DENGUE, CHIKUNGUNYA, FEBRE AMARELA, SÍNDROME DE GUILLAIN-BARRÉ, ZIKA E MAYARO, OU AS “PESTES” URBANAS DO SÉCULO XXI

peste-negra

Durante vários milênios, as chamadas “pestes” foram um dos piores pesadelos das antigas cidades. Sem qualquer aviso prévio, surgiam os sintomas da doença – manchas ou erupções na pele, febres, diarreias, vômitos entre outras manifestações físicas; logo depois, as pessoas começavam a morrer, criando verdadeiras ondas de pânico na população. Muitos acreditavam ser uma “vingança” de Deus pelos pecados praticados pelos moradores da cidade, outros se tratar de miasmas (os povos antigos acreditavam que as doenças eram transmitidas por alguns tipos de gases liberados por matérias em putrefação, os miasmas).

A história registra inúmeras “pestes” em cidades de todo o mundo, provocadas por surtos de cólera, gripe, varíola, tifo, entre outras doenças. Uma das mais terríveis pandemias enfrentadas pela humanidade foi a Peste Negra (bubônica) que, apenas no surto do ano de 1394, matou um quarto da população da Europa. No final do século XIX cientistas isolaram a bactéria Yersínia pestis e ficou comprovado que ela era a causadora da doença. Descobriram também que a bactéria era transmitida ao homem pelas pulgas do rato preto, o que abriu caminho para o controle da doença. 

O contínuo desenvolvimento científico e tecnológico resultou na criação de vacinas e medicamentos que, aliados aos avanços nas áreas do saneamento básico e da educação, possibilitaram a prevenção e o controle de inúmeras doenças, salvando milhões de vidas. Durante décadas vivemos a certeza que as “pestes” era um mal que havia ficado no passado.

Aqui no Brasil, infelizmente, involuímos neste quesito e voltamos a conviver com “pestes” urbanas que acreditávamos erradicadas desde a época do médico sanitarista Oswaldo Cruz e da Revolta da Vacina de 1904. Na época, a cidade do Rio de Janeiro tinha uma população de mais de 800 mil habitantes e era constantemente assolada por surtos de febre amarela, varíola, peste bubônica, malária, tifo e tuberculose. Oswaldo Cruz implementou um ambicioso plano de saneamento e de higienização ambiental,  além de criar um verdadeiro exército de matadores de mosquitos. Algumas iniciativas terminaram em violência quando a população se revoltou contra a obrigatoriedade da vacinação contra a varíola. Os embates resultaram em, pelo menos, 30 mortos, 110 feridos e 945 prisões. O mosquito Aedes aegypti, que foi um dos alvos prioritários do plano de higienização de Oswaldo Cruz, chegou a ser considerado como erradicado; nas últimas décadas, porém, o mosquito voltou a recolonizar o Rio de Janeiro e grande parte do país, trazendo em sua esteira, mais uma vez, os riscos de transmissão de várias doenças:

Além da conhecida febre amarela urbana, o mosquito Aedes aegypti passou a transmitir a Dengue, identificada pela primeira vez no Brasil em 1986 e conhecida desde então pelos sucessivos surtos a cada novo Verão – em 2016 contabilizamos 1.487.673 (até 12/12/2016) casos prováveis de Dengue no Brasil.

A febre Chikungunya tem sintomas muito parecidos com a Dengue, sendo transmitida pela picada de mosquitos contaminados com o vírus CHIKV. Em 2016 foram registrados 263.598 casos prováveis da febre no país

O primeiro surto do vírus Zika no Brasil foi identificado em 2015;  em 2016 foram informados mais de 170 mil casos suspeitos. No final de 2015 o vírus foi isolado em um bebê recém-nascido com microcefalia – estudos posteriores comprovaram a associação do vírus com o nascimento de crianças com a doença, o que chamou a atenção de todo o mundo para a gravidade da situação. Estudos científicos em andamento estão associando o vírus da Zika com o nascimento de bebês cegos.  

A síndrome de Guillain Barré é uma doença auto imune que provoca uma fraqueza muscular de aparecimento súbito, causada pelo ataque do sistema imunológico ao sistema nervoso periférico. O vírus Zika é um dos transmissores da doença.

Recentemente, os noticiários passaram a falar do vírus Mayaro, que provoca uma doença caracterizada por uma febre hemorrágica similar à Chikungunya. Esse “novo” vírus é transmitido pelo Aedes aegypti e é a mais nova preocupação das autoridades médicas e sanitárias do Brasil.

Os ratos foram os vilões de grandes pestes na antiguidade – o posto agora é do Aedes aegypti. No próximo post vamos falar dos diversos fatores que permitem a perpetuação do mosquito Aedes aegypti.

19 Comments

  1. […] Não menos importantes para o saneamento básico, são os serviços de limpeza urbana e destinação dos resíduos sólidos, questões que grande parte de nossas cidades ainda não conseguiram equacionar. Existem perto de 3 mil grandes lixões por todo o país, onde resíduos sólidos de todo os tipos, incluindo-se resíduos perigosos como os hospitalares, industriais e da construção civil, são simplesmente abandonados sem maiores preocupações. Batalhões de catadores de “recicláveis” se aventuram diariamente nesses locais, buscando materiais que possam ser revendidos e transformados no seu sustento diário. Resíduos sólidos descartados de forma irregular ou abandonados nas ruas e em terrenos baldios favorecem o crescimento das populações de vetores – insetos como mosquitos e baratas, ratos, escorpiões e aranhas, entre muitos outros, transmitindo toda uma série de doenças para as populações. […]

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