagem no meu e-mail?
fernanda.aa2@puccampinas.edu.br
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