O “LIXO” DOMÉSTICO NOSSO DE CADA DIA

leite-em-garrafas

Aqui em São Paulo, até o começo da década de 1970, o leite era vendido nas padarias em garrafas de vidro de um litro (as garrafas mostradas na foto são originais da época). Lembro perfeitamente que na padaria vizinha de casa era possível comprar até ½ litro de leite – o balconista abria a garrafa enchia gradativamente uma outra até que o nível nas duas estivesse igual – não sei se muitos dos leitores mais jovens chegaram a conhecer esse tipo de embalagem.

Também não me esqueço de um tropeço que sofri descendo as escadas do meu prédio quando estava indo buscar leite na padaria com duas garrafas nas mãos – com a queda, as garrafas estilhaçaram nos degraus e, para evitar o pior, me apoiei com todas as minhas forças sobre as minhas mãos: sofri inúmeros cortes profundos nos dedos e nas palmas das mãos – tenho três impressões digitais parciais por causa desse acidente. Coincidência ou não, pouco tempo depois as garrafas de vidro deram lugar ao saquinho plástico de leite de um litro.

Essa pequena viagem ao passado é, no meu caso, um marco do início da era dos plásticos nas embalagens e do aumento do volume do “lixo” doméstico (uso as aspas aqui porquê na nomenclatura atual são resíduos sólidos). Mesmo sendo descartável, esses saquinhos plásticos eram reaproveitados pela população: minha Vó Dora abria esses saquinhos e costurava as peças, transformando-as em toalhas de mesa e cortinas para uso na sua casa do sítio.

Ainda na linha saudosista, se é que se pode falar assim, os resíduos domésticos da época eram colocados na rua para a coleta em grandes latas metálicas – uma lata de vinte litros era suficiente para comportar os resíduos de uma família grande como a minha (8 pessoas). Os resíduos eram latas, papel de embrulho e jornal (muito usado em embalagens), vidros, papel higiênico e muitas casca das fruta, dito no nosso dialeto paulistano. Hoje, é muito provável que cada um de vocês produza individualmente esse volume de resíduos diariamente.

Essa percepção pessoal do aumento da quantidade de resíduos produzidos nas residências pode ser comprovada por estudos especializados – de acordo com a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), o volume de resíduos gerados no Brasil entre os anos de 2.003 e 2.014 aumentou 29%, uma taxa de crescimento cinco vezes maior que o aumento da população no período, que foi de apenas 6%. O brasileiro médio atual gera aproximadamente 1,062 quilo de lixo ao dia.

São produzidos diariamente no Brasil 250 mil toneladas de resíduos sólidos, metade deste volume é formado por resíduos domiciliares. Pouco mais da metade (53%) deste volume é encaminhado para os chamados aterros sanitários, 23% vai para os aterros controlados, 20% para os lixões e apenas 2% vai para a compostagem e reciclagem – por esses números é possível ter uma visão global do problema dos resíduos sólidos. Nossa sociedade moderna se especializou em produzir lixo. Peço a você que tem um pouco mais de paciência para aprender coisas novas que entre nesse link e veja o excelente vídeo A HISTÓRIA DAS COISAS – ele abrirá seus olhos para a complexidade ambiental do consumismo e a geração desenfreada de resíduos no mundo moderno.

Se o fenômeno do aumento da produção de resíduos sólidos é uma tendência mundial, aqui no Brasil o problema tem cores mais sombrias dada a incapacidade dos Governos nos três níveis (Municipal, Estadual e Federal) em lidar com o problema. Aterros clandestinos crescem sem controle, cursos d’água ficam cada dia mais entulhados e doenças de veiculação hídrica como a Dengue, a Zika e a Chikungunya crescem exponencialmente em algumas regiões – muitos resíduos acumulam a água das chuvas e se transformam em criadouros de mosquitos transmissores dessas doenças.

As formas do cidadão comum ajudar na redução destes volumes absurdos de resíduos sólidos são a redução no consumo, a reutilização de materiais e de produtos e a reciclagem dos resíduos – são os 3 Rs. Um bom exemplo dentro da nossa área dos recursos hídricos é a reciclagem do papel – cada tonelada reciclada economiza 10 mil litros de água e evita o corte de 17 árvores.

Continuamos no próximo post.

Em tempo – esse é o meu post número 100: quem diria!

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