RIO IGUAÇU: FAMOSO PELAS ESPETACULARES CATARATAS E TAMBÉM PELA INTENSA POLUIÇÃO

As Cataratas do Iguaçu, na divisa entre o Brasil e a Argentina, entram na lista dos maiores patrimônios mundiais da natureza. São 275 quedas d’água a partir de um grande degrau rochoso com mais de 80 metros de altura. O sítio natural foi descoberto em 1542 pelo conquistador espanhol Álvar Núñez Cabeza de Vaca, que hispanizou o nome que os indígenas davam às cataratas – y ûasú, ou “água grande”. 

Centenas de milhares de turistas de todo o mundo visitam anualmente a região, que também conta com uma esplendida reserva de Mata Atlântica – o Parque Nacional do Iguaçu, um dos últimos grandes remanescentes do bioma no interior do continente. O que a maioria desses turistas, e também grande parte da população brasileira, não sabe é que no outro extremo de sua calha, o Iguaçu é um rio extremamente poluído – aliás, trata-se do segundo rio mais poluído do Brasil

O rio Iguaçu tem suas nascentes nos contrafortes da Serra do Mar, na faixa Leste do Estado do Paraná, e segue na direção Oeste até o encontro da sua foz, nas Cataratas do Iguaçu, no rio Paraná. Seu curso total tem aproximadamente 1.300 km de extensão – eu costumo chamar o rio Iguaçu de primo-irmão do rio Tietê graças a todo um conjunto de semelhanças. A exemplo do grande rio paulista, o Iguaçu é formado a partir da junção de inúmeros rios menores com nascentes na Serra do Mar. 

Os rios Tietê e Iguaçu foram formados no mesmo período geológico, quando a porção de terra que formaria a atual América do Sul começou a se separar do trecho que formou o continente Africano há, aproximadamente, 165 milhões de anos atrás. O movimento da Placa Tectônica Sul-Americana provocou o soerguimento de uma extensa faixa do litoral na borda Leste, levando a formação da Serra do Mar e forçando vários rios, como o Tietê e o Iguaçu, a correr no sentido Oeste. 

Oficialmente, o rio Iguaçu surge a partir da junção dos rios Atuba e Iraí na divisa dos municípios de Curitiba e Pinhais. O rio Iraí, que tem as suas nascentes na Serra do Mar e é chamado inicialmente de rio Irazinho até a junção com o rio Palmital, atravessa os municípios de Piraquara e Pinhais na Região Metropolitana. O outro rio formador do Iguaçu, o Atuba, tem nascentes localizadas no município de Colombo e percorre 23 km até chegar em Curitiba.  Um outro importante afluente, é o rio Belém. 

A exemplo do rio Tietê, todos esses tributários do rio Iguaçu apresentam águas com boa qualidade antes de entrar na Região Metropolitana. É aqui que os problemas começam – os rios passam a receber grandes quantidades de esgotos in natura e grandes volumes de resíduos e lixo de todos os tipos.

Mesmo na cidade de Curitiba, chamada por muitos de “Capital Ecológica” e onde a empresa de saneamento básico responsável alega coletar e tratar 100% dos esgotos, os inúmeros rios também despejam águas poluídas no rio Iguaçu. 

Como resultado de todo esse conjunto de agressões, o Iguaçu dentro da Região Metropolitana de Curitiba é um rio de águas mortas e quase sem nenhuma vida. Além do trágico problema de poluição de suas águas, as margens de uma grande extensão do rio Iguaçu nas proximidades da Região Metropolitana sofreram muito, e ainda sofrem, com a extração de areia para a construção civil.

Esses processos, iniciados há várias décadas atrás, resultaram na destruição de grandes faixas da mata ciliar, uma vegetação que protege os rios de processos de assoreamento e carreamento de resíduos.  

