O MOSQUITO AEDES AEGYPTI MANDA LEMBRANÇAS

Neste último ano, as notícias e as estatísticas sobre o número de contaminados e de mortos pela pandemia da Covid-19 vêm ocupando a maior parte dos espaços nos meios de comunicação. Desde as grandes “pestes” que assolaram a região Euroasiática na Idade Média ou dos tempos da Gripe Espanhola do início do século XX, nenhuma outra epidemia vem sendo tão devastadora como essa que estamos vivendo com o Corona vírus. 

A importante e dramática exposição da Covid-19, entretanto, tem eclipsado a divulgação de informações sobre doenças “tradicionais” provocadas por um velho conhecido – o mosquito Aedes Aegypti, além de outros mosquitos silvestres. Falo aqui da Dengue, da febre Chikungunya, febre amarela, Síndrome de Guillain-Barré, ZikaMayaro

Muitas dessas doenças vêm apresentando um crescimento preocupante nos casos sem maiores destaques nos meios de comunicação. Um exemplo é o que acontece na Região da Baixada Santista, no litoral de São Paulo. Somente nos primeiros quatro meses de 2021, foram registrados mais de 5.700 casos de Dengue com duas mortes confirmadas. Também foram confirmados mais de 1.900 casos de febre Chikungunya com uma morte confirmada. As cidades de São Vicente, Cubatão e Santos são as mais afetadas por essas doenças

Na cidade de Campinas, município sede da segunda maior Região Metropolitana do Estado de São Paulo, foi detectado um aumento de 104% em apenas três semanas. Foram 529 casos confirmados na primeira semana de abril contra 259 casos confirmados até meados do mês de março. Em cidades de todo o Brasil se repete os casos de doenças associadas aos mosquitos Aedes Aegypti

De acordo com informações do Boletim Epidemiológico de março de 2021 da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, foram notificados 103.595 casos prováveis de Dengue no Brasil neste ano. Esses números representam uma redução de 74,3% em relação aos números registrados em 2020. De acordo com avaliação do Ministério da Saúde, essa redução no número de casos pode ser resultado de uma subnotificação ou atrasos na notificação devido à prioridade dada ao combate da pandemia da Covid-19

O mosquito Aedes Aegypti é originário do continente africano, onde aprendeu a viver próximo dos assentamentos humanos desde milhares de anos atrás. Foi durante o período das grandes navegações europeias que esse mosquito “pegou carona” nas embarcações mercantis, especialmente nos chamados navios negreiros, e chegou ao continente americano, se fixando nas áreas tropicais e subtropicais, do Norte da Argentina até o estado da Flórida, nos Estados Unidos da América. 

O ciclo de vida dos mosquitos apresenta quatro fases distintas – ovo, larva, pupa e inseto adulto, destacando que os três primeiros estágios dependem da presença de água parada, o que nunca faltou nos assentamentos humanos e foi peça chave na predileção do inseto pela nossa companhia. A adaptação do mosquito Aedes aegypti ao convívio com os seres humanos foi tão grande que, de acordo com estudos especializados recentes, o inseto passou também a se reproduzir em águas paradas com altos índices de poluição como nos esgotos, o que explica os grandes níveis de infestações nas cidades brasileiras. 

Água parada e esgotos são encontrados em abundância nas cidades brasileiras: 

– Problemas nas redes de abastecimento de água em muitas cidades obrigam as populações a armazenar água nos mais diferentes tipos de recipientes: panelas, latas, latões, tambores e barris, entre outros. Sem maiores cuidados, esses recipientes podem se transformar em verdadeiros criadouros de mosquitos; 

Esgotos correndo a céu aberto e/ou eliminados de forma improvisada são facilmente encontrados nas nossas cidades, facilitando a formação de represamentos e poças, que atrairá as fêmeas dos mosquitos que buscam locais apropriados para a colocação dos ovos; 

– Os sistemas de drenagem de águas pluviais, sem manutenção e limpeza periódicas, são potenciais criadouros de mosquitos pois podem permitir a formação de represamentos e empoçamentos de água; 

– Os resíduos sólidos descartados incorretamente podem acumular a água da chuva e possibilitar a formação de importantes criadouros do mosquito. A lista inclui pneus, latas, embalagens plásticas e entulhos da construção civil; até cascas de ovos e tampinhas de refrigerante têm potencial para reter pequenas quantidades de água das chuvas e abrigar criadouros de mosquitos. 

Além da Dengue, os mosquitos Aedes Aegypti também são transmissores da febre amarela, que é causada por um arbovírus que também é transmitido por outras espécies de mosquitos silvestres. A febre amarela já foi responsável por grandes epidemias nas cidades brasileiras como no Rio de Janeiro do início do século XX. Após diversos esforços na área do saneamento básico, os casos foram bastante reduzidos, mas a doença frequentemente continua sendo diagnosticada nas cidades brasileiras. 

A febre Chikungunya tem sintomas muito parecidos com a Dengue, sendo transmitida pela picada de mosquitos contaminados com o vírus CHIKV. De acordo com o Ministério da Saúde, foram notificados 7.778 casos prováveis de Chikungunya no Brasil em 2021, uma taxa de incidência de 3,7 casos / 100 mil habitantes

O primeiro surto do vírus da Zika no Brasil foi identificado em 2015. Em 2021, foram notificados 448 casos suspeitos, uma taxa de incidência de 0,21 casos / 100 mil habitantes. No final de 2015 o vírus foi isolado em um bebê recém-nascido com microcefalia – estudos posteriores comprovaram a associação do vírus com o nascimento de crianças com a doença, o que chamou a atenção de todo o mundo para a gravidade da situação. Estudos científicos em andamento estão associando o vírus da Zika com o nascimento de bebês cegos.   

A síndrome de Guillain-Barré é uma doença auto imune que provoca uma fraqueza muscular de aparecimento súbito, causada pelo ataque do sistema imunológico ao sistema nervoso periférico. O vírus da Zika é um dos transmissores da doença. 

De alguns anos para cá, os noticiários passaram a falar do vírus Mayaro, que provoca uma doença caracterizada por uma febre hemorrágica similar à Chikungunya. Esse “novo” vírus também é transmitido pelo mosquito Aedes aegypti e é uma das mais novas preocupações das autoridades médicas e sanitárias do Brasil. 

A pandemia da Covid-19 é extremamente grave e requer o máximo cuidado de todos nós com as medidas de prevenção: distanciamento social, uso de máscara e assepsia das mãos, entre muitas outras. Entretanto, é fundamental que não nos esqueçamos das epidemias “já tradicionais” aqui do nosso país e que requerem seus cuidados específicos. 

Uma das medidas de prevenção das mais eficientes é combater os focos de proliferação dos mosquitos: as poças de água de água parada nos quintais e terrenos baldios, além das caixas d’água e outros reservatórios destampados

Já que muitos de nós estamos sendo obrigados a passar muito tempo confinados em nossas casas por causa da pandemia da Covid-19, talvez não seja uma má ideia gastar algum tempo fazendo uma boa limpeza em nossos quintais. 

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