
Os Pampas ou Campos Sulinos ocupam uma área com aproximadamente 176 mil km² no extremo Sul do Brasil, formando o menor bioma brasileiro. Esse bioma atravessa fronteiras, ocupando praticamente todo o território do Uruguai e cerca de ¼ do território da Argentina. Nesses países o bioma é conhecido como La Pampa.
A palavra pampa é de origem indígena e significa planície. Seus terrenos são suavemente ondulados, formando elevações chatas na forma de tabuleiros – as coxilhas. A vegetação mais abundante é a de gramíneas, intercaladas por pequenos bosques e capões esparsos. Esses terrenos recebem bons volumes de chuvas nos verões e abrigam numerosos rios e riachos, conhecidos na região Sul como arroios.
Os terrenos são bastante arenosos, sendo cobertos por uma fina camada de terra de excepcional fertilidade. No Brasil, os pampas sempre foram sinônimo de boas pastagens para a criação de gado, atividade econômica principal do Rio Grande do Sul por mais de 300 anos. Desde meados do século XIX que a agricultura passou a ganhar espaço na economia local, iniciando uma série de problemas ambientais no bioma.
Um marco na agricultura gaúcha foi a implantação da cultura da soja na década de 1920. O clima subtropical do extremo Sul brasileiro é semelhante ao clima temperado de regiões do Hemisfério Norte onde a soja se desenvolvia bem. O avanço da cultura da soja foi acompanhado do forte crescimento das culturas do trigo, milho e arroz, transformado o Rio Grande do Sul num dos celeiros de grãos do país.
O avanço das frentes agrícolas, entretanto, passou a expor, de forma cada vez mais acentuada, a fragilidade dos solos do bioma. Já na década de 1960, os agricultores gaúchos passaram a observar o surgimento de grandes manchas de areia em suas propriedades. Essas manchas não apresentavam vegetação e sofriam fortemente com a erosão nos períodos das chuvas. Muito afirmavam há época se tratar de processos de desertificação.
No final da década de 1980, pesquisadores gaúchos alteraram a denominação para arenização, afirmando que os grandes volumes de chuvas que caem sobre a região tornam inadequado o uso do termo desertificação. Esses processos atingem hoje um total de 10 municípios gaúchos: Alegrete, Cacequi, Itaqui, Maçambara, Manoel Viana, Quaraí, Rosário do Sul, São Borja, São Francisco de Assis e Unistalda.
Além da destruição dos campos, essa arenização vem afetando importantes cursos d’água da região. As fortes enxurradas nos períodos das chuvas carreiam grandes volumes de areia para a calha dos rios, um problema que se reflete cada vez mais em problemas para o abastecimento de cidades e também na captação da água por sistemas de irrigação de lavouras agrícolas. Em muitas áreas o problema não para de crescer.
Essas regiões apresentam como característica dominante uma fina camada de solo fértil sobre uma camada espessa de solos extremamente arenosos, assentadas sobre os granitos da formação Botucatu. Com a superexploração dos solos pela pecuária e, em décadas mais recentes, pela produção de grãos, essa fina camada de solo fértil acabou sendo destruída pela erosão e a camada de solo arenoso foi exposta.
Esses solos, que são extremamente frágeis, passaram a apresentar grandes voçorocas ou fendas, chamadas de ravinas no Sul. Além da erosão causada pelas chuvas, esses solos arenosos também são erodidos pelos ventos, que espalham as areias por grandes extensões de campos, aumentando assim as áreas em processo de arenização.
Uma estratégia que foi usada como uma tentativa de conter o crescimento desse fenômeno foi cercar as áreas com plantações de eucaliptos e pinus. Apesar do relativo sucesso dessa medida, a produção dessas madeiras na região esbarra na grande distância em relação às fábricas que utilizam essa matéria prima, o que implica em grandes custos de logística para o transporte.
Muitos pesquisadores afirmam que a arenização dos Pampas pode surgir independentemente do tipo de uso que se dá aos solos, porém, são unanimes em afirmar que a pecuária e a agricultura intensificam esse processo. Existem diversos estudos em andamento buscando entender a dinâmica da arenização e as melhores alternativas para combater os seus efeitos.
De acordo com os números mais recentes, as áreas em processo de arenização no Sudoeste do Rio Grande do Sul somam mais de 130 mil hectares. Parte dessas áreas ainda são cobertas com algum tipo de vegetação, mas, pelo menos, 20 mil hectares são totalmente descobertos, ou seja, despidos de qualquer tipo de vegetação.
Outro problema ambiental importante da região é a destruição dos banhados, um ecossistema típico do Extremo Sul do Brasil. Os banhados são ricos em vida e podem ser comparados aos bancos de corais dos oceanos. Funcionando como uma espécie de “esponja natural”, as áreas de banhados acumulam grandes volumes de água nos períodos de chuva, auxiliando inclusive no controle das cheias dos rios; nos períodos de seca, fornecem água para as lagoas, garantido a sobrevivência de um sem-número de espécies animais e vegetais.
Existem aproximadamente 600 espécies de aves identificadas no Rio Grande do Sul, das quais, aproximadamente 1/3 utilizam as áreas de banhados em algum momento de suas vidas. Cerca de 100 espécies de aves, de espécies nativas e migratórias, utilizam as áreas de banhado para nidificar. Também são inúmeras as espécies de peixes, mamíferos, répteis, anfíbios, crustáceos e insetos que tem como habitat as áreas de banhado.
Essa pujança da vida animal está ligada à grande disponibilidade de alimentos nos banhados. Seus solos úmidos são ricos em matéria orgânica, resultante da decomposição dos juncos e gramíneas – essa excepcional fertilidade dos solos também tornou essas áreas em alvo para a expansão das fronteiras agrícolas, especialmente para o plantio do arroz.
Um exemplo é o Banhado Grande, a região que concentra as nascentes do rio Gravataí. Esse banhado vem sendo ocupada por grandes extensões de cultivos agrícolas, especialmente arroz, desde a década de 1940. Inicialmente, os produtores passaram a abrir redes de canais para a irrigação de suas plantações – esses canais passaram a funcionar como drenos, reduzindo gradativamente as áreas encharcadas e aumentando as áreas agricultáveis, que avançaram sem controle contra as terras dos banhados.
Esses problemas colocam o bioma Pampa na segunda posição entre os mais devastados do Brasil, só ficando atrás da Mata Atlântica. Ou seja – não é preciso ser grande em termos de área para ser um dos campeões em destruição ambiental.