A história da poluição no rio Iguaçu segue o mesmo roteiro da saga de outros rios que atravessam grandes áreas urbanas: além do já citado rio Tietê em São Paulo, podemos falar do rio Guandu, que atravessa a região da Baixada Fluminense no Estado do Rio de Janeiro; o rio das Velhas na Região Metropolitana de Belo Horizonte; o rio dos Sinos na Região Metropolitana de Porto Alegre e os pernambucanos rios Ipojuca e Capibaribe – não por acaso, todos estes rios entram na lista dos 10 rios mais poluídos do Brasil.  

No rio Iguaçu, a poluição está concentrada na Região Metropolitana de Curitiba, um aglomerado de cidades com uma população na casa de 3,5 milhões de habitantes. Aproximadamente 80% da poluição do Rio Iguaçu é gerada por esgotos domésticos/poluição difusa e 20% por esgotos industriais.

Se você navegar ou andar por este trecho inicial do rio, vai se deparar com todo o tipo de lixo e resíduos descartados pela população: móveis, entulhos e restos da construção civil, eletrodomésticos, pneus, carcaças de automóveis e tudo mais que puder imaginar. 

A receita da tragédia ambiental é a mesma de sempre – as cidades passaram a crescer fortemente a partir da década de 1960, quando imensos contingentes de agricultores resolveram trocar a vida sofrida no campo pelas promessas de uma vida melhor nas cidades.

A Região Metropolitana de Curitiba, da mesma forma que outras importantes cidades brasileiras, começou a experimentar taxas de crescimento urbano fortíssimas, que nem de longe foram acompanhadas pelo crescimento da infraestrutura urbana, especialmente com a criação de redes de abastecimento de água potável e redes coletoras de esgotos com estações de tratamento. 

Diferente de outras grandes cidades brasileiras, que cresceram sem controle como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, e se fundiram às cidades vizinhas formando uma única mancha urbana, a cidade de Curitiba se cercou de grandes áreas verdes para evitar o fenômeno da conurbação.

Quem visita a cidade de Curitiba se surpreende com a grande beleza do lugar, se impressionando com a imensa quantidade de áreas verdes existentes e pelo fato de não encontrar um grande rio poluído como o Tietê ou um Ribeirão dos Arrudas cortando a cidade de um lado a outro.  

Mas o grande problema da poluição das águas existe e se mostra especialmente nos municípios vizinhos, onde grandes bairros surgiram sem a menor infraestrutura e a grande rede de cursos d’água da região acabou transformada num extenso sistema de esgotos a céu aberto. O rio Iguaçu, que corre discretamente nos limites do município de Curitiba, se transformou no destino de todo esse volume de esgotos como sempre acontece com o principal curso d’água de uma bacia hidrográfica.

O rio também passou a receber grande parte do lixo e dos entulhos descartados em terrenos baldios e ruas, que sempre acabam sendo carreados para dentro dos canais de água pelas fortes chuvas. 

Felizmente, o mesmo “milagre” ambiental que limpa as águas do rio Tietê também faz os seus “encantamentos” nas águas do rio Iguaçu. Conforme as águas se afastam das fontes de poluição na Região Metropolitana, processos naturais iniciam intensos processos de depuração, deixando as águas cada vez mais limpas.

As águas passam a receber quantidades cada vez maiores de oxigênio dissolvido, estimulando assim os processos digestivos de colônias de bactérias aeróbicas, que por sua vez são seguidas por bactérias anaeróbicas (que não dependem da presença de oxigênio).  

Plantas aquáticas surgem por todos os lados, ajudando a filtrar a água e retendo os resíduos mais grosseiros. A pouco mais de 100 km da Região Metropolitana de Curitiba, o Iguaçu volta a ser um rio de águas límpidas (o que não quer dizer águas cristalinas) e, assim como seu primo-irmão Tietê, permanecerá com essas características até suas águas desaguarem no grandioso rio Paraná

A situação desses dois grandes e importantíssimos rios deixa bem claro que os problemas estão mesmo é na má gestão que as populações fazem de suas águas. A natureza fez a sua parte muito bem… 

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