Ao longo de toda essa segunda-feira, dia 10 de fevereiro, os telejornais de São Paulo mostraram imagens das enchentes que tomaram parte expressiva da cidade de São Paulo e municípios da Região Metropolitana. Pistas bloqueadas, trens paralisados, pessoas andando com água na altura dos joelhos, córregos e rios invadindo grandes avenidas, entre outras cenas do caos urbano que tomou conta da Região.
Um tipo de imagem que não passou despercebida foram as grandes quantidades de lixo e detritos que estavam sendo arrastados pelas fortes enxurradas e se acumulavam em alguns trechos das áreas alagadas ou que flutuavam nas águas dos rios e córregos. Pode até não parecer, mas os resíduos sólidos gerados pelas cidades têm um papel importante na formação de pontos de alagamentos e enchentes localizadas.
As cidades são grandes geradoras de resíduos sólidos ou lixo, na linguagem mais popular. Cada brasileiro gera em média, aproximadamente, 1,3 kg de resíduos a cada dia. São restos e cascas de alimentos, embalagens, produtos eletrônicos quebrados e eletrodomésticos antigos, roupas velhas, entre outros materiais. As Prefeituras das cidades precisam fazer pesados investimentos para a coleta de resíduos, varrição de ruas e transporte dos materiais coletados até uma destinação final adequada, o que nem sempre acontece.
A Região Metropolitana de São Paulo gera diariamente 27 mil toneladas de resíduos sólidos, sendo que 70% desse volume correspondem aos resíduos da construção civil e sobre os quais falaremos em uma outra postagem. A cidade de São Paulo, sozinha, gera 20 mil toneladas de resíduos a cada dia, sendo que 12 mil toneladas correspondem aos resíduos da varrição e da limpeza de áreas públicas. São justamente esses resíduos descartados de maneira incorreta pela população os principais responsáveis por alagamentos e enchentes localizadas.
Descartados de forma irregular, esses resíduos são arrastados pelas enxurradas na direção das bocas de lobo e tubulações do sistema de drenagem de águas pluviais, bloqueando a passagem de água e inutilizando os sistemas. Também chegam aos canais naturais de drenagem, que são os córregos, riachos e rios, onde se juntam a grandes volumes de areia, cascalho e outros detritos. Esses resíduos vão se acumulando em camadas e reduzindo gradativamente a capacidade de vazão dos corpos d’água.
Quando chove um pouco mais forte, a correnteza arrasta parte desses resíduos, onde também se juntam uma infinidade de sacos plásticos com lixo doméstico e resíduos diversos. Esse turbilhão de resíduos pode estrangular trechos mais estreitos dos corpos d’água, obstruir tubulações de drenagem ou simplesmente ficam entalados sob pontilhões, o que bloqueia a correnteza e gera um grande alagamento localizado.
Um receptor de grande parte desses resíduos sólidos na Região Metropolitana de São Paulo é o rio Tietê, o principal canal de drenagem regional. Há poucos dias divulgamos a notícia de um investimento de R$ 55 milhões por parte do Governo do Estado de São Paulo destinado a serviços de dragagem e limpeza da calha do rio. Os técnicos estimam que serão retirados mais de 500 mil m³ de resíduos num trecho de 41 km dentro da área metropolitana. Esse é um trabalho que é feito continuamente, ano após ano.
Na década de 1990, o Governo do Estado de São Paulo iniciou um grande programa de rebaixamento da calha do rio Tietê. Conforme comentamos em outras postagens, esse rio sofreu grandes modificações em sua calha, que passou de um continuo de curvas sinuosas para uma calha reta, de forma a liberar as extensas áreas das várzeas para a especulação imobiliária. Entre outras consequências, a retificação do Rio Tietê resultou em ciclos de enchentes nos bairros mais baixos da cidade – o projeto de rebaixamento da calha do Tietê veio a ser mais uma tentativa de reduzir essas enchentes.
Durante os trabalhos no rio Tietê, grandes quantidades de resíduos foram retiradas da sua calha. Foram içadas inúmeras carcaças de carros, geladeiras, fogões, móveis, latas, todos os tipos de resíduos plásticos e milhares de pneus – cerca de 20 mil unidades foram retiradas junto com o lodo e os entulhos do fundo da calha. As montanhas de pneus velhos nas margens do rio se transformaram em uma espécie de ícone do descaso da população com os corpos d’água da cidade.
E não são só os grandes rios que sofrem com o aporte de grandes volumes de resíduos – os pequenos córregos e riachos que cruzam as periferias das cidades da Região Metropolitana são transformados em verdadeiras latas de lixo pelas populações, ficando com seus leitos completamente entulhados e sem espaço para receber a água das chuvas. A população afirma que faz isso devido à falta de serviços de coleta de resíduos por parte das Prefeituras. As Prefeituras reagem e afirmam que mantém uma coleta regular em todos os bairros. Em meio a essa briga entre populações e Prefeituras, os canais de drenagem permanecem obstruídos e os bairro sujeitos a grandes inundações.
Outro foco de atrito entre os resíduos e as águas pluviais são os lixões e aterros irregulares de resíduos. Esses locais costumam receber todo o tipo de resíduos, desde de restos de alimentos, materiais orgânicos de todos os tipos, materiais sólidos, óleos, graxas, tintas, produtos químicos e contaminantes. A Política Nacional de Resíduos Sólidos, publicada em 2010, previa a eliminação desses locais até o ano de 2014, o que não aconteceu. Estima-se que ainda existam mais de 3 mil aterros clandestinos e lixões irregulares por todo o Brasil. Sem o devido cuidado, os resíduos recolhidos são abandonados de qualquer jeito nesses locais e acabam sendo carreados pelas chuvas na direção dos corpos d’água.
Quando cai uma chuva mais forte em uma cidade com ruas repletas de resíduos e com os seus sistemas de drenagem e canais obstruídos, não se pode esperar outra coisa senão enchentes generalizadas. Conforme a chuva vai caindo, a força da gravidade faz o seu papel, conduzindo a água para os terrenos mais baixos – não existe força na natureza que consiga deter essa água e os estragos que ela pode fazer.
As chuvas, conforme já cansamos de falar em outras postagens, são eventos naturais que ocorrem com relativa frequência em um país com clima majoritariamente tropical e equatorial como é o caso do Brasil. A previsibilidade da chegada das chuvas, ano após ano, é um motivo a mais para as cidades estarem devidamente preparadas, o que infelizmente quase nunca acontece. As enchentes que assistimos na Região Metropolitana de São Paulo nos últimos dias são uma prova eloquente desse descaso.
As principais causas das grandes enchentes urbanas são bem conhecidas: os desmatamentos, a ocupação das encostas de morros, a impermeabilização intensa dos solos, a canalização indiscriminada de córregos e ribeirões, a realização de obras viárias em antigas áreas de várzeas e vales de rios e córregos, entre outras. Reverter ou remediar esses problemas é bastante complicado do ponto de vista técnico e também financeiro. Agora, manter bons serviços de coleta de resíduos e de varrição de ruas, dando uma destinação adequada aos resíduos em aterros sanitários regularizados, é bem mais fácil e pode ajudar bastante na redução dos pontos de alagamentos e nas enchentes localizadas.
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[…] e quantidades tão grandes de resíduos largados pelas ruas e avenidas podem resultar nas famosas enchentes e alagamentos, algo que pode estragar a festa de muita […]
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