A diarreia é a segunda causa de morte entre crianças com menos de 5 anos em todo o mundo. No Brasil, 80% dos casos são provocados pelo consumo de água contaminada, retirada de poços, cacimbas e riachos. Em 2011 o país registrou 1,6 milhão de ocorrências – dados oficiais indicam que a doença matou mais de 3.000 crianças com menos de 5 anos no Brasil naquele ano – provavelmente, o número real de mortes é bem maior que isso: em regiões rurais, os pais demoram a fazer o registro civil de nascimento das crianças – sem esse documento não é possível emitir as certidões de óbito.
Entre outras causas, a diarreia é provocada por toxinas bacterianas como a do estafilococus, infecções por bactérias como a Salmonella e a Shighella, infecções virais e parasitas intestinais causadores de amebíase e giardíase, transportados para o sistema gastrintestinal por água ou comida contaminada. Os sintomas variam da simples dor estomacal à diarreia persistente ou à presença de fezes pastosas.
Em localidades em que não há rede de abastecimento de água potável, as populações não tem outra opção senão utilizar águas de rios, riachos, açudes, cacimbas e de poços; não são raras as vezes em que essas águas estão contaminadas por fezes de animais e por esgotos domésticos gerados nas casas dos próprios moradores dessa localidade e despejados nas ruas, corpos de água ou em fossas negras que podem contaminar o lençol freático – a ingestão ou uso dessa água com contaminantes é um dos maiores causadores da diarreia. Na falta de uma infraestrutura de saneamento básico, soluções simples podem evitar grande parte das contaminações: ferver a água que será consumida, especialmente pelas crianças, lavar as mãos antes de preparar e consumir alimentos, além de desinfectar a água com bactericidas como o hipoclorito de sódio – governos que não se preocupam com políticas de saneamento básico raramente irão se preocupar com outras ações sanitárias como a educação ambiental e sanitária.
Uma das faces mais tristes dessa estatística mostra que crianças a partir de um ano de idade são as mais vulneráveis aos efeitos devastadores da diarreia. A causa é muito simples: é a partir dessa idade que as crianças começam a engatinhar pelo chão das casas e são expostas aos patógenos que foram trazidos para dentro das casas na sola dos sapatos dos moradores, solas estas impregnadas pelos esgotos que correm a céu aberto nas ruas e calçadas das chamadas “comunidades carentes”. Quem já viu uma criança engatinhando sabe que elas alternam as mãos entre o chão e a boca – havendo patógenos no piso, a contaminação será inevitável.
As crianças pequenas são sempre as maiores vítimas das precárias condições do saneamento básico. As estatísticas das taxas de mortalidade infantil sempre são frias e tentam mostrar racionalmente o tamanho da tragédia. Para ter-se uma dimensão humana do que é esse verdadeiro morticínio de criancinhas, foi selecionado um trecho de Rachel de Queiroz (1910-2003), talvez a maior escritora brasileira de todos os tempos e primeira mulher a entrar para a Academia Brasileira de Letras. O texto foi escrito na década de 1950 para um jornal de Fortaleza e é de uma atualidade impressionante:
“Quando, em um simples número, nos dá conta do índice de mortalidade infantil nas capitais do Brasil, e assinala aquelas em que esse índice é mais alto […], a gente vê logo o morticínio desadorado das criancinhas pobres que se acabam como pinto quando dá um ar no criadeiro. A frutificação inútil das mulheres, os penosos meses de gestação sofridos à-toa, as dores do parto, as noites de insônia com o menino doente que chora, a caminhada sem fim para os raros ambulatórios de socorro – e tudo isso só para dar de comer à terra do cemitérios.”
É preciso dar um fim na triste sina destes pequenos brasileiros. Precisamos fazer o saneamento básico avançar cada vez mais no nosso país.
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